Yola Mamani é trabalhadora assalariada doméstica e radialista. Juntamente com sete de suas companheiras, dirige o programa radial "Sou trabalhadora doméstica com orgulho e dignidade”, transmitido diariamente pela Radio Deseo. Sua finalidade é denunciar as diferentes formas de exploração trabalhista a que as mulheres estão expostas.
A partir desse espaço, é possível que apóiem outras trabalhadoras domésticas que sofrem violência; elas fazem parte de um dos setores mais discriminados na Bolívia, porque são emigrantes do campo e não dispõem de outra opção de trabalho. A maioria vive na casa da empregadora, o que implica em um trabalho sem horários.
Ela começou a trabalhar aos nove anos de idade. Hoje, aos 28, identifica em suas companheiras as mesmas experiências que viveu e que a converteram em uma mulher lutadora. Por isso, parte de sua rotina é acompanhar mulheres que foram demitidas e apresentar denúncias ao Ministério do Trabalho, a entregar citações ou a recolher seus pertences nas casas onde viviam.
Que tipo de violências sofrem as trabalhadoras assalariadas domésticas?
As mais visíveis são a física e a psicológica, tanto da empregadora quanto do empregador, e também do próprio Ministério do Trabalho. Quando se quer fazer uma denúncia te pedem provas; porém, isso não é possível quando se trata de acosso ou te insultam dizendo: "índia linguaruda e mal agradecida”. É também violência quando te despedem de surpresa, apesar de que a lei estabelece que deve haver um aviso prévio.
Quando és criança, te golpeiam; não podes te defender... só choras; puxam teu cabelo, te beliscam, te empurram; assim fazia minha empregadora. Nunca a denunciei; aquilo me parecia normal. Em uma casa, é como se tua mãe te batesse porque fizeste algo mau, mesmo que não tenhas feito.
Tampouco te pagam o que te corresponde. O salário é baixo, 500, 600, 800 bolivianos, apesar de que o salário mínimo nacional é de 1.000 bolivianos (uns 140 dólares); às vezes, o pagam em quotas; não pagam o 13º salário, nem os benefícios sociais; não querem dar férias ou não permitem o dia de descanso semanal.
Consideras que não deixá-las estudar é uma forma de violência?
Sim; tens que brigar caso queiras estudar. Eles te dizem: "para que vais estudar, se vais para a cozinha?” É uma forma de violência que ninguém leva em consideração.
Que casos de violência contra tuas companheiras tu já presenciaste?
São muito parecidos aos que eu mesma vivi; à minha história e isso me dá forças para apoiá-las. Muitas somente querem ser escutadas, porque o trabalho as isolou de sua família. Ou pedem orientação sobre benefícios sociais porque fazem com que acreditem que, por não ser funcionárias públicas, não têm esses direitos.
Que deveriam fazer as trabalhadoras domésticas?
Primeiro, devem assumir que têm direitos. Muitas dizem "minha chefa me trata bem; me dá pelo menos um teto”. No programa de rádio, além das denúncias, também divulgamos os direitos. Em geral, não quero falar das obrigações, porque a empregadora sempre te recorda esses pontos.
O Ministério do Trabalho não ajuda e o resultado é que por 300 bolivianos tens que ir a julgamento e as companheiras vêm chorando buscar apoio. Os conciliadores nos dizem: "resolvam entre vocês; tanto tempo vivendo juntas”. Então, eu digo: "onde está escrito na lei que os direitos devem ser negociados? Está escrito que direitos são irrenunciáveis”. Porém, não fazem nada e nós temos que defender-nos da exploração no trabalho, que é outra forma de violência.
Fonte: Adital
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