segunda-feira, 18 de junho de 2012

Limpeza olímpica: prostitutas são alvo de prisões e deportações no Reino Unido


Um grupo formado por prostitutas, assistentes sociais e parlamentares britânicos pretende intensificar, a partir de segunda-feira (18/6), uma campanha contra prisões e deportações de trabalhadores sexuais no Reino Unido até o fim da Olimpíada de Londres, em agosto.

 O objetivo é conseguir uma “moratória” da polícia e de agentes de imigração britânicos, que tem feito varreduras em bordéis e clubes na região do Parque Olímpico para prender trabalhadores sexuais suspeitos de estarem ilegalmente no país. A prostituição é legalizada no Reino Unido, mas agenciar pessoas é ilegal, com regras semelhantes às brasileiras. Ao todo, cerca de 80 casas de prostituição foram fechadas somente no bairro de Newham, zona leste de Londres.
 Para o grupo, chamado Stop the Arrests (Parem com as Prisões), o governo britânico apóia-se em um “mito” de que a Olimpíada, assim como outros eventos esportivos de grande porte, causa um aumento no tráfico internacional de pessoas e incentiva a imigração ilegal para abastecer um “promissor” mercado do sexo.
 A campanha tem como base estudos dos Jogos Olímpicos de Atenas (2004), da Copa do Mundo da Alemanha (2006) e da África do Sul (2010) e várias edições do Super Bowl, a partida final do futebol americano. Os números ventilados de pessoas traficadas e a realidade, amparada por documentos acadêmicos repletos de estatísticas, não batem.
 Segundo os estudos, realizados pelo GAATW (Aliança Global Contra o Tráfico de Mulheres), governos têm lançados estimativas a esmo meses antes de eventos esportivos apenas para reforçar suas políticas anti-imigração.
 A GAATW afirma que grupos abolicionistas estão por trás da operação, porque acreditam que é preciso “libertar” homens e mulheres da prostituição. Eventos esportivos de grande porte, em que há um grande fluxo de homens e um suposto aumento de demanda pelo mercado do sexo, seriam uma oportunidade para impor a lógica abolicionista sob uma perspectiva “mais humanitária”.
 No entanto, com o reforço nas operações de achaque, a polícia acaba empurrando-os para a clandestinidade e tornando-os ainda mais vulneráveis. O processo de marginalização é reforçado por outdoors na região do Parque Olímpico que trazem do discurso de criminalização dos clientes.

Limpeza olímpica
 As ações da polícia em Londres, de acordo com o Stop the Arrests, só servem para aumentar o risco de exploração indevida, tornando os trabalhadores sexuais mais vulneráveis à violência de cafetões e clientes.
 Um trabalhador sexual ouvido pelo Opera Mundi disse que as pessoas já deixaram de anunciar em jornais por medo de sofrer com ação policial. “Eu acho que nem vou ficar aqui (em Londres). Aliás, minha ideia e a de muita gente que eu conheço é sair da cidade, que vai ficar um caos durante a Olimpíada”, disse ele, ligado ao grupo Stop the Arrest.
 Para o rapaz, o projeto abolicionista é equivocado porque não considera o trabalho sexual como profissão e destrói o mercado. O mesmo acredita Jenny Jones, líder do Partido Verde britânico. “A polícia metropolitana de Londres parece estar regredindo em seu entendimento das liberdades civis, mas especialmente no tratamento dado a algumas das pessoas mais vulneráveis da nossa sociedade. Os trabalhadores sexuais de Londres precisam de proteção, e não de perseguição”, afirma Jenny.
 O grupo enviou uma carta ao prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson, pedindo maior atenção à deportação de trabalhadores sexuais. Assinada por associações de prostitutas e pelo deputado trabalhista John McDonnell, o documento afirma que as detenções e deportações de trabalhadores sexuais são “arbitrárias”.

Histórico de operações
 A campanha da Stop the Arrests vem na esteira de duas Operações Pentameter, deflagradas em 2006 e 2007 pela polícia britânica contra o tráfico internacional de mulheres. A primeira “libertou” 86 mulheres e fez mais de 200 prisões.
 
 A rede estatal BBC produziu um documentário e atingiu grande audiência acompanhando a Pentameter II, mostrando os bastidores dos trabalhos de inteligência e libertação de mulheres em regime de escravidão sexual. “Não dá para dizer que não existe tráfico de pessoas”, admite o rapaz, que trabalha na zona leste de Londres. No entanto, segundo ele, a lógica de que a Olimpíada aumenta o tráfico não pode prevalecer.

 Jane Ayres, gerente de uma ONG que cuida de mulheres em risco de Praed Street, em Paddington, centro-oeste de Londres, afirma que as batidas policiais têm minado o trabalho de aproximação com as prostitutas. “Nós perdemos contato com os lugares e com várias trabalhadoras sexuais, sendo que algumas são potencialmente vulneráveis e isoladas. Isso destruiu o trabalho de saúde que fazíamos com elas”, diz.
Fonte: Opera Mundi

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