A naturalização da prostituição reforça um modelo em que a sexualidade feminina se constrói em função do desejo masculino. Conservadora é uma visão de liberdade sexual que se baseia na satisfação dos desejos dos homens e que oculta/inibe/oprime o desejo das mulheres.
6 de Dezembro de 2013 por Marcha Mundial das Mulheres
A Marcha Mundial das Mulheres saúda as companheiras da
Central Única dos Trabalhadores (CUT) pelo processo de debate e reflexões que
as levou a tomar um posicionamento contrário à regulamentação da prostituição.
A reação à posição da CUT, expressa pelo autor do atual
projeto de lei que visa regulamentar as casas de prostituição, reforçou uma vez
mais sua visão que desqualifica a luta feminista.
O argumento de que as feministas são moralistas e
conservadoras porque questionam a prostituição, é desrespeitoso e não contribui
para o debate. Vemos a desqualificação de um longo processo de lutas das
mulheres por liberdade, igualdade e autonomia e que nada tem a ver com
conservadorismo. As feministas defendem o direito das mulheres a viver
livremente sua sexualidade, com autonomia sobre seus corpos e seus desejos,
questionando a heteronormatividade e a violência. E negamos a falsa liberdade,
oferecida pelo mercado, que se encerra unicamente na ideia de não ter
impedimentos para a ação “econômica”. Esta ideia está na base da banalização da
sexualidade, tornando-a mais um produto.
Não podemos ignorar as experiências das mulheres na
sexualidade e simplesmente afirmar que exercer a prostituição é uma forma de
vivenciar sua liberdade sexual. Sobretudo, não podemos ignorar que estamos
falando, em sua imensa maioria, de mulheres sendo prostituídas por clientes
homens. E que entre a maioria das mulheres que vivem em situação de
prostituição, sobretudo as pobres, está presente o desejo de sair desta
situação.
A naturalização da prostituição reforça um modelo em que a
sexualidade feminina se constrói em função do desejo masculino. Conservadora é
uma visão de liberdade sexual que se baseia na satisfação dos desejos dos
homens e que oculta/inibe/oprime o desejo das mulheres. Conservadora porque
conserva e reforça privilégios acumulados historicamente pelos homens na
sociedade patriarcal.
Ao afirmar que “seguiremos em marcha até que todas sejamos
livres”, a Marcha Mundial das Mulheres se posiciona em um campo que questiona
profundamente as desigualdades do sistema capitalista, patriarcal e racista.
Propõe um horizonte no qual haja a real superação da divisão sexual do
trabalho, o fim da violência contra as mulheres e em que prevaleça a autonomia
das mulheres, em relações de liberdade que só podem se realizar, para todas as
mulheres, com a igualdade. Esta perspectiva é, portanto, radicalmente distinta
do individualismo liberal que defende a liberdade de cada mulher para fazer o
que quiser com seu corpo, mas que não é capaz de identificar que, no atual
modelo, a liberdade não caracteriza a vida da maioria das mulheres.
Desde essa perspectiva, também questionamos a visão, dita de
esquerda, que reduz o debate com a naturalização da prostituição como algo que
sempre existiu, invocando um fatalismo que rebaixa o debate político e não
questiona as relações patriarcais. Este raciocínio é contraditório com toda a
história da esquerda que persegue a utopia de superar o capitalismo e construir
um mundo de igualdade, tarefa que é tão difícil quanto a construção da
igualdade e liberdade das mulheres, mas que lutamos pra realizar, ao pretender
“mudar o mundo e mudar a vida das mulheres em um só movimento”.
A luta em defesa da liberdade e autonomia de todas as
mulheres está fortalecida com esta posição do Coletivo Nacional de Mulheres da
CUT, inserida em sua luta histórica por outro modelo de sociedade em que o
corpo e a vida das mulheres são respeitados e não são mercantilizados. A CUT
tem sido pioneira em pautar no conjunto do movimento sindical as lutas das
mulheres, seja com sua posição em defesa da legalização do aborto ou na aprovação
da paridade entre homens e mulheres na direção política da entidade.
Nossa expectativa é que outras organizações e entidades
sejam estimuladas a realizar seus debates e questionar o projeto de
regulamentação da prostituição para que, com o conjunto das forças
progressistas, possamos derrotar o atual projeto no Congresso.
Fonte: Marcha Mundial das Mulheres
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