terça-feira, 23 de julho de 2013

O compromisso social das Igrejas e o papel-chave das mulheres

Um documento pelo compromisso social das Igrejas deve expressar hoje, naturalmente, a consciência dos problemas e das diferenças de gênero: em todas as reflexões, portanto, deve se questionar até que ponto as mulheres e os homens são afetados de forma diferente por determinadas situações problemáticas ou por abordagens específicas de solução – e isso sem repetir modelos de papéis estereotipados. 

Um documento pelo compromisso social, acima de tudo, deve conter ideias e propostas das mulheres, o que significa que, no grupo dos autores do documentos, as mulheres devem ser ao menos a metade; melhor ainda se em maior número.

A reportagem é de Antje Schrupp, publicada no sítio Publik-forum.de, 27-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Não precisamos de mais um documento em que sejam predominantemente os homens que expressam a sua visão de mundo e as suas demandas de mudança. De fato, as mulheres não são apenas as mais afetadas pelas consequências da transformação neoliberal, mas são também as especialistas nos problemas que dela derivam.

As mais afetadas pela pobreza são as mulheres, principalmente se tiverem que se ocupar dos filhos. Em sua maioria, as mulheres desempenham aqueles trabalhos que são tão importantes para o bem-estar da sociedade, que, no entanto, ainda não está claro como podem ser organizados no futuro de uma forma mais humana: como mães, filhas ou noras com um trabalho não pago doméstico ou de cuidados nas famílias, como mulheres migrantes com direito de permanência precário ligado ao cuidado de idosos ou ao exercício de funções de serviço nas casas da população ativa alemã, mal pagas e com uma excessiva carga de trabalho na assistência em hospitais ou em instituições para idosos, ou ativas como voluntárias em projetos de caridade ou sociais.

Todas estão não só sofrendo de maneira particular por causa das atuais injustiças sociais e pagando pelas decisões políticas erradas das últimas décadas, mas também são elas que, além disso, com base nas suas experiências e na sua práxis cotidiana, dispõem de um saber precioso que é indispensável quando se buscam saídas.

Além dessas mulheres que vivem a situação na prática cotidiana, estudiosas e ativistas feministas também deveriam colaborar na confecção de um documento pelo compromisso social, já que é nesse âmbito que foram feitas muitas pesquisas e batalhas nos últimos anos, mas que raramente são conhecidas pela cultura social dominante.

Nesse sentido, é preciso esclarecer que a tarefa dessas mulheres não pode ser o de falar "em nome das mulheres" ou de representar uma chamada "perspectiva feminina". Não é que as mulheres, em razão do sexo, tenham as mesmas ideias e os mesmos interesses: o pensamento feminino é, por si só, pluralista e também controverso. Mas justamente aqueles pontos sobre os quais não há unanimidade entre as mulheres são muitas vezes pontos nodais, com relação aos quais as dificuldades de uma transformação social ficam claras, inteligíveis.

O modelo de trabalho individual em tempo integral é um modelo avançado ou precisamos de formas mais fortes de "remodelação da necessidade de uma atividade remunerada ao longo da vida"? O futuro do trabalho de assistência está em uma maior profissionalização ou não seria melhor, ao invés, favorecer formas de compromisso não pagas, por exemplo mediante uma "renda básica" incondicional? Devemos visar mais à imigração para suprir a demanda de trabalho de assistência e serviços nas casa ou, dessa forma, exploramos apenas as precárias condições de vida de outros países?

Os debates feministas dos últimos anos mostraram que há muito tempo as mulheres não se contentam mais com a sua "equiparação" no âmbito de determinadas instituições, mas fazem demandas e propostas de soluções que superaram a norma masculina como ponto de orientação. Um documento pelo compromisso social que queira olhar para o futuro deve representar esse processo.

Fonte: Ihu 

Nenhum comentário: