Membros da Pastoral da Mulher, de Belo Horizonte, MG, receberam a visita de F. P., ex-mulher de rua, ex-prostituta e ex-usuária de crack. Ainda leva uma vida muito difícil e sofrida, mas está feliz com seu filho, A. que nasceu no final de 2010..
1) Quem é F. e o que você gostaria de dizer?
Meu nome é F P., tenho 36 anos, fui usuária de crack durante 15 anos. O crack é uma droga que acaba com a vida da gente, primeiro tira seu caráter, sua liberdade, tudo o que puder tirar de você, a droga tira.
Eu aconselharia quem nunca usou nunca provar, nunca usar. A quem estiver usando, digo: Pare enquanto é tempo. Eu tinha delírios, que tudo era maravilhoso, mas não era, era a euforia do crack. Dura 15 minutos, depois dos 15 minutos já está doido querendo mais, já está doido catando no chão, catando, querendo mais...aí começa a se prostituir, começa roubar, começa fazer coisas que só Deus duvida... mas do crack há saída. Eu comecei achar isso porque um dia eu me vi no espelho, estava olhando meu corpo e comecei a chorar. Minhas costelas davam pra contar, minha bunda caiu, meus peitos caíram muito, porque estava só pele, pele e ossos. Foi aí que eu vim em busca de ajuda, mas para quem usa crack não é a ajuda que tem que ir até ele, é ele que tem que ir até à ajuda. Porque se ele não procurar ajuda, ele não está preparado. Pode ter mil pessoas querendo ajudar, mas enquanto a pessoa não quiser ajuda, não se ver no fim do poço.
2) Como começou seu envolvimento com o crack?
Eu comecei pela maconha, depois fui para a cocaína, depois fui pro loló, tiner, cola, depois, passado um tempo, comecei a me prostituir e usar crack. E os grandes culpados dessa droga são os próprios traficantes que trazem ela até a gente, não é a gente que vai até ela.
O que leva à pessoa às drogas? Às vezes, uma paulada, uma curiosidade, leva a gente a mexer com ela. O primeiro trago é o primeiro trago da morte. O nome do crack é o osso moído do capeta. Uma droga muito pesada. O que me levou a mexer com crack foi não ter sonho nenhum. Não tenho pai, não tenho mãe. Não tinha família, não tinha lugar pra eu ficar, só tinha aquela saída. Até pra escapar de meus problemas pessoais eu usava o crack. Mas há pessoas que estão viciados no crack, porque querem, porque escolheram. Tem tudo para estudar, para ser um bom rapaz, uma boa moça, mas prefere ir para a prostituição, ser traficante, ser um enjoado. Eu não tive essa escolha. Eu já fui diretamente à droga, nasci na droga e nasci na prostituição. Minha mãe era prostituta.
Eu mesma tentei suicidar e quase consegui morrer. Mas estava sob o efeito do crack. O crack levanta a pressão, dá ataque cardíaco, destrói a gente por dentro. E efeitos colaterais que me faz sofrer hoje. Estou em abstinência. Não vou falar com vocês que não tenho vontade de usar. Tenho vontade de usar, sim. Penso coisas boas, mas também coisas ruins eu penso. Tenho vontade de fugir pra rua pra eu ficar andando, mas o medo agora se tornou maior que o vicio.
3) De onde tirou forças?
Eu tirei forças de mim mesma, da minha pessoa. Que eu vi que estava caindo para a morte, não para a vida. Morta em vida. Sem vontade de comer, de tomar suco, não tem dinheiro pra passear, não tem dinheiro pra nada, porque tudo o que você possui é para o crack. Eu passei uma fase muito ruim. Eu aprendi fumar crack com meu ex-marido.
Depois, por causa do crack, eu tive que entregar dois filhos meus para a FEBEM, porque eu não tinha como cuidar deles. Depois que eu perdi meus filhos fiquei mesmo atada ao crack. As pessoas me diziam: “vai lá, eu vou te ajudar.” Eu falava: “vou”, mas depois não ia.
Eu tirei forças de mim mesma, de minha alma. Primeiramente Deus, que me fez enxergar que eu estava me estava consumindo. Eu chorei quando vi que estava me definhando.
4) Como imaginava Deus em todo esse processo?
Aos olhos do Pai eu era perfeita, aos olhos do Pai eu sempre fui perfeita, nunca tive defeitos para Ele, mas para mim eu tinha meus defeitos.
6) Que mensagem gostaria de transmitir para as pessoas usuárias de crack?
Que elas olhassem bem no espelho, porque o espelho passa bem a imagem da gente. E olhassem bem para cada pedacinho do corpo dela e vissem como estão se definhando. E que procurassem ajuda, mas que procurassem ajuda que não seja fácil. Procure conversar e se olhe no espelho, assim eu fiz. Eu estava raquítica, eu era quase só ossos. A pessoa tem que ter coragem pra (se) olhar no espelho. Se ela não tiver coragem, ela não se auto-ajuda nem deixa ninguém ajudá-la.
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