“Troquei a bebida pela pintura”
Em julho de 2009 O Grito Mulher entrevistou a Lilian. Naquela época ela fazia programas nos hotéis da zona boemia e começava a conhecer a Pastoral da Mulher, participando de um curso de pintura. Dois anos depois muitas coisas mudaram. Hoje Lilian está a frente do grupo de geração de renda “Começar de Novo”, um empreendimento organizado e gerenciado pelas próprias mulheres, assessoradas e apoiadas pela Pastoral da Mulher de Bh, com o objetivo de produzir e comercializar bolsas artesanais e produtos de pet reciclados e ecologicamente corretos . O grupo está inserido no Fórum de Economia Solidaria e tem participado com sucesso de diversas feiras em MG
OS COMEÇOS
Fui à Pastoral e me interessei pelo curso de pintura. A I. Leonira foi quem me ensinou e me apoiou nos inicios. Naquela época bebia muito, e aí comecei parar de beber para poder comprar material de pintura. Nisso todo o mundo viu que tinha talento e fiz outros cursos até interessar-me pelas bolsas. Como sou muito apavorada já falei logo que queria montar uma cooperativa. Aos poucos conseguimos montar o grupo Começar de Novo, inicialmente com 5 pessoas, infelizmente as outras não prosseguiram e só eu continuei.
AS PRIMEIRAS DIFICULDADES
As brigas e conflitos entre nós. A gente não conseguia se entender sem virar uma concorrência. As pessoas não prepararam a cabeça para poder trabalhar em grupo. Infelizmente nós somos muito individualistas lá no hotel. Além disso, o aspecto financeiro também mexeu seriamente. A gente estava acostumada nos hotéis a receber em ocasiões R$ 300,00 por dia, e a nossa primeira venda foi de R$ 56,00 para repartir entre 5. Enquanto teve esse dinheiro foi uma decepção.
A DESCOBERTA DAS PRÓPRIAS POTENCIALIDADES
Foi uma surpresa para mim, porque não pensava que seria capaz de conseguir isso, mas eu acabei me apaixonando pelo tecido, pela bolsa, pelo fato de viver outra vida, e fui vendo o que dava certo. Eu vendia outras coisas, fiz panos de prato, porta pão, e descobri que a bolsa dava dinheiro. Comprovei que outras pessoas valorizavam o que fazia. Foi a realização de um sonho.
ABRINDO-SE CAMINHO NO MUNDO DA ECONOMIA SOLIDARIA
Existem muitas possibilidades ocultas, porque a gente vive num mundo muito fechado, no nosso âmbito da prostituição, e quando a gente sai dele para fora as pessoas nos acolhem com muito carinho, com muita atenção, com muito cuidado, com muito respeito acima de tudo. A gente está acostumada a lutar contra a discriminação, o preconceito, mas dentro destes grupos é diferente, as pessoas realmente têm respeito por nós, admiração e nos apoiam
Foi crescente, eu comecei com pouquinho. Fui à feira da Av Bernardo Monteiro, onde o primeiro que vendi foi um porta-pão. Por incrível que pareça eu nunca fiquei sem vender nada, toda vez que eu ia eu vendia algum trem, e hoje eu já vendo como mínimo 5 ou 6 peças em cada feira. Para mim ,hoje, eu já tiro meu salario da venda dos meus produtos. O mês de julho foi mais fraco, e eu tirei R$ 2.000,00.
A MAIOR SATISFAÇÃO
Criar, fazer algo comas próprias mãos e que isso seja valorizado, reconhecido, é um premio; é como se fosse uma medalha. A gente correu uma corrida muito longa e cansativa, teve muitas dificuldades, muitas batalhas, mas agora quando vejo alguém usando minhas bolsas, é uma medalha, não apenas pelo valor financeiro, mas sobretudo pela satisfação de ver uma pessoa elogiando, achando bonito algo criado por mim. E a satisfação de ver como isso se multiplica quando a pessoa que recebeu de presente, vai lá na feira para comprar outras bolsas e dar de presente para outras pessoas
UM SONHO
Montar uma equipe de produção, para a gente exportar. Queria ter uma casa bem grande para acolher todo o mundo que está a fim de vir e montar uma fábrica, mas não uma fábrica tradicional senão uma fabrica de economia solidaria onde todo o mundo trabalha, todo o mundo é patrão, todo o mundo é companheiro. Em realidade este é meu segundo sonho, porque o primeiro já foi realizado.
CONSELHOS
Analisar bem com a cabeça. Não desistir no 1° obstáculo, não desanimar nunca, lutar sempre, ouvir muito o conselho de outras pessoas (no meu caso o conselho da Pastoral) e depois trabalhar. O segredo é trabalhar. Trabalhando com honestidade, com firmeza, a gente vence.
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