sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Sete pessoas acusadas de tráfico internacional de pessoas foram condenadas pela Justiça mineira

Somente nos dez primeiros meses de 2006, os réus, em conjunto, já tinham enviado cerca de 40 travestis para prostituição na Europa. Eram cobrados de cada um, em média, 10 mil euros pelas passagens, hospedagem e alimentação, além do uso dos pontos de prostituição. Para que não retornassem ao Brasil sem pagar o que deviam, as vítimas tinham os passaportes retidos. Os contratos assinados antes da viagem chegavam a incluir bens da família como garantia. Houve um caso em que, não conseguindo pagar a dívida com suas atividades no exterior, o aliciado teve que vender a casa de sua mãe ao retornar ao Brasil.


Luciano Garcia, Maria José Ferreira Matos, Vilmar Rodrigues Cardoso, Elvis Osório, Aurora Osório Araújo, Wesley Rodrigues Pereira e Marcelo Carrijo foram condenados pela Justiça mineira por tráfico internacional de pessoas e prostituição, eles receberam penas que vão de 7 a 19 anos e 6 meses de prisão.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), os réus levavam travestis para se prostituírem em países da Europa. A atuação do grupo criminoso começou a ser desvendada a partir de denúncias, pela Polícia Federal de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, sobre o aliciamento de travestis na região do Triângulo e Alto Paranaíba.
As investigações resultaram, no dia 18 de outubro de 2006, na realização da Operação Caraxupé pela Polícia Federal (PF), quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão e dez pessoas foram presas nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. A PF, na ocasião, descobriu que se tratavam de três grupos distintos que cometiam o crime.
Na sentença, o magistrado responsável pela sentença afirmou que existem provas quanto à relação de amizade entre os réus, mas cada grupo com sua “organização distinta para o exercício de seus negócios escusos, ilegais e imorais”. Levantamento apontou que somente nos dez primeiros meses de 2006, os réus, em conjunto, já tinham enviado cerca de 40 travestis para prostituição na Europa.
De acordo com o MPF, os líderes de cada grupo, que também eram travestis, recrutavam as vítimas em todo o Brasil, por indicações e pela internet, enviando-as para a Itália e Espanha. Para não despertar suspeitas, os travestis desembarcavam em Lugano ou Zurique, na Suíça, em Amsterdã, na Holanda, ou em Paris, na França, onde a fiscalização é menor e eles corriam menos risco de serem pegos pelas autoridades locais.
Eram cobrados de cada um, em média, 10 mil euros pelas passagens, hospedagem e alimentação, além do uso dos pontos de prostituição. Para que não retornassem ao Brasil sem pagar o que deviam, as vítimas tinham os passaportes retidos. Os contratos assinados antes da viagem chegavam a incluir bens da família como garantia. Houve um caso em que, não conseguindo pagar a dívida com suas atividades no exterior, o aliciado teve que vender a casa de sua mãe ao retornar ao Brasil. Ao serem presos, os acusados possuíam diversos documentos que comprovavam as práticas criminosas: fotografias, contratos, extratos bancários, passaportes e passagens para o exterior em nome das vítimas.
Ainda segundo o MPF, um dos grupos era chefiado por Luciano Garcia, codinome Luciana Garcia, que enviava travestis e transexuais para prostituição na Espanha. Luciana contava com o auxílio de Maria José Ferreira Matos, chamada de Zélia, cabeleireira da rua Augusta, na capital paulista, responsável pelo aliciamento de novas vítimas. O segundo grupo era chefiado por Vilmar Rodrigues, codinome Pamela, que recrutava, transportava e fornecia alojamento a diversas pessoas, principalmente travestis e transexuais, em sua residência. Em outubro de 2006, quando foi preso, viviam em sua “pensão” ao menos 16 travestis vindo de diversas partes do Brasil, com todas as despesas de transporte custeadas por Vilmar, todos à espera do embarque para a Itália.
Segundo as investigações do MPF, Vilmar Rodrigues, que era conhecido pela violência com que tratava as vítimas que não lhe pagassem pelo uso dos locais de prostituição e pela hospedagem, era dono de vários pontos de prostituição em Uberlândia. Ele cobrava cerca de R$ 80,00 por semana para que os travestis pudessem utilizar os locais. Assim, enquanto aguardavam o embarque, eles eram obrigados a se prostituírem, numa espécie de “estágio obrigatório”.
Elvis Osório de Araújo, a Lorraine, liderava o terceiro grupo. Ele era auxiliado por sua mãe, Aurora Osório, e pelos demais acusados, Marcelo Carrijo e Wesley Rodrigues, codinome Isadora. Ao contrário de Luciano e Vilmar, que atuavam apenas com travestis, Elvis também traficava mulheres para o exterior, principalmente para a Itália, onde comandava cerca de dez pontos de prostituição. Ele possuía inclusive uma casa em Milão, que era usada para abrigar aliciados.

Relatório da Situação da População Mundial do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) mostra que o tráfico de pessoas é a terceira atividade ilícita mais lucrativa do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. O número de vítimas, entre homens e mulheres, chega a 2,5 milhões.
Fonte: O Tempo

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