terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Hilda Furacão morre aos 83 anos em asilo para pobres em Buenos Aires

Prostituta que inspirou livro de Roberto Drummond e minissérie da Globo foi casada com jogador que passou pelo Atlético, São Paulo e clubes do exterior.


Hilda Maia Valentim, a Hilda Furacão, personagem que fez história em Belo Horizonte na década de 1950, morreu nesta segunda-feira (29), no asilo público em que vivia, em Buenos Aires, na Argentina. Fonte de inspiração para o personagem de Roberto Drummond e a minissérie produzida pela Rede Globo em 1998, ela tinha 83 anos.

O Lar de Idosos Guillermo Rawson confirmou à reportagem de O TEMPO que Hilda morreu nesta segunda-feira. "Ela já vinha tendo algumas complicações de saúde. Agora, estamos analisando como vamos fazer para providenciar o enterro", disse uma assistente social do asilo, que é público e destinado a pessoas pobres.

De acordo com a  assistente social responsável, a brasileira Marisa Barcellos, Hilda não estava comendo há mais de uma semana e estava sendo hidratada com sondas. "A Hilda morreu de morte natural, não morreu na rua nem sem assistência", afirma Barcellos. Na terça (30), ela completaria 84 anos.

Não vai haver velório para Hilda. Ela não recebia visitas de familiares. O corpo dela deve ser levado ao cemitério de Chacarita, em Buenos Aires.

Nascida em Recife (PE), Hilda foi com a família para Belo Horizonte ainda criança. Na juventude, tornou-se famosa e era conhecida como a prostituta Hilda Furacão. Foi na zona boêmia da capital mineira, especialmente no Hotel Maravilhoso, na rua Gaicurus, no centro da cidade, que conheceu o jogador de futebol Paulo Valentim, então no Atlético, e que também jogou no Boca Juniors, no São Paulo e no Atlante, no México. Eles se casaram no fim da década de 1950, quando Hilda Maia acrescentou o sobrenome Valentim.


Hilda e Paulo Valentim se conheceram em Belo Horizonte, quando ele jogava no Atlético

A decadência do atleta teria vindo por causa do vício em álcool e jogo. No México, Hilda e Paulo Valentim já estariam pobres no início da década de 1970. Ela trabalharia como faxineira, costureira e babá para sustentar a família. Paulo Valentim morreu em 1984, quando Hilda passou a viver com o filho. Mas ela perdeu também o filho, em 2013. Sem família, foi para o asilo depois de seis meses internada em um hospital por causa de uma queda. Em entrevista ao "Fantástico" em agosto deste ano, ela contou do amor pelo marido, das histórias da boemia, dos fazendeiros que a pediram em casamento e deu uma justificativa para o apelido Furacão: "Eu era brava".

Hilda Maia Valentim só foi associada à personagem mítica recentemente, mas desde a década de 1990 já se sabia que ela era real. Na época, o escritor mineiro Roberto Drummond revelou que a personagem de seu livro tinha uma inspiração de carne e osso. "Hilda existiu. Mas ela foi de tal forma mitificada e mistificada que se transformou num boato. Um boato festivo, colorido, maravilhoso. O livro é contato através desse boato", disse à época.

Fonte: O Tempo

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