segunda-feira, 7 de maio de 2012

Crack aumenta casos de violência contra a mulher


Por 15 anos, Maria, de 44 anos, dividiu sua casa com quem achava ser o homem da sua vida. Juntos, tiveram dois filhos – além da mais velha dela, que ele ajudou a criar. Apesar de quieto, o  hoje ex-marido nunca havia  lhe tratado mal. Até que as coisas mudaram. Ou melhor, as drogas mudaram o homem,  e ele ficou agressivo. Maria foi espancada, duas vezes, por aquele que acreditava ser o amor de sua vida. E, por pouco, não morreu.

Penha, de 31 anos, também tem problemas com o marido. Depois que ela o flagrou usando crack, em   casa, percebeu que o casamento, já desgastado, não tinha volta. Arrumou suas coisas, pegou os dois filhos do casal e foi embora. O marido a espancou, e muito. Dias depois, ela ainda foi atropelada pelo agressor. E, até hoje, sofre ameaças.
 Nos dois casos, a droga é a motivadora da violência. Se antes as mulheres afirmavam que o marido se tornava outro após o consumo excessivo de álcool, atualmente apontam o crack como o principal vilão da violência doméstica.
“As  mulheres são vítimas do crack, seja por parte de maridos dependentes químicos, seja por parte de traficantes que abusam da dependência dessas mulheres”, diz a advogada Tânia Pires, do Movimento Mulheres em Ação.
Nos casos de Maria e de Penha (nomes fictícios, em referência à lei que protege essas mulheres), a agressão veio após o consumo de droga. Na primeira vez que Maria apanhou do ex-marido, ela protegia os filhos. Foi na Páscoa do ano passado. Ela pegou as crianças e fugiu. Escondeu-se na casa de uma amiga.
Dias depois, o ex-marido a encontrou quando Maria conversava com o irmão dele. “O olhar era de puro ódio. Ele correu atrás de mim enquanto eu entrava pelo bar. Logo pegou uma garrafa de cerveja, daquelas de um litro, e veio em minha direção. Usei toda a minha força para segurar a garrafa e arrancar das mãos dele. Depois, só apanhei.”
Ela foi arrastada pelos cabelos. Tentou se proteger,  abraçando um poste. Na rua, dezenas de curiosos pediam para ele parar. “Ela é minha mulher. Ninguém se mete nisso”, dizia o ex-marido, segundo Maria. A violência acabou só depois que um homem armado, reconhecido por moradores como traficante, mandou o ex-marido largá-la.
No dia seguinte,  ela chamou a polícia e fez nova denúncia. Os dois foram encaminhados até a Justiça, no mesmo carro. Ali, ele foi preso e deveria pagar  fiança de R$ 1,5 mil. “Só não está solto, porque não tem quem pague”, diz Maria.
Mesmo com a prisão, as ameaças continuam. Na última visita na cadeia, o ex-marido disse que iria matá-la, e na frente da filha mais nova. No caso de Penha, as ameaças vêm de um homem livre. O ex-marido é funcionário público – trabalha numa prefeitura –  e responde a quatro processos, todos segundo a Lei Maria da Penha.
“Já tive arma apontada na minha direção, ligações e torpedos de ameaças. Agora, ele usa minha filha para mandar recado. Aos amigos, diz que me agrediu porque me viu com outro homem. Mas, na verdade,  me bateu depois que eu o larguei. Não aceitaria viver com um homem dependente do crack, ainda mais sendo tão violento”, diz Penha.
 O pedido de separação foi a desculpa que o marido precisava para espancá-la. Dias depois, quando saía da casa onde morava com ele, viu um veículo  da prefeitura  se aproximar. “Ele me atropelou. Saiu do carro armado e ameaçava me matar, na frente de todos. Mas  não é burro e não deixa provas. Fugiu, assim como em todas as outras vezes que apareceu rondando a minha casa ou a de minha mãe.”
Há um ano, Penha vive com medo. Não sai de casa sozinha. Largou a faculdade, pois colegas eram ameaçados pelo ex-marido. Vive  com o irmão, à espera de justiça. “Hoje,  vejo que os dez anos de união eram um faz de conta. Tenho medo do que pode acontecer com meus filhos, com minha família... do que pode acontecer comigo”, frisa Penha.
 Maria e Penha são nomes fictícios, mas com histórias  que confirmam as estatísticas nacionais: 56% das vítimas de violência sofrem agressão em casa, cometida pelos parceiros, diz o estudo preliminar do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva).

Fonte: Maurílio Mendonça  gazetaonline.globo.com

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