S. é uma mulher acompanhada pela Pastoral da Mulher, que já trabalhou nos hotéis da zona Guaicurus, foi usuária de drogas, e passou finalmente a exercer a prostituição na rua (no entorno da praça da Rodoviária) A partir da sua última gravidez e o nascimento de sua filha empreendeu uma mudança radical de vida.
A situação, dois anos atrás.
Eu entrei na prostituição e cai na depressão rapidamente. Na prostituição não tem apoio, não tem com quem conversar, e é uma atividade que incentiva a beber, a consumir drogas. É difícil sair, porque é um mundo que rouba todo o tempo da gente, você quer se afastar, mas a pressão para conseguir dinheiro para pagar a diária é muito forte. Também o preconceito dificulta a procura de cursos ou emprego, quando perguntam “qual é a sua experiência?” ou “ que faz atualmente?”. Vai se afastando do lazer, dos amigos. Comecei sentir vergonha de estar drogada, a perder credibilidade nos hotéis e acabei na rua. Desse modo fui caindo num buraco cada vez maior.
Dou graças a Deus por como estou agora, porque era uma vida muito negativa. O tratamento dentro dos hotéis é brutal a começar pelas diárias muito altas. Uma mulher de programa é vista pelos donos e gerentes como uma “noiada”, como alguém que não tem valor, é só uma mercadoria para ganhar dinheiro.
A necessidade de estar dentro dos hotéis para ganhar alguma grana faz suportar muita humilhação. O desejo de ter uma mixaria no bolso faz que muitas mulheres se sujeitem a todo tipo de coisas.
A dificuldade de sair
É verdade que se passam dificuldades fora da prostituição, mas também se passam dentro ...muitas vezes tem que trabalhar menstruada, colocando algodão, com risco grave de doenças,, trabalhando com pouca segurança; eu já fui agredida e já vi já colegas esfaqueadas.
A mesma disposição que precisava para encarar dentro do hotel é a que serviu para enfrentar a vida fora. Eu pensava que encontrar e assumir um serviço fora da prostituição era muito difícil, mas vi que não é tão difícil desde que você determine que não quer isso para sua vida, a partir daí, quando renuncia a acomodar-se, Deus abre novas portas para você.
A mudança
Uma coisa que ajudou na minha mudança de vida foi o costume que fui pegando de agradecer a Deus por tudo, de rezar...conversando com Ele as coisas pareciam ficar menos difíceis.
Quando fiquei gravida pensei..” Se Deus colocou aqui essa criança, Ele vai me ajudar” Eu deixei nas mãos de Deus. Lembro que uma noite, conversando com Deus, pedi não voltar mais para o lugar onde estava, queria um lugar onde pudesse crescer. Ao dia seguinte na Pastoral me ofereçam a possibilidade de ir a uma casa abrigo, a Casa Colmeia. Foi a melhor proposta que já teve. Queria um lugar seguro para minha filha. Despois, nos dias seguintes, continuei conversando com Deus. Meu proposito era, quando chegar lá, deixar a rua, o cigarro, a droga. Disse-me a mim mesma “com minha filha, pelo amor que tenho por ela, eu vou vencer a droga”
Conversar com Deus no íntimo faz muita diferença. Parece que Ele inclina seus ouvidos e dá resposta. Peço a Deus que me segure e que não me deixe
Agora trabalho na Casa, faço faxinas, estudo à tarde. Às vezes a convivência é difícil, o cansaço é grande, mas tudo é mais fácil quando você quer, quando você está determinada. A Pastoral foi determinante. Eu pensava que aqui não poderiam me ajudar, mas foi muito importante na minha vida. Também vejo como as coisas que oferecem para outras mulheres são muito boas. Agora na Pastoral se melhorou muito, os cursos são muito bons e dão a possibilidade de se profissionalizar.
Meu sonho agora: ter a minha família, não voltar às drogas, nem à prostituição, ter um emprego digno, estudar muito e fazer um curso de enfermagem.
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