sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“Mulher bonita é mulher que luta”, afirma integrante dos Black bloc

Reportagem de capa publicada pela revista Veja esta semana e que traz uma integrante dos Black Bloc do Rio de Janeiro, chamada Emma, vem causando polêmica nas redes sociais. Ela faz questão de enfatizar que "mulher bonita é mulher que luta”.


Acampada entre os manifestantes do movimento Ocupa Cabral, na capital carioca, nas proximidades da residência do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, há pelo menos duas semanas, Emma gravou vídeos, um deles uma entrevista concedida à chamada Mídia Ninja, nos quais faz contundentes contrapontos ao texto da matéria, para qual não teria aceitado dar entrevista. Caracterizada por uma beleza que, mesmo sob o tecido que cobre quase todo o rosto, se revela claramente em olhos grandes, verdes e bem delineados, Emma faz questão de enfatizar que "mulher bonita é mulher que luta”.

Entre outros pontos que ela e outros integrantes dos Black Bloc questionam na reportagem, como informações errôneas sobre o "coletivo”, e não grupo ou movimento, e afirmações de que seus integrantes agem "entre um baseado e um gole de vodka”, de que consomem "vinho barato e cocaína”, insinuações machistas de que Emma seria "namoradeira” e que teria "ficado com dois integrantes do acampamento numa mesma noite” mereceram destaque nas declarações de Emma.  Além disso, a matéria afirma que Emma é uma jovem de 25 anos, "preparada para ser uma burguesinha otária”, teria trabalhado num banco e saído do emprego por "desobediência civil”, bem como insinua um certo autoritarismo por parte da ativista, porque sempre convoca assembleias para deliberar sobre as decisões do acampamento.

O erro básico para o qual Emma chama a atenção é que a revista os trata como grupo, quando, na verdade, eles fazem parte de uma "tática de manifestação”. A matéria também os chama de "arruaceiros”, "violentos” e "versão tropical” do movimento surgindo na Europa nos anos 1980, aqui formado por moradores da periferia, integrantes de movimentos sociais "decadentes, como o MST”, universitários e universitárias e "até mendigos”. "Quem dá entrevista é uma coisa decidida em assembleia, não existem líderes entre nós e a grande mídia fica caçando esses líderes para satanizá-los”, dispara a jovem.

Procurada por uma jornalista da revista Veja a ativista teria dito que não daria declarações. "Há uma manipulação das informações, a população e seu pensamento estão sendo direcionados, pois existe muita influência política na grande mídia. Acredito no profissional, no jornalista, mas quando o material chega na redação, a coisa vai ser manipulada, ele não vai ter autonomia para fazer o trabalho que ele gostaria de fazer”, disparou Emma.

A negativa em dar entrevista, segundo ela, foi justificada pelo fato de não concordar com o "veículo vergonhoso” no qual a repórter trabalhava. "Eu disse que não duvidava do trabalho dela e até pedi pra que ela levasse um recado pra redação, para seus chefes. Eu disse ainda que se ela fosse uma boa jornalista que saísse da editoria Abril, pois lá, como repórter da Veja, estaria destruindo a carreira dela”.


Emma contou ainda que a foto da capa teria sido tirada durante uma manifestação ocorrida no último dia 11 de agosto, organizada pelas centrais sindicais, e esclarece que a camisa vermelha utilizada para cobrir seu rosto, colocada de forma "tendenciosa” pela revista, seria a bandeira do Estado da Paraíba. Já a foto de dentro da matéria foi tirada por um fotógrafo, de nome Leo Correia, que teria aparecido no acampamento dizendo ser fotógrafo free lancer de veículos internacionais. Na foto, retirada sem o seu consentimento, Emma aparece lendo o livro "História da riqueza do homem”, de Leo Huberman. "A intenção é aterrorizar, invadir minha vida pessoal, expor a minha família”.

Com a visibilidade alcançada pelas manifestações de rua ocorridas no último mês de junho em todo o Brasil, o "coletivo” Black Bloc levanta questionamentos e divide opiniões sobre suas táticas de protesto, principalmente no que diz respeito à depredação de prédios públicos e empresas privadas, ao enfrentamento físico e violento contra a força policial e o uso de máscaras para não serem identificados. Em texto publicado no jornal Opinião Socialista, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), considerado um partido de extrema esquerda pela opinião pública brasileira, se contrapõe às táticas adotadas pelo movimento, mesmo que ratifique que não está de acordo com a campanha difamatória empreendida pela grande mídia e com a repressão policial violenta contra os Black Bloc.


"Queremos discutir com os Black Bloc, pois, em nossa opinião, sua estratégia está equivocada. É um debate que não pode ser feito de outra forma que não seja pública, fraterna e aberta”, afirma o PSTU. Para o Partido, tendo surgido como uma tática defensiva contra as desocupações urbanas na Alemanha, nos anos 1980, os Black Bloc se transformaram numa estratégia em si mesma, descolada do movimento de massas, desligada de sua consciência, de seus mecanismos e de sua vontade. "Ou seja, o objetivo dos Black Bloc é realizar sua performance independentemente da vontade e disposição das massas”.

Em entrevista à revista Carta Capital, um integrante Black Bloc, de 26 anos, afirma que: "a sociedade tende a considerar a depredação como algo "errado” por natureza. Mas se nós sabemos e admitimos que os alvos atacados, em sua maioria agências bancárias até o momento, não foram realmente prejudicados – ou seja, os danos financeiros são irrisórios – qual é o real dano de uma estratégia Black Bloc? Por que deveria ser considerada errada apriori? Não há violência no Black Bloc. Há performance”.

No Facebook, podemos identificar páginas do movimento em nível nacional, no Rio de Janeiro (a que reúne a maior quantidade de curtidores, cerca de 25 mil), São Paulo, Ceará, Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Pará, Paraíba, Belo Horizonte, Minas Gerais e a mais recente, Curitiba (Paraná), cuja primeira manifestação está sendo marcada para esta sexta-feira, 23 de agosto. No dia 07 de setembro, Dia da Independência do Brasil, manifestações estão sendo programadas nas principais cidades do país.

Ainda em suas páginas, os Black Blocs fazem questão de destacar que não formam um grupo ou movimento; não levantam pautas genéricas contra corrupção ou similares; as páginas listadas no Facebook não representam o Black Bloc na sua totalidade; cada estado/cidade é independente para articular da melhor forma possível, prezando a segurança de todos os bb's participantes.

Na página Black Bloc Brasil, eles se definem como um coletivo formado por indivíduos e grupos de afinidade anarquistas, que se unem para uma ação. "A substância do Black Bloc muda de ação para ação, mas os objetivos principais como mostrar solidariedade frente à violência do Estado policial e dirigir uma crítica do ponto de vista anarquista, continuam os mesmos”. Para eles, algumas razões conduzem o "coletivo”: solidariedade , visibilidade, ideias, ajuda mútua e livre associação e autonomia.

Originado nas manifestações contra a Guerra Fria, na Alemanha, na década de 1980, os Black Blocs chegaram na América do Norte durante os protestos contra a Guerra do Golfo, em 1991. No Brasil, conforme afirma Emma no vídeo em que contesta as informações divulgadas pela revista Veja,os integrantes Black Bloc estão em muitos lugares ao mesmo tempo: "Somos todos Aldeia Maracaná, somos todos Ocupa Câmara, somos todos Ocupa Paes, somos todos Ocupa Renan, somos todos Fora Alckmin, somos todos Ocupa Cocó, estamos todos interligados”.

Protestos Black Bloc de destaque:
1992 - Washington D.C., Black Bloc no protesto anti-Guerra do Golfo. Janelas do Banco Mundial destruídas.
1992 - San Francisco, Black Bloc protesta contra os 500 anos de exploração e genocídio promovidos pelo Primeiro Mundo.
1999 - Philadelphia, 24 de abril, 1500-2000 anarquistas marcham no Black Bloc durante o Millions For Mumia.
1999 - Seattle, 30 de novembro, Black Bloc se engendra na destruição do distrito financeiro central.
2000 - 16 e 17 de abril, o Bloco Revolucionário Anti-Capitalista (RACB) participa dos protestos anti-FMI/BM, em Washington D.C. Entre 700 e 1000 anarquistas participaram no A16.
2000 - Primeiro de maio, Black Blocs em Nova York, Chicago e Portland.



Fonte: (Benedito Teixeira) Adital

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