sábado, 19 de abril de 2014

As mulheres: primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus

Diz o conhecido teólogo francês Joseph Moingt que o cristianismo começou com um rumor.  Jesus havia morrido na cruz e seus discípulos, escondidos, o choravam.  As mulheres, enquanto isso, preparavam-se para, após o sábado, ir ao túmulo onde estava enterrado e ungir seu corpo com aromas. O silêncio pesava sobre Jerusalém, grávido de tristeza com a morte do profeta que amou os pobres e os pequenos e falou de Deus como nunca ninguém o tinha feito.

Por Maria Clara Bingemer

E de repente o rumor rompeu o silêncio e o mal estar, falando não de morte mas de vida.  “O túmulo está vazio e aquele que procurávamos não está ali. “  “ A pedra estava rolada e nos foi dito que ele não estava ali, mas que nos esperava em Jerusalém.” “Aquele que morreu está vivo. “  “ Ele está vivo, nós vimos. “  “ Jesus de Nazaré está vivo e nós o reconhecemos no partir do pão. “ “Eu chorava no jardim sem encontrá-lo e de repente ouvi meu nome e reconheci que era ele.”

O rumor vai se produzindo na medida em que aqueles e aquelas que choravam uma dolorosa perda para a qual acreditavam não haver consolo ou remédio sentem-se cheios de uma alegria que não sabem explicar de onde vem. E experimentam que essa alegria tem sua raiz no fato de que aquele que morreu não foi retido pela morte em seu poder.  Está vivo e aparece consolando, animando, dando seu Espírito e enviando em missão.

Rapidamente, o rumor cresce e ganha força e consistência.  Já não são mulheres assustadas e tristes que afirmam havê-lo visto e ouvido em plenitude de vida. Apesar de haverem sido as primeiras a viver a impressionante experiência pascal, souberam transmiti-la aos companheiros que, embora descrentes em um primeiro momento,  logo se sentiram contagiados por seu testemunho.  E dentro em pouco serão vários os que antes tinham medo e se escondiam,  e que agora se mostram e fazem ver,  declarando havê-lo visto, ouvido e tocado com suas mãos.

O grupo disperso torna-se coeso e unido.  O medo é banido dos corações e em seu lugar brota uma força que enfrenta os poderes políticos e religiosos com desassombro e intrepidez.  Uma comunidade se forma em torno da pessoa daquele que os reuniu e que partiu.  Agora  ele os conforta na certeza de que a morte não teve a última palavra sobre sua vida santa e fecunda. O amor que ele espalhou pelo mundo foi mais forte e venceu a morte pelo poder de Deus.

Jesus ressuscitou. O profeta assassinado pelo poder das trevas vive para sempre à direita de seu Abba que sempre o escutou e agora confirma seu caminho como vida que não morre e não termina.  A testemunha fiel que sempre foi o profeta de Nazaré agora é confirmado como vivente e é o próprio Deus Pai e Senhor da vida que sobre ele dá testemunho, pronunciando a palavra interpretativa da ressurreição sobre sua pessoa e seu caminho. 

A comunidade cresce na fé e na esperança que a presença do Ressuscitado suscita em seu meio. Unida, reparte seus bens; é fiel ao ensinamento dos apóstolos, testemunhas autorizadas do Ressuscitado; reza ; reparte o pão pelas casas, comungando o corpo daquele que por ela se entregou até a morte e agora vive e a envia em missão anunciando pelo mundo a Boa Notícia da vida que não morre.

Se não fosse o testemunho fiel desta comunidade, o rumor que começou a circular pelas ruas de Jerusalém poderia ter sido abafado e sufocado pelos poderes que haviam matado a Jesus e a quem não interessava nada sabê-lo vivo.  Poderia também ter se diluído em meio às agruras e dificuldades da vida cotidiana e breve tornar-se apenas uma vaga lembrança.  Porém a experiência era forte demais para que isso acontecesse.  E o rumor se tornou testemunho corajoso e destemido que enfrentou todas as vicissitudes e adversidades, perseguições e tribulações e ganhou mundo e se multiplicou em meio a todas as tentativas para silenciá-lo.

Na medida em que meditava e interpretava o testemunho de Jesus a comunidade ia compreendendo que por haver entregado sua vida até o fim ele vencera.  Semeou-se como grão de trigo na terra fecunda, e dali emergiu florescido, frutificado e vivo para alimentar os que amava.  Confiantes no Deus que não permitira que o Justo ficasse retido nas garras da morte, a comunidade dava testemunho incessantemente e por onde passava.

Assim, o que era um rumor se fortaleceu e consolidou.  Transformou-se em uma Boa Notícia que dá sentido à condição humana.  Todo homem e toda mulher que vem a este mundo pode experimentar que não é um “ser para a morte” como dizem algumas correntes de pensamento.  Pode sentir que a vida não é absurda e sem sentido.  Pois existe uma maneira concreta de ser humano que é o caminho para a comunhão com o verdadeiro Deus e para a vitória sobre a morte: a pessoa de Jesus de Nazaré que se fez caminho para que pudéssemos nele caminhar na alegria da convicção em que Deus é amor.



Fonte: Amai-vos

Nenhum comentário: