segunda-feira, 20 de junho de 2011

Brasileiras morrem


Carla Kreefft

O Brasil é o 12º país do mundo no ranking daqueles que mais matam mulheres. Em São Paulo, de 1997 a 2007, dez mulheres foram mortas por dia. A principal motivação para os assassinatos são o envolvimento com o tráfico de drogas e a violência doméstica, geralmente originada do parceiro.

São dados que chocam e causam tremenda indignação. Se, em países muçulmanos, as mulheres são mortas, na maioria das vezes, em função de regimes autoritários e machistas, no Brasil, apesar da democracia, a mulher também é morta por razões machistas. O crime passional é uma realidade brasileira que, apesar de não ter o respaldo oficial, persiste pela impunidade.



A legislação melhorou muito. O crime contra a mulher está bem tipificado, mas não consegue, por si só, impedir a violência. Por que a matança de mulheres persiste e até aumenta é uma pergunta que já foi respondida várias vezes pelos próprios órgãos de segurança pública. Os motivos vão desde a insegurança social da mulher - falta de condições mínimas de sobrevivência para si e seus dependentes - até a dependência emocional e afetiva em relação ao parceiro violento, passando pela falta de confiança na segurança oferecida pelo poder público em casos de denúncias e até pela ausência de apoio para reconstrução de uma nova base familiar.

Em outras palavras, a mulher brasileira continua oprimida pelos sistema social que aplaude a aplicação da força como fator de reforço da masculinidade. E, apesar dessa realidade ser mais intensa em famílias de baixa renda, a opressão masculina também é percebida em classes mais abastadas e bem informadas.

Diante dessa dura constatação, também é percebido o crescimento do número de mulheres que assumem a chefia da família. Ainda é verificado o aumento do número de mulheres cursando o ensino superior e no mercado de trabalho formal. Ou seja, as mulheres estão cumprindo suas funções e vencendo alguns dos desafios. Não há motivo e razão nenhuma para culpar a própria mulher pela situação em que ela se encontra no Brasil.

O que falta mesmo é política pública de verdade para amparo à mulher que é vítima da primeira violência e punição exemplar aos agressores. Se houvesse neste país lugares que recebessem as mulheres que são agredidas e seus filhos de maneira digna e segura, elas não teriam tantas resistências em sair da casa que dividem com seus algozes. Se houvesse cadeia para o homem que dá o primeiro tapa, muitas vidas teriam sido poupadas.

As mulheres brasileiras estão cansadas de assistir os políticos (homens) evitarem projetos mais efetivos de combate à violência. Elas estão cansadas de serem mote de campanhas eleitorais. E estão exaustas de ouvir que "no fundo, no fundo, mulher gosta de apanhar".
Fonte: www.otempo.com.br

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