quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Alguns dados sobre a exploração as mulheres por parte do Sistema Capitalista em AL


América Latina segue um território prioritário para a expansão do capital em sua era de barbárie social extrema. São as mulheres,  trabalhadoras, mães de crianças pequenas, as mais impactadas com a vulnerabilidade do trabalho no continente, centrada na desigualdade de gênero e na ampliação da brecha no interior do trabalho feminino. A concentração do desemprego é 5 vezes maior para as mulheres de baixa renda, em comparação com as de mais alta renda.

Leiam o lúcido artigo de Roberta Traspadini em Brasil de Fato
 
Após mais de 500 anos de espoliação, nosso continente ainda possui enormes recursos naturais a serem expropriados e uma população de quase 300 milhões apta a ser superexplorada pelo capital e prontos para consumir mercadorias.
Este é o resultado contraditório da histórica luta pela liberdade refugiada, na aparente igualdade burguesa.
O centro do desenvolvimento desigual e combinado traz uma análise sobre nossa América em seu movimento permanente de dependência estrutural.
 
Um panorama demográfico social
O anuário estatístico 2011 da CEPAL mostra que nossa América está estruturada na seguinte perspectiva: dos quase 597 milhões de pessoas, 277 milhões (163 milhões de homens e 133 milhões de mulheres) compõem o exército formal de trabalhadores aptos a serem explorados pelo capital no continente. A taxa de desemprego é de 7,1%.
Existem aproximadamente 50 milhões de pessoas com mais de 15 anos sem saber ler e escrever ( 8% da população); 62% têm de 15 a 49 anos de idade e a população urbana é de 81,2%.
Outro documento, Panorama social da América Latina, relata que nosso continente possui 73 milhões de indigentes e 174 milhões de pobres não indigentes. Somados, temos 247 milhões de pessoas que vivem em condições subumanas, configurando uma real barbárie social.
A relação, inversamente proporcional entre grandes empresas e números de empregados, mostra distintas formas de produção da intensa exploração da mão de obra no continente, como a diferença dos salários de homens e mulheres e a ampliação da desigualdade no interior de cada um dos gêneros.
As grandes empresas exportadoras geram 70% do PIB da região e empregam somente 19,8% do emprego total. As pequenas e médias empresas participam com 22,5% do produto e empregam 30% do total de trabalhadores formais. Já o setor informal, emprega quase 50% da mão de obra e aporta 10% no produto da região.
Na conformação contraditória entre uma América Latina com bons rendimentos salariais para uma pequena parte dos trabalhadores e péssimos rendimentos para a maioria dos que vivem da venda de sua força de trabalho, mulheres e jovens seguem visivelmente afetados na dinâmica de superexploração particular adotada no continente pelo capital.
 
Mulheres trabalhadoras latinas
A estratificação no interior do gênero e a desigualdade salarial entre as mulheres são impactantes.
Enquanto 82% das mulheres pertencentes ao grupo mais pobre da região trabalham em ramos de remuneração baixa, apenas 33% das mulheres do grupo de melhor situação social estão nesta condição.
Além da desigualdade de gênero no mercado laboral, a distância salarial entre as mulheres mais pobres e menos pobres também é central.
Quando a desigualdade da renda e do tipo de trabalho no interior do gênero feminino leva em consideração o tema dos filhos, a situação explicita a centralidade da desigualdade na estrutura do capital contra o trabalho no continente.
Mulheres com crianças de 0 a 5 anos tendem a estar no mercado informal, dada a situação real do cuidado centrado nos filhos, em comparação com as mulheres cujos filhos têm de 6 a 14 anos.
São estas trabalhadoras, mães de crianças pequenas, as mais impactadas com a vulnerabilidade do trabalho no continente, centrada na desigualdade de gênero e na ampliação da brecha no interior do trabalho feminino. A concentração do desemprego é 5 vezes maior para as mulheres de baixa renda, em comparação com as de mais alta renda.
Por um lado, o capital apresenta para parte da classe trabalhadora uma inserção no mercado de trabalho em condições desiguais na sua própria constituição e intensifica a centralidade desta desigualdade no interior da classe.
Por outro lado, os Estados nacionais de parte expressiva dos países da região empurram, via privatização dos direitos, parte expressiva das mulheres latinas que compõem a classe trabalhadora para uma situação cada vez mais perversa sobre seu ser e viver.
Os sentidos de pertença do trabalho e do viver da mulher da classe trabalhadora latina perdem espaço real na gigantesca dinâmica de morte em vida instituída pelo capital. É a aparente vitória incontestável de um único horizonte possível de inserção laboral, em que ser mulher se resume a ser sujeitada ao projeto de desenvolvimento desigual. Pífia razão desordenada burguesa!
Esse panorama reforça o estado de alerta em nossa América. Mais do que o fim da desigualdade como o centro da dinâmica do capital sobre e contra o trabalho, o que temos é uma vasta condição de ampliação da exploração em todo continente latino. A centralidade é a da apropriação privada de recursos naturais que deveriam ser bem comum, combinada com a espoliação da classe trabalhadora.
Esse tema, somado à discrepância entre a vida no campo e a vida na cidade, à centralidade da juventude no mundo do trabalho e no universo de precarização da educação e à retomada da condição primário exportadora dos países economicamente mais fortes do continente, joga um peso central na política de enfrentamento e de projeção de um projeto popular latino-americano, como alternativa real à continuidade da integração do capital contra os trabalhadores no continente.
Seguiremos...
 

 

Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ES

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