quarta-feira, 3 de maio de 2017

'Ele dizia que para subir na vida eu precisava ser carinhosa'

Polícia investiga se meninas de 13 a 17 anos foram abusadas com promessa de carreira em Alfenas (Foto: Reprodução EPTV) 
Meninas de 13 a 17 anos eram mantidas em uma casa com a promessa de se destacarem na carreira de modelo. Uma das meninas, de 17 anos, conta que deixou o Paraná e foi para Alfenas em busca do sonho de ser modelo. "Falou que.. chegando aqui eu ia poder fazer vários cursos, eu ia ter direito a fono, à nutricionista e tudo mais, que ao chegar aqui no máximo um mês, eu já estaria trabalhando", disse a menina.

No entanto, em pouco tempo, ela descobriu que não era bem assim. Segundo a menina, o dono da agência estabelecia regras. Uma delas era ter relações sexuais com ele em troca de ascensão na carreira.
"Me prometeu várias coisas, que se eu fosse mais carinhosa com ele, me levaria para o Rio, São Paulo", contou a menina. "Ele ia no quarto, ele não batia na porta, ele entrava quando ele queria e deitava na cama. Passava a mão na gente e queria que a gente fizesse também carinho nele", contou outra.
As adolescentes contaram que pagavam cerca de R$ 600 por mês para a agência de modelos. Pelo menos sete meninas viviam na casa onde também funcionava a agência. O dono da agência está sendo investigado como suspeito de abusar sexualmente das menores. A denúncia de crime sexual foi feita ao Conselho Tutelar no fim de semana.

"Ele sempre me chamava de bruta e dizia que, para eu subir na vida, precisava ser mais carinhosa", o relato é de uma das adolescentes abusadas sexualmente pelo dono de uma agência de modelos de Alfenas, no Sul de Minas. O caso foi descoberto no último fim de semana, e o suspeito é procurado pela polícia.
Em conversa com a reportagem de O TEMPO, Lívia* , de 15 anos, contou que saiu de Goiás junto com a irmã, de 16, em fevereiro. "Ele foi até Goiás, viu minha irmã desfilando e fez o convite. Ele é muito bom de lábia e conseguiu convencer a minha mãe", contou a jovem.
Segundo ela, a mãe tomou alguns cuidados: como ir à polícia verificar se tinha alguma denúncia contra o homem. "Minha mãe ficou uma semana com a gente em Alfenas para ter certeza que estava tudo bem. Um dia depois dela ir embora, ele entrou no meu quarto e começou a passar a mão no meu corpo. As outras meninas não estavam na casa e ele se aproveitou da situação", afirmou.
Ainda de acordo com a vítima, por medo, ela não contou nada para a família. A irmã ficou sabendo do crime dias depois, mas, também por receio, não denunciou.
"Ela (irmã) arrumou um namorado e, por esse motivo, esse agenciador não fez nada. Não fomos agredidas, mas ele sempre foi muito grosso. Agora minha mãe já está sabendo e semana que vem voltamos para casa. Não vou desistir do meu sonho de virar modelo", desabafou.

Ameaçava em mandar ir embora a pé

Filha mais velha, Marcela*, que saiu do Paraná em janeiro com destino ao Sul de Minas, tenta a carreira há seis meses. Para aumentar as chances de ser chamada por agenciadores, ela postou alguns trabalhos nas redes sociais. "Ele entrou em contato comigo pelo Facebook e fez o convite para eu ir morar em Alfenas. Conversei com a minha mãe e ela deixou", disse a adolescente de 16 anos.
Ao chegar na casa, Marcela foi colocada em um quarto sozinha. Por três vezes, durante a madrugada, o suspeito foi até o cômodo. "Da primeira vez, ele entrou, deitou na cama e começou a fazer carinhos. Dizia que, se eu colaborasse, poderia conseguir bons trabalhos. Das outras duas, ele me obrigou a manter relações sexuais. Fiquei acuada e só conversava sobre isso (os abusos) com as outras meninas", explicou.
O homem ainda chantageava as vítimas e, segundo elas, chegou a esconder os documentos pessoais das garotas. "Ele dizia que se alguém descobrisse, a gente teria que ir embora a pé. Não tinha como denunciar, fiquei com medo. Espero que outras meninas que estão tentando a profissão, tomem mais cuidado e não caiam no golpe. Ele quase destruiu o nosso sonho", lamentou.

* Nome fictícios para preservar a identidade das menores.


Fonte> O Tempo e G1 Globo

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