segunda-feira, 16 de novembro de 2015

"Não precisar da companhia de um homem é libertador"

Babi Souza, de 24 anos, criou um movimento para ajudar as mulheres a se reunir para andar nas ruas (Foto: Ricardo Jaeger/ÉPOCA)
E se eu tivesse convidado uma delas para ir comigo?”, pensou Babi Souza, 24 anos, ao descer do ônibus depois de mais um dia de trabalho. Era tarde da noite em Porto Alegre e ela tinha que atravessar uma praça deserta para chegar ao próximo ponto de ônibus, que a levaria para casa. Agarrada à mochila, caminhava com o coração acelerado, angustiada.
À sua volta, outras mulheres possivelmente sentiam a mesma coisa. Babi sentia vontade de se aproximar daquelas mulheres, de fazer o percurso acompanhada e segura, mas faltava coragem para que pudessem compartilhar a angústia de estarem sozinhas em um lugar perigoso. “Só uma mulher entende o que é ficar na rua e, ao olhar para trás com medo, sentir um alívio ao perceber que é outra mulher”, afirma. Pensando nisso, Babi criou o movimento 'Vamos Juntas?' no Facebook, para incentivar que mulheres se aproximassem e, assim, se sentissem mais seguras. “Não precisar da companhia de um homem é libertador.” Em menos de 24 horas, mais de 5 mil pessoas haviam curtido a página. Atualmente com 235 mil pessoas, 49% do público tem até 24 anos.

O contato direto com as mulheres por meio do Vamos Juntas? levou Babi a conhecer histórias de violência e medo. Uma jovem de 15 anos contou a ela que tinha sido estuprada e que jamais havia revelado o caso, envergonhada. Em outra situação, ouviu de uma jovem a história da irmã que, após meses de reclusão e medo causados por um abuso sexual, saiu de casa pela primeira vez ao ser encorajada pelo depoimento de outras garotas na página. Babi queria criar um aplicativo para facilitar o encontro de mulheres nas ruas para idas e vindas mais tranquilas. No entanto, percebeu que aquilo poderia ser usado para facilitar a localização de mulheres sozinhas. O projeto foi modificado e agora vai mapear locais onde houve assédios, lugares perigosos, mal iluminados e criar vários tipos de alerta —uma espécie de Waze que, em vez de indicar o caminho mais rápido, aponta o mais seguro. “ Esses dados podem gerar um material muito rico, para mapear regiões com mais estupro, assédios. Minha esperança é poder reivindicar ações que tragam melhorias”, diz.

Como toda mulher, Babi também passou por situações de risco. Recentemente, foi perseguida perto da rua onde mora. De bicicleta, um desconhecido a rondava: chegou a atravessar para a mesma calçada na qual caminhava, por três vezes consecutivas. Assustada, Babi começou a correr até chegar em casa. Engajada com o movimento feminista há cerca de um ano, a gaúcha conta que questionava as questões de gênero desde criança. Ainda pequena, aos 4 anos, reclamou com a mãe que o nome de sua creche era Garoto Sapeca. “Eu já cheguei a dizer que eu não era feminista, mas era falta de informação. Eu não conhecia o feminismo”, diz. “Quando você diz que é feminista, já gera uma repulsa automática. As pessoas precisam mudar a visão pejorativa sobre o feminismo.”

Fonte: Revista Época

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