sábado, 3 de outubro de 2015

Só para meninas e só para meninos. Será?


A imposição dos estereótipos de gênero e a minha experiência de compra no O Boticário do Shopping Difusora.

por Magda Cristina Alexandre da Silva via Guest Post para o Portal Geledés
E lá fui eu comprar um chamego para quem amo no O Boticário do Shopping Difusora, em Caruaru/PE, dia 24/09/2015. Loja linda, vendedoras prestativas, achei o produto perfeito na Linha Men. Na hora de embalar, pedi algo simples, sem sedinha, sem adesivo e prontamente recebi o meu produto em uma sacolinha de papel de tamanho desproporcional as minhas compras. Perguntei se poderia usar uma menor e recebi a resposta que “de homem só tem essa”. Eu realmente não entendi o que estava acontecendo, já que a sacola era do padrão da loja e não tinha relação com a linha que eu havia escolhido. Então, perguntei novamente dizendo que queria um tamanho menor, para evitar desperdício e recebi a mesma resposta “sacola de homem, só tem essa”. Fiz uma cara que deve ter sido das mais estranhas, pois a vendedora super se apressou em pegar uma tamanho “P” e me mostrar que aquela “não era de homem”. E eu perguntei “mas o que difere uma sacola de homem e uma de mulher?” e uma das vendedoras deu uma sacudidinha na sacola menor como que me apresentando uma obviedade. Já compreendendo o teor da coisa e a seriedade do que estava acontecendo, perguntei para ter certeza “mas o que difere uma sacola de homem?”. “É a cor” uma das vendedoras respondeu, enquanto a outra assentia com a cabeça. “A cor?”, eu repeti, e elas disseram “Sim. Essa cor não é para homem. Só tem sacola “P” rosa, e rosa não é cor para homem.”
Eu senti meu rosto perder a cor.
Peguei uma sacola “P” rosa, sorri amarelo, agradeci e sai da loja.
No caminho para casa eu vinha pensando naquele bafafá todo que o comercial de O Boticário causou nas pessoas (aquele comercial, aquele…): tanto incômodo, tanta aprovação, tanta vibração, comentários sobre conquistas… Pra quê? Pois se aquele comercial foi mais que uma jogada de marketing e sim um posicionamento político da marca a favor da diversidade, por qual motivo, lá na ponta da estrutura, lá no miudinho do atendimento, cara a cara com a cliente, nada mudou?! A marca se ocupou de fazer o marketing televisionado, mas será que se preocupou em treinar suas equipes para lidar com a diversidade e com as diferenças? Sim, pois lidar positivamente com a diversidade e com as diferenças é também se afastar dos estereótipos de gênero em que rosa é só para meninas e azul só para meninos. Além disso, que direito tem a empresa de me impor, através da atitude com a escolha da cor de uma sacolinha, um estereótipo no qual não acredito? Provavelmente, O Boticário, se chegar a ter conhecimento sobre este relato, vai afirmar que ‘as atitudes das vendedoras não (co)respondem a da/pela marca’. Mas será que não, já que são essas pessoas que nos vendem a marca, o produto, a concepção e o (des)encantamento?
O Boticário, queremos um mundo colorido, para além da dicotomia rosa e azul. Cor é para quem gosta da cor e gente gosta de cores!


Fonte: Portal Geledes

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