sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

É hora de as mulheres ocuparem os espaços e ganhar protagonismo de vez

Os espaços destinados as mulheres podem ser estranhos para quem não está familiarizado, mas o cenário é mais simples do que parece: mulheres sentadas em círculo, compartilhando dúvidas, conhecimentos e experiências.

Por Paula Calçade e Naiara Albuquerque, do HuffPost Brasil


Os lugares para mulheres existem por uma razão: os espaços de fala e de poder, ao longo da história, foram ocupados por homens.
Na escola, provavelmente, uma professora ou um professor deve ter explicado que os gregos eram democráticos, e que a “Ágora”, praças públicas aonde cidadãos se reuniam, simbolizavam essa democracia.
No entanto, um fato curioso é omitido dos livros: as mulheres não frequentavam esses espaços, não era permitido. E, infelizmente, esse não é um acontecimento isolado na história e continua sendo reafirmado ao longo do tempo.
Na Revolução Francesa e na conhecida “Declaração do Homem e do Cidadão”, mais uma mulher ficou fora dos livros: Marie Gouze Olympe de Gouges, tarjada de contra revolucionária, foi guilhotinada em 1793 e por ser uma mulher “desnaturada”.
Marie Gouze pensou além de seu tempo e não se contentou com documento, que garantia apenas direitos masculinos. Por isso, fez uma nova versão: “A Declaração dos direitos da Mulher e da Cidadã”.
Dentre os artigos descritos por Gouze, está o número 10: “Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo de princípio. A mulher tem também o direito de subir ao pódio.” (…) Ou seja, a luta por espaços de representação que aceitassem mulheres, ainda não existia.
Já no século XX, Virginia Woolf continuaria a questionar o lugar “concedido” às mulheres.
O termo “Anjo do Lar” é usado pela autora para designar as atividades domésticas, ou seja, as funções exercidas pela dona de casa: cozinhar, passar, lavar, esfregar e educar, os filhos. Esse estigma marcou o século XX e suas consequências são bastante presentes nos dias atuais.
Essa linha histórica reflete um cenário que se perpetua.
Por pertencer ao espaço doméstico, portanto, recluso, todo assunto relacionado ao feminino não era dito ou problematizado. A tão corriqueira frase “em briga de marido e mulher não se mete a colher” é prova disso.
Algumas questões pertencentes a esfera pública, por se tratar não só de um fato isolado, mas como no caso, de também violência doméstica e também do feminicídio, foram cada vez mais para as sombras.
Os reflexos práticos dessa exclusão mostram que, apesar da sociedade brasileira ser composta por uma população 52% feminina, somos apenas 10% no Senado e 9% na Câmara dos Deputados, destacando a possibilidade dos espaços destinados a mulheres e de reafirmação feminina, que acentuam o “empoderamento” da mulher em diversas áreas.
Bianca Santana é uma das diretoras de um espaço voltado às mulheres na Casa de Lua, organização feminista não governamental.
Em entrevista, ela explica:

“Um dos temas das mulheres na política tem muito a ver com não se sentir confiante e preparada. É muito comum conversar com mulheres que se sentem inseguras para ocupar lugares de fala pública. Isso está dentro da gente e é muito forte. A partir da complexidade do universo da mulher, percebemos que esse olhar também é político.” (…).

Essa talvez seja mais uma forma de a mulher assumir protagonismo social, cultural, político e econômico, antes distantes. São casas, salas de universidades, reuniões, frentes feministas e reuniões entre familiares mulheres que se espalham, ganham força e possibilitam a união feminina.

São estes espaços que concedem a chance de fuga do aprisionamento dos corpos e, finalmente, empoderam mulheres nos espaços de fala, primeiro em círculos menores, para depois, ganharem o mundo.

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