quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Twitter e Facebook diante da prostituição


A permeabilidade das redes sociais à prostituição é evidente.

A revista Forbes publicou um artigo importante (31/1), mas um tanto superficial, sobre o comportamento das redes sociais ante a prostituição. Como reagem Twitter e Facebook quando encontram ou são informados da presença de páginas, fotos ou material genérico envolvido com esta prática? O autor quer saber qual delas sabe lidar melhor com a questão delicada – mas inevitável – da pornografia na web.

Sob um título enganador, que atrai o leitor por fazê-lo acreditar que vai ler sobre a “Diferença em censura no Facebook e Twitter”, o autor Tim Worstall apresenta as maneiras como as duas principais mídias sociais controlam os conteúdos em suas páginas. E mostra que há uma “diferença óbvia” na utilização dos diferentes meios que a indústria do sexo usa nas duas redes:

“Os trabalhadores do comércio do sexo usam o Facebook ou Twitter como a cabine telefônica do século 21 ao colocar lá dentro cartões de convites que mostram claramente que estão a agenciar negócios. Uma reportagem do Times encontrou centenas de páginas públicas sendo usadas por prostitutas e agências de acompanhantes. Em algumas instâncias seus nomes, detalhes para contatos e preços foram exibidos, junto com os serviços sexuais que eles estão a oferecer”.

O Facebook quer apresentar ao mundo uma imagem de cena familiar, plena de decência burguesa. O Twitter tem uma proposta mais liberal. O Facebook retira do ar imediatamente todas as páginas de prostituição que encontra. O Twitter tem uma abordagem diferente: só retira o conteúdo depois que este for considerado ilegal. Prostituição não é crime no país do autor (Inglaterra) nem no nosso. E isso também torna as coisas difíceis, pois solicitar serviços sexuais, anunciá-los e abrigar praticantes de sexo vendido em bordéis são delitos. Aqui e na Inglaterra.

Intervenção do Congresso

O autor declara preferência pelo método do Twitter. “O Facebook trata a todos como crianças”, ele escreve. Tem razão apenas em parte: muitos usuários no Facebook são muito jovens ou mesmo crianças e precisam de proteção. O Twitter, por sua vez, por sua fragilidade na segurança, recentemente acabou alvo de um aplicativo de compartilhamento de pornografia. A revista Exame (28/01) publicou a matéria. O microblog não tem nada parecido como o Time de Segurança do Facebook. Sequer tem o controle total de sua plataforma. Ainda há muito espaço para uso malicioso da interface de programação de aplicativos (API) por desenvolvedores independentes mal-intencionados.

Se o Twitter é lento e pouco profissional, o Facebook é hipócrita com relação à venda dissimulada de sexo. Remove do site conteúdo erótico, mas as páginas dos homens não-comprometidos estão cheias de anúncios de agências de acompanhantes. Se você é homem e não é casado (ou envolvido de alguma forma com alguém) já deve ter percebido o que descrevo aqui. E a turma do Facebook conhece seu gosto sexual, também. De alguma forma, eles sabem. Pois as ofertas de serviços parecem estranhamente apropriadas para estarem ali apenas por acaso.

No artigo da Forbes, o autor deixou de fora o Google e o modo como ele “patrulha” seu conteúdo e lida com a prostituição na web. Nenhuma das duas mídias sociais, Facebook ou Twitter, tem uma abordagem adulta e eficiente quanto o assunto é sexo explícito e prostituição. O Google não é melhor. De acordo com o site de tecnologia inglês Register (19/9/2012), a companhia só removeu um aplicativo que promovia prostituição de seus servidores depois que membros do Congresso americano pressionaram o colosso das buscas a fazê-lo.

Predadores e traficantes

A Associação Nacional de Procuradores Gerais dos Estados Unidos declarou que a rede de anúncios do Google mostrava sinais denunciadores de tráfico de humanos e não apenas sites de “encontros online”. O Google declarou que “proíbe anúncios de comércio de sexo em sua rede de anúncios pagos e coopera com as agências legais de proteção”.

A permeabilidade das redes sociais à prostituição é evidente. A posição do autor, de examinar superficialmente o comportamento das mídias sociais em relação ao sexo vendido naturalizou uma prática perigosa que expõe seus profissionais ao perigo e à exploração brutal e semiescravagista. Publicar nomes, endereços e preferências de pessoas que vendem sexo implica exibi-las aos olhos e ações de predadores letais e traficantes de humanos que infestam a web. Isso que pode ser letal. Além de promover a prostituição. O que é um crime.


Fonte: observatoriodaimprensa.com.br
Por Sergio da Motta e Albuquerque
[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor]

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