domingo, 11 de outubro de 2015

Uma coisa nos falta

O ser humano melhor sucedido não é, como às vezes se pensa, aquele que consegue acumular mais quantidade de dinheiro, mas quem sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 10,17-30 que corresponde ao 28º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Antes que se coloque a caminho, um desconhecido aproxima-se de Jesus correndo. Ao que parece, tem pressa em resolver o seu problema: "Que devo fazer para herdar a vida eterna?". Não lhe preocupam os problemas desta vida. É rico. Tem tudo já resolvido.
Jesus o coloca diante da Lei de Moisés. Curiosamente, não lhe recorda os dez mandamentos, mas somente aqueles que proíbem agir contra o próximo. O jovem é um homem bom, observante fiel da religião judia: "Tudo isso tenho observado desde a minha juventude".

Jesus fica olhando-o com carinho. É admirável a vida de uma pessoa que não fez mal a ninguém. Jesus o quer, agora, para que colabore com ele em seu projeto de fazer um mundo mais humano, e lhe faz uma proposta surpreendente: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres... Depois vem e segue-me!". O rico possui muitas coisas, porém lhe falta a única coisa que permite seguir Jesus de verdade. É bom, porém vive apegado ao seu dinheiro. Jesus lhe pede que renuncie à sua riqueza e a ponha ao serviço dos pobres. Somente compartilhando o que é seu com os necessitados, poderá seguir Jesus colaborando em seu projeto.

O jovem se sente incapaz. Necessita de bem-estar. Não tem forças para viver sem sua riqueza. Seu dinheiro está acima de tudo. Renuncia a seguir Jesus. Tinha vindo correndo entusiasmado até ele. Agora se distancia triste. Não conhecerá, jamais, a alegria de colaborar com Jesus.

A crise econômica está convidando os seguidores de Jesus a dar passos para uma vida mais sóbria, para compartilhar com os necessitados o que temos e, simplesmente, não precisamos para viver com dignidade. Temos de fazer-nos perguntas bem concretas se queremos seguir Jesus nestes momentos.

A primeira coisa é revisar a nossa relação com o dinheiro: Que fazer com o nosso dinheiro? Por que poupar? Em que investir? Com quem compartilhar aquilo que não necessitamos? Em seguida, revisar o nosso consumo para torná-lo mais responsável e menos compulsivo e supérfluo: O que compramos? Onde compramos? Para que compramos? A quem podemos ajudar a comprar o que necessita?

São perguntas que devemos fazer no profundo de nossa consciência e, também, em nossas famílias, comunidades cristãs e instituições da Igreja. Não faremos gestos heroicos, porém se dermos pequenos passos nesta direção, conheceremos a alegria de seguir Jesus contribuindo para tornar a crise de alguns um pouco mais humana e suave. Se não fizermos assim, nos sentiremos bons cristãos, porém faltará a alegria à nossa religião.


A MUDANÇA FUNDAMENTAL

A mudança fundamental para a qual nos chama Jesus é clara. Deixar de sermos uns egoístas que enxergam as demais pessoas em função de seus próprios interesses para nos atrevermos a iniciar uma vida mais fraterna e solidária. Por isso, a um homem rico que observa fielmente todos os preceitos da lei, mas vive fechado em sua própria riqueza, lhe falta algo essencial para ser discípulo dele: compartilhar o que possui com os necessitados.

Há algo muito claro no evangelho de Jesus. A vida não nos foi dada para fazermos dinheiro, para termos êxito ou para obtermos um bem-estar pessoal, mas para sermos irmãos. Se pudéssemos ver o projeto de Deus com a transparência com a qual Jesus o vê e compreender, com um único olhar, a profundidade última da existência, nos daríamos conta de que a única coisa importante é criar fraternidade. O amor fraterno que nos leva a compartilhar o que é nosso com os necessitados é "a única força de crescimento", a única coisa que faz avançar, decisivamente, a humanidade para sua salvação.

O ser humano melhor sucedido não é, como às vezes se pensa, aquele que consegue acumular mais quantidade de dinheiro, mas quem sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna. Por isso, quando alguém renuncia, aos poucos, à fraternidade e vai se fechando em suas próprias riquezas e interesses, sem resolver o problema do amor, termina fracassando como ser humano.
Ainda que viva observando fielmente umas normas de conduta religiosa, ao encontrar-se com o evangelho descobrirá que em sua vida não há verdadeira alegria, e se distanciará da mensagem de Jesus com a mesma tristeza daquele homem que "foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico".

Com frequência, nós cristãos nos instalamos comodamente em nossa religião, sem reagir diante do apelo do evangelho e sem buscar nenhuma mudança decisiva em nossa vida. Nós "rebaixamos" o evangelho, acomodando-o a nossos interesses. Porém, essa religião não pode ser fonte de alegria. Ela nos deixa tristes e sem consolo verdadeiro.

Diante do evangelho, devemos nos perguntar sinceramente se nossa maneira de ganhar e gastar o dinheiro é própria de quem sabe compartilhar ou é aquela de quem busca somente acumular. Se não sabemos dar do nosso ao necessitado, algo essencial nos falta para vivermos com alegria cristã.

Tradução do espanhol por: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: http://padretelmofigueiredo.blogspot.com.br/



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