sexta-feira, 30 de março de 2012

A roleta russa da prostituição


Patrícia Perquin trabalhou como prostituta por quatro anos no Distrito da Luz Vermelha de Amsterdã. Ela precisava pagar dívidas gigantescas que havia feito por ser viciada em compras. Uma amiga a aconselhou a trabalhar como prostituta. "Nunca", pensou Patricia. Três semanas depois ela estava sentada atrás de uma das conhecidas vitrines. A sua experiência rendeu-lhe um livro. "Não há manual para esse tipo de vida".
Perquin estava em pânico por causa de suas dívidas; um problema que ela queria resolver sozinha. "Por quatro anos e meio ouvi com frequência que deveria deixar meus sentimentos em casa, coisa que nunca consegui fazer. Se bem que não ouvi meus sentimentos quando tomei a decisão de trabalhar como prostituta. Só depois é que 'caiu a ficha'. Isso é muito louco. Até porque eu não era do tipo de mulher que ia pra cama com um homem facilmente."

Preço alto
Ainda que ela não se arrependa de sua decisão, o preço pago por ela foi mais alto do que ela imaginava. Patricia Perquim teve vida dupla; pouquíssimas pessoas sabem que ela fez esse trabalho. Nem mesmo sua família.
Ela também subestimou os riscos de ser uma trabalhadora do sexo. "Cada minuto, cada segundo que você se distrai pode significar correr risco de vida", diz ela. Perquin foi quase estrangulada por um dos seus clientes fixos.
"Ninguém vai jogar roleta russa pra ver se alguém aparece em tempo de prevenir um desastre. Ninguém quer sofrer todas as humilhações que você sofre. Se eu comparo com muitas colegas, talvez eu ainda tenha tido sorte".
"Não dá pra imaginar a vida de uma prostituta. Não se lê em lugar nenhum e não há um manual para isso", continua ela.
Patrícia Perquin vive em uma sociedade que tem uma imagem romântica do Distrito da Luz Vermelha. Por isso, ela espera que o seu livro, Achter het raam op de Wallen (Atrás das vitrines do Distrito da Luz Vermelha, trad. livre), transmita uma imagem realista do que acontece por lá. Ela está convencida que pelo menos 80% das meninas e mulheres trabalham forçadas.
Assistência
Ela se irrita ao pensar que todas as instituições de assistência que dizem ajudar as mulheres a sair dessa vida recebem 'milhões do governo' para isso. Mas quando se consulta a uma dessas entidades, elas não podem sequer pagar uma moradia, um auxílio para que as mulheres sobrevivam, ajudem a encontrar outro tipo de trabalho ou prestar ajuda psíquica, afirma Perquin.
E até mesmo os policiais, que deveriam controlar se as mulheres trabalham de maneira voluntária e regular, não cumprem bem seus papéis. "Como mulher, você vê que em um momento o policial toma um café com o seu chefe, outra hora com você. Depois você vê uma empresa comercial que organiza visitas guiadas pela área. Como construir uma relação de confiança?
 Forçada
Muito sofrimento seria prevenido se o governo, as instituições de assistência e a polícia realmente acabassem com a prostituição forçada, diz Perquin.
"Você é uma menina húngara de 18 anos. Você chega ao Distrito da Luz Vermelha de Amsterdã e não sabe nem em que país você está. Seus lábios são coloridos, seu cabelo é tingido de loiro e você veste um biquíni minusculo. A única coisa que você precisa fazer, de 16 a 18 horas por dia, é ajudar homens nojentos e suados e fazer tudo o que eles querem. Essa menina não fala sequer uma palavra de inglês, o que dirá holandês. Mas ela tem uma inscrição na Câmara do Comércio holandesa, um carimbo do serviço de imigração no passaporte, um contrato de locação, uma conta corrente e ela mesma encontrou um quarto para trabalhar no Distrito da Luz Vermelha. Agora você me explica como isso é possível".
Quebrar o silêncio
O problema, segundo Perquin é que todas as instâncias trabalham de maneira descoordenada e se preocupam mais com o próprio financiamento do que em ajudar as mulheres. Ela pleiteia para que tudo o que for relacionado com prostituição seja tratado por uma coordenadoria nacional. Dessa forma seria possível identificar rapidamente a prostituição forçada e o tráfico de pessoas.
Além disso, seria necessária a criação de um centro onde as mulheres pudessem ir para tomar um café, comprar camisinhas e fazer testes de doenças sexualmente transmissíveis; um lugar onde elas pudessem ir e realmente ser ajudadas. Dessa forma, "o muro do silêncio, forçado por medo e suspeita entre as trabalhadoras do sexo poderia ser quebrado".

Fonte: Radio Nederland‎

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