quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Novo aplicativo Tubby é tão machista quanto o rival Lulu (mas um pouco mais perverso)

O aplicativo Tubby abriu nessa segunda (2) a possibilidade das usuárias bloquearem seus perfis para que homens não consigam avaliá-las. O app é uma retaliação ao Lulu, em que mulheres dão nota e criam hashtags aos ex-parceiros baseado na performance na cama, cordialidade, dinheiro, entre outros quesitos.


No Tubby, os homens baseiam suas avaliações basicamente no quesito sexo. Criado por três desenvolvedores brasileiros que não revelam a identidade, o app permite que homens classifiquem mulheres com quem já se relacionaram usando hashtags como “#GemeNaCama”, “#EngoleTudo” e “#CurteTapas”, entre outras bem mais pesadas.

Ao solicitar o descadastramento do perfil, aparece a mensagem “Fulana arregou e não está mais no Tubby”. Como lembra o BlueBus, é recomendado que depois da remoção seja revogado o acesso ao Tubby de sua conta do Facebook. O aplicativo estará disponível para uso a partir do dia 4 de dezembro. Ele usa informações do usuário no Facebook para levantar informações das usuárias e é gratuito (disponível no iOS e Android).

Segundo um dos desenvolvedores, o aplicativo não tem medo de ser chamado de machista. “Ele é um app para homens relatarem suas experiências, apenas. Não o consideramos machista e nem queremos passar esta imagem”, disse em entrevista ao OlharDigital. Ele afirmou que também será desenvolvido um algoritmo para garantir que as hashtags não sejam tão ofensivas.

A polêmica dessa “retirada” é que ele segue uma lógica reversa. Os criadores dizem que se trata de um “direito” da usuária, mas para poder sair do aplicativo é necessário conceder acesso ao seu perfil no Facebook. Parte da premissa da participação automática, mesmo que não tenha concedido tal acesso.

Dentro das configurações do Facebook essa função está dentro das normas de privacidade e faz parte do campo “Aplicações que outras pessoas utilizam”. É possível reverter essas permissões nas configurações.


Lulu e o falso poder das mulheres

O Lulu surgiu dias atrás e movimentou a internet ao sugerir um suposto empoderamento das mulheres contra os homens. No entanto, tanto o Tubby quanto o Lulu são machistas a seu modo.

A blogueira Clarissa Wolf, do Catárticos, escreveu que o Lulu, apesar de incomodar alguns meninos, não dá nenhum poder às mulheres. “[O app] dá espaço pra premiar ou punir homens segundo critérios completamente dentro do padrão machista que a nossa sociedade vive mergulhada. Quer dizer, ao avaliar o cara no quesito ‘Educação’, a pior resposta é ‘pede para você pagar o motel’”. Laís Montagnana, no blog Casal Sem Vergonha (que mantém um blog e um canal no YouTube) escreveu que o Tubby apenas leva para o virtual o tratamento que as mulheres recebem de alguns homens.

“Por exemplo, se você escuta um ‘ô lá em casa’ ou ‘gostosa’, é o equivalente no Tubby a uma nota 9,0 acompanhada de #ComeriaTodinha #JeitoDeSafada #ChupariaInteira. Agora, se você escuta um “linda” (tipo nota 8,0), mas responde pro cara, manda ele cuidar da vida dele, tomar no cu e etc., aí você perde uns três pontos e ainda ganha #MalAmada #MalComida #DormiuDeCalçaJeans no seu perfil porque o patriarcado não gosta de mulheres respondonas.” Vale a pena ler o texto completo.

Mais do que uma guerra dos sexos com propósito de diversão, o Lulu e o Tubby podem estar servindo para dar vazão à forma distorcida como lidamos com a questão de gênero na internet. Diferentemente de aplicativos mais pragmáticos como o Tinder e o pioneiro Grindr no caso dos homens gays, esses novos apps podem ser pura objetificação e machismo.



Justiça de BH proíbe lançamento e uso do Tubby no Brasil



A 15ª Vara Criminal de Belo Horizonte proibiu o lançamento e o uso do Tubby, um aplicativo avalia as mulheres e prega a revanche dos homens contra o Lulu. A ordem prevê pena diária de R$10 mil caso a decisão seja descumprida.

O juiz Rinaldo Kennedy Silva, titular da Vara Especializada de Crimes Contra a Mulher da capital, foi quem deu o veredito. A ordem proíbe a GooglePlay Store, a AppleStore, o Facebook e a equipe Tubby de disponibilizarem o aplicativo para o público, em qualquer parte do país.

O juiz entendeu que o aplicativo  – que avalia as mulheres, de acordo com seu “desempenho sexual” - submete as mulheres a uma forma de violência psicológica capaz de ser divulgada e potencializada em segundos. O pedido teve como fundamento a Lei Maria da Penha, visando a proteção dos direitos difusos das mulheres.
A ação foi promovida por mulheres das Brigadas Populares de Minas Gerais, o Coletivo Margarida Alves, o Movimento Graal no Brasil, a Marcha Mundial de Mulheres, Movimento Mulheres em luta, Marcha das Vadias e o Coletivo Mineiro Popular Anarquista (Compa).
A advogada e integrante do movimento coletivo Margarida Alves, Fernanda Vieira Oliveira, explicou que a ação aconteceu antes do lançamento do aplicativo como forma de prevenção. “A informação na internet se propaga muito rápido. Depois que o estrago está feito é difícil ou quase impossível de reparar”, afirma.
Para embasar o processo entregue nesta terça-feira (3) à Justiça, a advogada utilizou o caso da jovem de 16 anos que se matou depois de ter um vídeo intimo, em que aparecia com o namorado e outra menina, vazado na rede.

Lançamento
Os criadores do aplicativo Tubby adiaram seu lançamento em 48 horas com direito a contagem regressiva em seu site oficial. Por enquanto ninguém mais poderá se cadastrar ou descadastrar do polêmico serviço que deveria estrear nesta quarta (4). A justificativa dos desenvolvedores foi a sobrecarga nos servidores e eles prometem divulgar uma nova surpresa em breve, como recompensa pelo atraso.

Diante da notícia, diversos internautas manifestaram suas reclamações na página do app no Facebook. "Por que ninguém conseguia fazer o descadastro antes? Cadê a tais políticas de privacidade que dizem seguir?", criticou Caroline Paiva. "Quando lançarem não haverá mais mulheres para serem avaliadas", comentou Frederico Cavalcante. "Então agora sou obrigada a baixar se não quiser participar? Que contradição", disse Caroline Paiva.

Proteção
 A melhor alternativa para se proteger da invasão de privacidade de aplicativos que se usam a base de dados do Facebook é mudar as configurações do seu perfil. Acesse a aba "Configurações de privacidade" e depois clique em "Aplicativos". Na seção "Aplicativos que você usa", selecione o Tubby App e depois clique em "Remover", para que o programa deixe de ter acesso aos seus dados. Na parte "Aplicativos usados por outras pessoas", você pode editar e desmarcar as categorias de informações que as pessoas podem levar com elas ao usar aplicativos, jogos e sites. Isso vai impedir que apps utilizem suas informações pessoais indevidamente.

Bolinha
Na próxima semana, estará disponível gratuitamente para Android e iOS o aplicativo brasileiro Bolinha, desenvolvido pela startup mineira GetSet. Trata-se de uma ferramenta, que permitirá aos rapazes realizar avaliações das mulheres que fazem parte de sua rede de amigos do Facebook. A ideia é incluir os homens na brincadeira proposta pelo aplicativo Lulu, lançado no Brasil na última semana, que permite às mulheres avaliarem com notas e hashtags o desempenho de amigos da rede social.

Os criadores do Bolinha encaram a ideia como uma brincadeira e garantem que o conteúdo será leve. Pedro Darma, fundador da GetSet, conta que já foi avaliado pela ferramenta feminina: “Eu vejo isso como uma brincadeira. Eu já fui avaliado tanto positivamente quanto negativamente pelo Lulu e levo tudo  isso numa boa”, afirma.


Fonte: OTempo

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