segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Praça Raul Soares vira ponto de prostituição e tráfico de drogas


Situada no coração de Belo Horizonte, a Praça Raul Soares tornou-se palco de uma espécie de footing dos tempos modernos. Seria um mero ponto de encontro, se a movimentação não servisse para encobrir práticas como prostituição de menores e a venda e o consumo de drogas.


Nas noites de quinta e sexta-feira, o espaço e as ruas do entorno, rodeadas de bares, saunas e boates com temática gay, recebem de 300 a 500 homossexuais e simpatizantes. Por ali eles e elas desfilam com roupas coladas, flertam e trocam beijos e carícias. Basta um olhar mais atento para perceber que adolescentes de 13 a 17 anos, que à primeira vista parecem apenas passear pelo espaço, na verdade atuam como garotos de programa. Oferecem o próprio corpo em troca de R$ 50, uma roupa de grife, um celular novo.

“A Raul Soares é ponto para tudo – da paquera à prostituição e venda de drogas”, denuncia uma fonte, que prefere o anonimato. Ele sabe do que está falando. Já caiu na armadilha. Saiu “à caça” e foi caçado. Foi molestado e sofreu humilhações ao se submeter a um programa, durante uma fase em que estava descobrindo a própria sexualidade. “Achei que estava sendo paquerado e entrei no carro de um homem mais velho. Até hoje tenho marcas de facadas e de mordidas pelo corpo. Durante três anos, nenhum homem encostou a mão em mim”, conta ele, que atualmente trabalha como chef de cozinha em um restaurante chique da Zona Sul de BH.
Depois de passar quatro noites observando a rotina no point gay do Centro de BH, a equipe do Estado de Minas confirmou as denúncias. Mas, apesar do risco, garotos e garotas não parecem preocupados com atos de violência ou com as consequências da promiscuidade, venda de álcool e drogas para menores de idade. Querem mais é se divertir. A fachada de ilusão que mal disfarça um mundo de crimes, abusos e degradação começa a ser armada cedo. Chegamos em uma quinta-feira, às 20h30. Dois amigos acabam de descer do ônibus, vindos da periferia de BH. Ao pisar no quarteirão fechado da Avenida Augusto de Lima, opera-se uma notável transformação nos adolescentes. “Fora daqui sou discriminado. Aqui eu me solto”, conta Olimar (os nomes da reportagem são fictícios), de 16 anos. Ele dá o braço a Will,13 anos, que também se solta. Com traços finos, cabelo liso de franja e voz afeminada, Will passa a desfilar com o parceiro.
 Os adolescentes de 13 e 16 anos são alvos fáceis de homens mais velhos, que se aproveitam do clima de liberalidade. “Tem uns que oferecem R$ 50, mandam a gente escolher roupa e dão até celular por uma ‘saída’”, revela o mais novo, também mais falante. Ele conta que deixou a escola depois que passou a sofrer bullying por causa do jeito afeminado. Mora com a mãe, pensionista, que rejeita a opção sexual do filho mais velho. “Ela pega no meu pé”, diz.
  Olimar não tem o mesmo problema. Depois que a mãe sumiu no mundo, mora com tias, tios, primas e primos. Continua na escola, mas precisa chegar com dinheiro em casa. Desde os 12 frequenta as ruas. “Os velhos chamam para ir até a casa deles, sabe? Teve um dia que eu encarei. O cara me seguiu com um carrão importado”, contou, omitindo o resultado do encontro.
Praça tem strip, abusos e batidas inúteis
Sandra Kiefer -
 Dependendo do frio, do chamariz das boates ou dos jogos daquela noite, a Raul Soares irá atrair um tipo de público com maior ou menor poder aquisitivo, faixa etária e de bairros bem distintos. No último fim de semana de julho, uma das casas de shows trazia como atração “meninos malvados”, que se apresentariam como gogo boys e prometiam “strip total”. Em 14 de agosto, véspera de feriado, haveria a distribuição gratuita de vodca com energético (uma dose por pessoa), além de shows com drag queens. A sinalização de que a noite vai dar ou não movimento, porém, vem de um dos bares do entorno da praça, que poderá recolher as cadeiras mais cedo de cima do passeio.
Nos bares e botecos nas imediações da praça são comuns as batidas do Comissariado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, cuja sede fica a poucos quarteirões dali, no número 600 da Avenida Olegário Maciel. As inspeções se limitam, porém, a verificar a venda e o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade nos estabelecimentos.
Ângela Maria Xavier Muniz, coordenadora do comissariado, diz ser mais difícil detectar a exploração sexual de adolescentes em espaços públicos. “Se não houver denúncia ou se a equipe não tiver certeza de que se trata de menor de idade exposto à exploração, há o risco de causar constrangimento na menina ou no menino, o que também seria crime. Ao ser abordados, eles podem alegar que estão ali por livre e espontânea vontade”, explica.
Segundo a coordenadora, a equipe está pronta para agir, caso haja denúncias concretas de pedofilia ou exploração, mas precisa ter cautela em relação aos movimentos da causa gay. “As pessoas têm o direito constitucional de ir e vir, de estar em logradouros públicos. Temos de ser cuidadosos, porque os movimentos podem levar pelo lado da discriminação, da homofobia”, afirma.
 
Flagrante
Nas questões de ordem sexual, o comissariado prefere centrar fogo em motéis, hotéis, casas de massagem e saunas, onde podem fazer flagrantes com mais facilidade. O artigo 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a entrada ou permanência de menores de 18 nesses estabelecimentos. Se o limite de idade for inferior a 14 anos, o acompanhante é imediatamente preso e poderá responder a processo criminal. Já os adolescentes entre 14 e 16 anos são detidos e encaminhados à delegacia.
Nesse caso, os documentos são apreendidos e os pais são chamados a retirá-los. “Normalmente ocorre um chororô danado, pois os pais nem desconfiavam da vida dupla do filho”, revela Ângela Muniz, lembrando que a maior parte deles se apresenta com a identidade do irmão mais velho ou de colegas de escola. “É fácil descobrir a verdade. Basta perguntar o nome do pai ou da mãe e a data de nascimento. Eles nunca sabem. Aí damos uma bronca, ameaçamos abrir processo por falsidade ideológica”, resume a coordenadora.

Entrevista
R., ex-frequentador da praça raul soares
Depois de ser espancado ao tentar se aventurar em um programa quando jovem, R. faz questão de denunciar os absurdos que já presenciou entre os garotos de programa e como morador de um dos edifícios no entorno da Raul Soares. “O medo de rejeição é tão grande que a gente acaba se machucando por dentro e por fora”, resume.
Qual é a sua visão sobre a Raul Soares?
É um mundo de fantasias. As pessoas que vêm para cá acham que tudo aqui é bonito, que aqui é legal de viver, que todo mundo aqui é seu amigo, mas no fundo é uma enganação. Atrás disso, há pessoas querendo vender drogas e injetar menores dentro das boates para fazer programas. Já vi meninos espancados, caídos no chão sem receber um centavo.
Como você percebeu isso?
 
Comecei a me descobrir mais tarde, com 16, 17 anos. Um dia, estávamos eu e um menino que conheci. Parou um carro e entramos. Eles nos molestaram. Eu ainda consegui fugir, mas já estava todo arrebentado. Quando voltei para casa, não tive coragem de contar o que tinha acontecido. Inventei que tinha sofrido um assalto. Até hoje, tenho marcas de facadas e de mordidas pelo corpo.

A violência é geral?
A iniciação dos homossexuais começa cada vez mais cedo, aos 11, 12 anos, e a violência pode ser vista nas praças, saunas gays, banheiros de shoppings da Zona Sul. A PM vê as abordagens acontecerem e não faz nada, nem a Guarda Municipal, o Juizado de Menores, a Defensoria. Conheço um rapaz de 11 anos que começou a fazer programas por ordem da própria mãe. Ela disse a ele: “Já que você quer ser veado, então vai arrumar dinheiro para pôr em casa”.
Fonte: Estado de Minas

Um comentário:

Anônimo disse...

É triste ver isso tudo de dentro do seu apartamento... Isto vem acontecendo nos últimos 2,5 anos e tem se expandido assustadoramente. Sou uma senhora e fico abismada ao ver que a Praça em que meus filhos e netos brincavam, passeavam e onde ouvíamos música clássica (2010) assistindo as luzes refletidindo na fonte, acabou. Fico constrangida só de passar e ver casais gays, entrando literalmente, uns nos outros. E se vc falar, é homofóbico... Até onde irá isso...Também tenho meus direitos, concorda?