domingo, 6 de março de 2016

Os traços da misericórdia de Deus

Na “parábola do filho pródigo” fala-se também  do filho mais velho. Nunca partiu de casa, mas seu coração esteve sempre afastado. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. ...Envolvidos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e de descrentes, de praticantes e de afastados, de matrimônios abençoados pela Igreja e de casais em situação irregular... Enquanto nós continuamos a classificar Seus filhos, Deus continua à espera de todos, pois não é propriedade dos bons nem dos praticantes. É Pai de todos.

  
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 15,1-3.11-32 que corresponde ao 4° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto

Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do “pai bom”, mal denominada de “parábola do filho pródigo”. Precisamente este “filho mais novo” atraiu sempre a atenção de comentadores e pregadores. O seu regresso ao lar e a acolhida incrível do pai comoveram todas as gerações cristãs.

No entanto, a parábola fala também do “filho mais velho”, um homem que permanece junto ao seu pai, sem imitar a vida desordenada do seu irmão, longe do lar. Quando o informam da festa organizada pelo seu pai para acolher o filho perdido, fica desconcertado. O retorno do irmão não lhe produz alegria, como ao seu pai, mas sim raiva: “ficou com raiva, e não queria entrar” na festa. Nunca tinha saído de casa, mas agora se sente como um estranho entre os seus.

O pai sai a convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu o seu irmão. Não lhe grita nem lhe dá ordens. Com amor humilde “insiste com ele” para que entre na festa de acolhimento. É então quando o filho explode deixando a descoberto todo o seu ressentimento. Passou toda a sua vida cumprindo as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Agora só sabe exigir os seus direitos e denegrir o seu irmão.

Esta é a tragédia do filho mais velho. Nunca partiu de casa, mas seu coração esteve sempre afastado. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor do seu pai por aquele filho perdido. Ele não acolhe nem perdoa, não quer nada com o seu irmão. Jesus termina Sua parábola sem satisfazer a nossa curiosidade: entrou na festa ou ficou fora?

Envolvidos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e de descrentes, de praticantes e de afastados, de matrimônios abençoados pela Igreja e de casais em situação irregular... Enquanto nós continuamos a classificar Seus filhos, Deus continua à espera de todos, pois não é propriedade dos bons nem dos praticantes. É Pai de todos.

O “filho mais velho” é uma interpelação para quem acredita viver junto Dele. Que fazemos os que não abandonamos a igreja? Assegurar a sobrevivência religiosa observando o melhor possível o que está prescrito, ou ser testemunhas do amor grande de Deus a todos Seus filhos e filhas? Estamos construindo comunidades abertas que sabem compreender, acolher e acompanhar a quem procura Deus entre dúvidas e interrogações? Levantamos barreiras ou estendemos pontes? Oferecemos amizade ou olhamos com receio?

Fonte: Ihu

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