segunda-feira, 26 de maio de 2014

'Marcha das Vadias' reuniu centenas em Belo Horizonte contra violência

Segundo a BHTrans, cerca de 500 pessoas acompanharam o ato.
Ação é contra a ideia de culpar as mulheres pela agressão que sofrem.

Centenas de pessoas participaram, na tarde do passado sábado (24), da “Marcha das Vadias” na região central de Belo Horizonte. Por volta das 14h30, mulheres e homens se concentravam na Praça da Rodoviária, onde produziam cartazes e pintavam o próprio corpo. De acordo com a organização do evento, o ato é pelo fim da violência contra as mulheres.
De acordo com Adriana Torres, uma das articulistas da Marcha e voluntária do Movimento Nossa BH, a violência contra a mulher está tão naturalizada que culpá-la pelo que sofre é a forma que a sociedade encontrou para jogar o problema para debaixo do tapete. "Resolver o problema da violência exige um comprometimento de todos, desde o cidadão até a gestão pública com a desconstrução de um processo social e político que hierarquiza pessoas por gênero, idade, raça, etnia, classe e orientação sexual, limitando seus direitos e sua liberdade. É necessário revolucionar toda a nossa crença no que nos estrutura hoje e as pessoas estão pouco dispostas para uma mudança tão grande. Então jogam a culpa na vítima, quando não criam medidas absurdas como o vagão exclusivo para mulheres, que segrega e pune a vítima pelo que ela sofre", avalia Adriana.



Segundo Nathalia Duarte, cientista social, participante da frente feminista do movimento Tarifa Zero e participante da Marcha das Vadias, a violência diária sofrida pelas mulheres se traduz em um não direito à cidade e à  mobilidade, uma vez que as mulheres não podem circular sozinhas em determinados horários e locais e sem correr perigo. E mesmo nos trajetos diários, sofrem constantemente assédio. O espaço público e o transporte coletivo não são pensados para as mulheres, e o assédio se constitui, portanto, como mais uma catraca que precisam enfrentar durante o deslocamento de cada dia.

Letícia Gonçalves, psicóloga e também articuladora do coletivo da Marcha em BH, relata que uma das maiores preocupações do grupo no último ano foi compreender como e o quanto essas violências afetam as prostitutas. "Não temos a intenção de falar pelas mulheres, mas de aproximar e escutar o que elas dizem. Percebemos nesse movimento que fizemos a necessidade de pautarmos a complexidade do assunto, já que estamos falando de realidades muito diversas. Consideramos fundamental reconhecermos o contexto de violência colocado na vivência de grande parte dessas mulheres, e não podemos perder de vista o capitalismo, o patriarcado, as questões de raça  e classe, como intensificadores”, explica Letícia.
Segundo Letícia, o objetivo é a livre expressão. “Essa marcha é contra a violência, contra qualquer violência às mulheres”, afirmou. Ela acrescentou que a mulher tem o direito de se vestir como quiser sem ser violentada.
O relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou a violência contra a mulher no Brasil, lançado ano passado, mostrou que foram registrados em Minas Gerais, de janeiro de 2011 a abril de 2012, 186.202 casos de violências contra as mulheres, sendo 554 estupros e 494 também estupros, mas sendo esses tipificados como de vulneráveis.

IBGE

A 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que o Brasil registrou um aumento de 18,17% de casos de estupro em 2012 em comparação com o ano anterior: foram 50.617 casos em 2012, o que equivale a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes.

Mas estudo divulgado pelo IPEA estima que esse número seja 10 vezes maior, já que a maioria não denuncia. Das notificações feitas ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) 70% das vítimas tem até 17 anos, sendo 88,5% das vítimas do sexo feminino, 51% da cor parda ou negra e o agressor é o próprio pai/padrasto (24,1%) ou amigos/conhecidos da vítima (32,2%).

Mesmo com esses dados alarmantes, a sociedade insiste em culpar a vítima pela violência que sofre. Roupas usadas, vida sexual, tudo pode se tornar uma tentativa de justificar o crime, fator que contribui para o baixo número de denúncias e a busca por soluções mais efetivas contra essa cultura nefasta.


Fonte: Estado de Minas

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