sexta-feira, 19 de abril de 2013

Combate ao tráfico de pessoas e trabalho escravo exige trabalho conjunto


  
A necessidade do trabalho conjunto entre instituições, poderes e sociedade civil para o combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas foi consenso entre os participantes de seminário iniciado nesta quinta-feira (18), em Belo Horizonte. 

Promovido pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, o evento reuniu representantes do Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (MG) e Secretaria de Estado de Defesa Social (MG) no auditório da Escola Superior Dom Helder Câmara.

“Fico feliz em ver tantas instituições presentes neste evento. Parcerias são essenciais para erradicarmos o trabalho escravo e o tráfico de pessoas, além de restaurar a dignidade das pessoas atingidas. São problemas que requerem a ampliação dos debates e a busca de novas alternativas”, afirmou a representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese), Carmem Rocha, na abertura do seminário.

Para a subsecretária, a história do país no que se refere ao trabalho escravo deixou uma importante lição: não basta tirar as pessoas da situação de exploração, é necessário dar condições dignas de vida, seja por meio de qualificação profissional ou programas de reinserção no mercado de trabalho. “Caso contrário, as mesmas pessoas serão recrutadas na ‘próxima safra’, voltando à situação degradante, pois precisam manter seus familiares e sobreviver”, ressaltou. E os dados da Organização Internacional do Trabalho comprovam: 60% das pessoas que estão em situações de trabalho análogo ao escravo são reincidentes.

Por sua vez, o diretor de fiscalização do Departamento de Fiscalização do Trabalho (DEFIT) do Ministério do Trabalho, Paulo Sério de Almeida, salientou que situações precárias de trabalho, antes concentradas na área rural, passaram a atingir igualmente os grandes centros urbanos. Como exemplo, o diretor citou a indústria da confecção, que tem se utilizado de mão de obra escrava de imigrantes vindos de países vizinhos da América Latina; e a construção civil. “É um setor econômico em forte expansão, mas temos encontrado, com frequência, trabalhadores sujeitos a condições degradantes de trabalho”, afirmou.

Tráfico de pessoas

O cenário do tráfico de pessoas no Brasil também apresenta situações preocupantes. No período entre 2005 e 2011, 337 pessoas de nacionalidade brasileira foram vítimas de tráfico internacional para fins de exploração sexual e 135 para fins de trabalho escravo. Os dados, apresentados em relatório conjunto do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e o Ministério da Justiça, apontam que as vítimas estavam espalhadas entre 18 diferentes países, sendo o Suriname o local com maior incidência de vítimas brasileiras.

Já sobre o tráfico interno, o relatório informa que os dados são bastante precários e a análise deve ser feita de acordo com o Estado. Em Pernambuco, por exemplo, 361 pessoas foram vítimas do tráfico de pessoas apenas em 2006. Nos anos de 2007, 2008 e 2009, o maior número de vítimas foi registrado no estado da Bahia, respectivamente 108, 72 e 50 vítimas. Minas Gerais, por sua vez, não registra o número de vítimas, mas sim o número de ocorrências: foram 1.075 entre os anos de 2005 e 2011.

“O tráfico de pessoas é um dos mais perversos crimes cometidos contra a pessoa humana. Ele exigirá dos agentes públicos e da sociedade uma ação concreta, para punir os responsáveis e socorrer as vítimas”, afirmou o superintendente regional do Trabalho e Emprego, Valmar Gonçalves de Souza.

Aspectos positivos

Com relação ao trabalho escravo, representante do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Luiz Machado, destaca o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, lançado em 2003 pelo Governo Federal.

O documento reúne 76 medidas de combate à prática, entre elas, projetos de lei que expropriam terras em que for encontrado trabalho escravo, suspendem o crédito de fazendeiros que se utilizam da prática e transferem para a esfera federal os crimes contra os direitos humanos.

“Ele traz mecanismos que não encontramos em outros lugares. Muitos países nem reconhecem o problema [trabalho escravo], porque ai não é necessário combater, O Brasil ‘jogou luz’ na questão e se destaca no cenário internacional. Claro, ainda não vencemos a questão, mas estamos no caminho”, explica Machado.

Também presente ao seminário, o procurador da república e professor da Escola Superior Dom Helder Câmara, Patrick Salgado, destacou a importância dos debates propostos pelos organizadores e afirmou que tal evento não poderia estar sediado em melhor local. “Dom Helder foi um dos maiores defensores dos Direitos Humanos desta nação. Assim devemos trabalhar, defendendo a dignidade das pessoas”, disse.

Fonte: Dom Total (Por Patrícia Azevedo)

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