Um em cada três brasileiros
concorda que a mulher vítima de estupro é responsável pela violência sexual que
sofreu. A pesquisa, realizada pelo instituto Datafolha e encomendada pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, foi divulgada nesta quarta (21). Dos
entrevistados, 30% acham que a afirmação ”A mulher que usa roupas provocativas
não pode reclamar se for estuprada” está correta. O percentual é o mesmo entre
homens e mulheres e aumenta entre idosos e pessoas com menor grau de
escolaridade.
Por Leonardo Sakamoto
Ao mesmo tempo, 37% dos
entrevistados concordam que ”Mulheres que se dão ao respeito não são
estupradas”. Neste caso, a porcentagem é maior entre homens (42%) do que entre
mulheres (32%). Além disso, 85% das mulheres entrevistadas têm medo de ser
estupradas. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Nós, homens, pensaríamos duas
vezes antes de fazermos comentários machistas, preconceituosos e violentos se
tivéssemos medo de sermos criticados, repreendidos e humilhados publicamente
por outros homens em um almoço de família, no intervalo das aulas da faculdade,
na mesa de bar. E, é claro, também nas conversas, publicações, curtidas e
compartilhamentos no Facebook, Twitter e WhatsApp. Mas, infelizmente, não
atuamos para qualificar esse debate publicamente.
Em uma sociedade historicamente
estruturada em torno da violência de gênero, nossa responsabilidade como homens
não é apenas evitar que nós mesmos sejamos vetores do sofrimento simbólico,
psicológico ou físico das mulheres cis e trans. Neste caso, não basta cada um
fazer sua parte para que o mundo se torne um lugar melhor.
Se você fica em silêncio diante
de situações de violência de gênero, sinto lhe informar que tem optado pela
saída fácil da delinquência social.
Sim, ao ver um colega relinchando
aberrações inconcebíveis na mesa do bar e não questioná-lo por isso, dando uma
risadinha de canto de boca; ao ouvir aquele tio misógino defender que ”mulher
que se preze não usa saia curta” e ficar em silêncio; ao assistir àquele
”humorista” fazer apologia ao estupro e não mudar de canal ou enviar mensagem
protestando às autoridades; ou ao se deparar com um amigo compartilhando
histórias de violência sexual e sua única reação foi um beicinho de
desaprovação, você – em maior ou menor grau – está sendo cúmplice de tudo isso.
Nós, homens, temos a
responsabilidade de educarmos uns aos outros, desconstruindo nossa formação
machista, explicando o que está errado, impondo limites ao comportamento dos
outros quando esses foram violentos, denunciando se necessário for.
Não é censura ou vigilância
”politicamente correta”, pelo contrário. Esses são atos para ajudar a garantir
que as mulheres possam desfrutar da mesmo liberdade que nós temos – liberdade
que nossos atos e palavras sistematicamente negam a elas. Não há paz em uma
sociedade em que 85% das entrevistadas têm medo de serem estupradas. Duvido
muito que ainda que uma sociedade assim esteja dentro de padrões mínimos
civilizacionais ou já possamos nos considerar na barbárie.
O constrangimento público é uma
arma poderosa e precisa ser usada insistentemente. As pessoas precisam entender
que o seu discurso e suas atitudes violentas não cabem mais no ambiente em que
estão.
Como já disse aqui antes, agimos
como inimigos até termos sido devidamente educados para o contrário. Não é um
processo fácil e demanda uma vida inteira de autocrítica, o que falo por
experiência própria. Mas necessário.
Pois é no momento em que pessoas
conscientes se calam, cansadas da opressão e da violência, que a opressão e a
violência encontram terreno sem resistência para avançar.
Essa qualificação, é claro, vem
de um processo que envolve escolas, famílias, sociedade civil e mídia. Em tese,
é um processo lento, porque passa pela formação de visão de mundo. Mas mulheres
continuam a ser assediadas, agredidas, estupradas e mortas simplesmente por
serem mulheres na segunda década do século 21.
Não temos o luxo de contar com
esse tempo. Temos que promover essa mudança imediatamente. Sob o risco de
deixarmos ir embora aquilo que nos faz humanos. - Leia a matéria completa em: http://scl.io/v6pYMHhG#gs.GHXkB6o
Fonte: Blog do Sakamoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário