quinta-feira, 19 de abril de 2012

A indústria do sexo é repulsiva, mas não pode ser ignorada


 Duas histórias sobre prostituição vieram a público nesta semana e, apesar das risadinhas e do beicinho, uma solução parece remota. A primeira foi a das freiras dançarinas que se contorceram, inevitavelmente, na frente de Silvio Berlusconi para, se elas eram freiras particularmente sensuais aos olhos daquele velho viciado em sexo, pilhas de euro. A piada é — adivinha? Elas não eram freiras. A segunda envolveu os agentes secretos de Barack Obama que, em uma viagem a Colômbia, utilizaram os serviços de prostitutas e estão agora em desgraça. Um deles aparentemente se recusou a pagar e de todas as desculpas que o House Homeland Security Committee pediu, nenhuma foi à prostituta.

‘Agentes do Governo Honrados Emboscados por Estrangeiras Promíscuas’ já é a narrativa emergente, apesar de que ‘Vote Democratas para um Mundo Cheio de Prostitutas’ está obviamente a caminho. Além de repetir a piada de Berlusconi — “Quando perguntadas se gostariam de fazer sexo comigo, 30% das mulheres disseram ‘sim’, enquanto 70% responderam, ‘O quê, de novo?’” — o que dizer de prostituição na era da terceira-onda feminista? O que, neste caso, constitui liberdade?
O problema, como a Dra. Brooke Magnanti, antes conhecida como a escort Belle de Jour, aponta em seu livro The sex myth (O mito do sexo), é informação precisa. Sem ela, estamos simplesmente gritando um com o outro. A prostituição é notoriamente difícil de avaliar porque boa parte da verdade é oculta; o resto é lixo da lascívia e da fantasia, que a série de TV das memórias de Magnanti, Secret Diary of a Call Girl, tanto incitou. Alguns estudos alegam que vício em drogas, abuso sexual e físico e morte prematura são a pensão inevitável da prostituta. A pesquisa de 2003 “Prostituição e tráfico em nove países: uma atualização em violência e transtorno de estresse pós-traumático”, afirma que entre 70% e 95% das entrevistadas foram agredidas fisicamente enquanto trabalhavam como prostitutas; 60% a 75% foram estupradas; e 65% a 95% foram abusadas sexualmente na infância antes de virarem prostitutas.
Outros relatos insistem que esses estudos estão poluídos pela super-amostragem de prostitutas de rua, e que existem muitas experiências felizes de prostituição. Magnanti evoca um mundo no qual prostitutas são bem pagas e independentes, temendo principalmente censura e criminalização.
Em sua mente é uma aliança de feministas e conservadores religiosos que ameaça a segurança de prostitutas mais do que proxenetas, fregueses e psicopatas. O estudo “Além do gênero um exame da exploração no trabalho sexual” vira, ela diz, “quase tudo que pensamos que sabemos sobre trabalho sexual de cabeça pra baixo”, mesmo que você tenha visitado o PunterNet, o diretório online de prostitutas, e engasgado na história que ele conta. Mais da metade das entrevistadas para o estudo disseram que “transações comerciais sexuais são relacionamentos de igualdade”; 77% “achavam que seus clientes as tratavam com respeito”, e apenas 3% planejavam parar em três anos, contradizendo o relato de 2003 que dizia que 89% queriam sair.
Parece que as informações sobre prostituição mudam dependendo de a quem, como e onde você pergunta, o que novamente deixa uma segunda e terceira onda de feministas debatendo. Quem é o real abusador de prostitutas — o salvador, que prefere que elas desapareçam, ou o defensor, que prefere que elas se multipliquem?
Seria fácil repudiar Magnanti como uma viciada em sexo buscando validar suas escolhas, mas as passagens onde ela diz que seu status como ex-prostituta desvaloriza seu testemunho para alguns são dolorosas de ler, mesmo que falte um pouco de objetividade às vezes. No capítulo sobre pornografia, ela diz que a ausência de posições convencionais em filmes pornográficos prova que eles são dedicados ao prazer feminino, quando eu suspeito que é simplesmente porque há pouco para se ver. Ela insiste que o foco nas mulheres nesses filmes evidencia respeito quando, por serem feitos principalmente para homens, elas sempre seriam o foco. Ela também cita algumas pornógrafas ricas como prova de que a indústria não é inerentemente exploradora.
Magnanti vê a indústria do sexo com a benevolência de uma advogada. Ela parece obcecada como os benefícios financeiros da prostituição ao invés de com o custo emocional. Ela também acredita que o direito de vender o próprio corpo deveria estar ao lado de outros direitos, mesmo quando ela reconhece que como uma mulher de classe média em uma democracia progressiva ela pôde fazer essa escolha. Com o lançamento do The sex myth, parece que sabemos menos do que antes; estudos de países que experimentaram a descriminalização têm conclusões conflitantes.
 Então, o que fazemos? A verdade de que a prostituição possa ser a melhor escolha econômica para algumas mulheres é repulsiva, mas não se pode fechar os olhos para isso. Neste aspecto Magnanti emerge como uma realista, enquanto que seus críticos, bem-intencionados ou não, condenam mulheres a pobreza e à criminalidade. Há um argumento aqui para as políticas que ela acha tão estúpidas — um fim para a disparidade salarial, para desigualdade de gênero, segregação ocupacional, todos os quais tornariam mulheres ricas e mais poderosas e ampliariam suas escolhas além do inferno do PunterNet.
As desgraças das prostitutas de rua são obviamente uma questão de política social, Magnanti insiste, sempre existirão mulheres que querem virar prostitutas e homens que querem usá-las. Elas merecem uma justiça criminal rigorosa dedicada a sua proteção ou não? A resposta, é claro, é um amargo sim.
Fonte:  Tanya Gold    http://opiniaoenoticia.com.br

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