quarta-feira, 11 de novembro de 2015

"Ninguém me apoiou a denunciar meu estuprador"

Liliane Oliveira integra, em Salvador, a Marcha das Mulheres, movimento mundial pelos direitos femininos (Foto: Márcio Lima/ÉPOCA)
A baiana Liliane Oliveira foi violentada na faculdade. Hoje, ela faz parte de um grupo para lutar pelos direitos femininos.

Integrante da Marcha das Mulheres, movimento internacional que combate a mercantilização dos corpos femininos, a designer baiana Liliane Oliveira, de 32 anos, sofreu na infância todo tipo de assédio em suas longas caminhadas entre a casa e o colégio, em Salvador. Algo mais grave aconteceria depois. Ela ainda era caloura no curso de serviço social da Universidade Católica de Salvador, em 2007, quando decidiu, com um grupo de colegas, disputar a eleição para o diretório central de estudantes.

Sacramentada a vitória, os membros da chapa foram comemorar em um bar perto do campus. Como Liliane morava longe do local, aceitou o convite para dormir na casa de um amigo de faculdade, dividindo o mesmo quarto. Suas lembranças do episódio são chocantes.  “Eu estava consciente. Meu amigo fechou a porta, cada um deitou no seu canto do quarto e dormimos. Acordei com o movimento de alguém me pressionando. Meu vestido estava no meu pescoço, a minha calcinha no joelho e havia um cara em cima de mim prestes a me penetrar”, diz Liliane, então com 23 anos. Quando se deu conta da situação, ela gritou desesperada, até que o amigo que dormia no mesmo quarto acordou e veio acudi-la, juntando-se a ele outras pessoas que estavam na casa. “Eles expulsaram o agressor, enquanto eu esta aos prantos”, diz ela. “Mas a história não tinha acabado. Ainda tive que ouvir do meu amigo que eu estava querendo. Naquele momento, ninguém me apoiou a denunciar meu estuprador”.

Somente algumas semanas depois Liliane conseguiu romper o silêncio autoimposto e contou o nefasto episódio a uma amiga. “Choramos juntas. Ela me encorajou a denunciar, mas eu não tinha confiança para ir a uma delegacia. Ia sofrer ao contar aquilo tudo para eles”, afirma. “Ter passado por essa experiência sem denunciá-la é parte desse processo de naturalização da violência contra a mulher.”

Naquele mesmo ano, tornou-se uma ferrenha ativista da causa. “Comecei a me entender melhor e a ver o que era o combate à violência contra a mulher. Desde então, procuro acolher as vítimas que passaram pelo que eu passei. Eu fiquei mais dura, mas agora sei o que fazer”, afirma Liliane. A segunda vez que conseguiu falar do assunto foi dois anos depois, em 2009, para ajudar outras meninas. Monique participava do Fórum Social Mundial de 2009, em Belém, quando uma outra jovem foi abusada durante o encontro. “Em uma roda de discussão da Marcha da Mulheres o assunto veio a tona e eu dei meu depoimento”, afirma.

Por que Liliane persiste, apesar da dor? “O que não me fez desistir foi o sentimento de indignação. Achei que estaria segura na Universidade, com companheiros do meu lado. Mas não estava”, diz.

Fonte: Revista Época

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