sexta-feira, 15 de julho de 2011

Homens contra o machismo -A indústria do sexo e o sistema econômico-

A prostituição existiu no período greco-romano e na antiga Mesopotâmia. Porém, estas “prostitutas” antigas estavam longe de sofrer o estigma sentido pelas suas homólogas contemporâneas. Como indicou Friedrich Engels[1], o fator desencadeante da mudança foi a introdução da propriedade privada e da ideia da família nuclear. Engels explicou como as nossas relações com o mercado definem as relações pessoais e sexuais. A acumulação de riqueza e a competição no  mercado incentivou  a família nuclear e a necessidade de filhos legítimos, e confinou as mulheres dentro da família, limitando-a aos papeis de  dona do lar. Negou-se o prazer sexual dentro do matrimonio e se sublinhou unicamente a função reprodutora do sexo. O desfrute do sexo era algo a realizar fora da casa e geralmente com prostitutas.



A prostituição não é mais do que um dos aspectos da indústria do sexo.  Não podemos esquecer que o mercado transforma as relações sociais. Em nossos dias, dentro do capitalismo neoliberal criou-se a “indústria do sexo”, uma indústria que fornece acesso fácil a satisfação sexual e que converte o sexo e os desejos humanos em produtos comercializáveis ​​e demandas econômicas. Trinta milhões de pessoas se conectam diariamente na rede mundial de computadores procurando imagens de sexo explícito em alguma das 260 milhões de páginas que oferecem pornografia, segundo um estudo da empresa de pesquisas sobre a Internet N2H2
[2].  Em todo o mundo, 250 milhões de pessoas são consumidoras dos produtos e serviços desta indústria, que registra lucros da ordem de 60 bilhões de dólares ao ano, segundo a revista Forbes. Em todo mundo a pornografia gera ganho de 97 mil milhões de dólares (28% China, 27% Coréia do Sul, 21% Japão, 14% EUA). Existem 29 milhões de escravos no mundo. Desses, 1,3 milhão são explorados sexualmente. Um mercado que cresce anualmente cerca de 3,5%. Nessa crescente, ao menos 500.000 novas pessoas são vítimas de tráfico, para escravidão sexual por ano[3]. Um “mercado” que parece resistir à crise internacional. A estimativa é de que a exploração sexual rende “em torno de 70% -entre 65% e 75%, dependendo de onde você está no mundo. Isso se compara com uma margem total em torno de 60% em todas as formas de escravidão. A taxa que eu calculei é de crescimento anual de 3,5%, globalmente, da escravidão sexual, enquanto as outras formas crescem de 0,5% a 1%. Há cerca de 29 milhões de escravos no mundo hoje em dia. Desses, 1,3 milhão são sexuais. O lucro total gerado por todas as formas de escravidão em 2007 foi de US$ 91,2 bilhões. O de escravidão sexual foi US$ 35,7 bilhões, quase 40%.” (Folha de São Paulo, 1/2/2009)
Ao contrário do que o liberalismo burguês afirma a indústria do sexo não é um exemplo da liberdade sexual das mulheres, uma vez que fortalece a superioridade masculina, como parte do sistema capitalista que tenta dividir a classe trabalhadora sob falsos preceitos, tais como "raça" ou de gênero. Um exemplo que mostra isso claramente é o fato de que os clubes e boates de luxo são usados ​​principalmente por empresários, banqueiros e executivos do setor financeiro. Não é de admirar que este sector continue a ser um dos mais machistas, onde as mulheres ainda enfrentam muito assedio sexual.

 A maioria das mulheres sente como sua imagem  é exacerbadamente mercantilizada. Na publicidade de muitas mercadorias, utiliza-se em todo momento o corpo da mulher para disputar a atenção dos consumidores. Além disso, a indústria do sexo, que impõe à mulher a condição de objeto de prazer, movimenta bilhões de dólares e enriquece alguns poucos, à custa de sua completa banalização e prostituição. A mídia (programas de T.V. como “Zorra total”, “Big brother” “Pânico” e outros) contribui a vender essa imagem da mulher como um ser estupido que só importa quando tem um corpo adequado aos padrões do Sistema socioeconômico. Por outra parte, um ritmo tão popular como o funk se limita a falar de banalização do sexo, reforçando a desvalorização da mulher, com músicas que as comparam  à objetos.
Toda essa mentalidade atribui à mulher uma clara e bem definida função social: a de mera reprodutora, objeto sexual que se destinará, posteriormente, a ser mãe, preocupada exclusivamente com seus filhos e marido, alheia à sociedade e à luta de classes. Esse é o papel que as classes dominantes tentam impor à mulher.  Querem que as jovens se preocupem com seu corpo, de modo  que se enquadre no padrão de beleza, e sejam fonte de prazer. Querem que sejam dóceis e assumam sua condição subordinada, mas tentam evitar que pensem, que lutem.
A única maneira de combater essa opressão é através, não apenas de uma luta feminista, mas ao mesmo tempo,  de uma luta contra o capitalismo. O sexismo não pode ser erradicado enquanto o sistema de produção atual  continue em vigor.

José L.

[1] Engels, Friedrich, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado
[2] Sites Pornôs somam 260 milhões”; Jornal Gazeta do Povo; 25 de setembro de 2003.
[3]Kara Siddharth. Tráfico sexual el negocio de la esclavitud moderna. Alianza Editorial

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