terça-feira, 17 de maio de 2011

PAULUS LANÇA BIOGRAFIA DE MONSENHOR ROMERO

 Agora, já são 31 anos desde que o arcebispo Oscar Romero do El Salvador foi assassinado por um esquadrão da morte do Exército salvadorenho no dia 24 de março de 1980. Cristãos de todo o mundo irão relembrar o "Monseñor", como ele era conhecido, durante este ano comemorativo. O livro de Scott Wright, "Oscar Romero e a Comunhão dos Santos: uma biografia (Ed. Paulus) nos ajuda a compreender por que Oscar Romero encontrou um lugar nos afetos, nas memórias e na espiritualidade de tantas pessoas.

Scott Wright se mudou para o El Salvador no dia em Romero foi morto. Ele trabalhou como pastor de refugiados e comunidades rurais durante 10 anos e se inseriu mais profundamente na história de Oscar Romero por meio daquilo que ele aprendeu com o testemunho e o compromisso de tantos campesinos que amaram e seguiram o seu arcebispo.
Wright explora as humildes origens da vida de Romero no pequeno município de Ciudad Barrios, no leste do El Salvador, descrevendo seu primeiro aprendizado com um carpinteiro e o tempo gasto trabalhando em uma mina para ajudar na renda de sua família, quando a sua mãe estava seriamente doente.

A história do começo de sua vida é significativa para nos ajudar a responder uma das perguntas mais comuns sobre Oscar Romero: o assassinato de seu amigo jesuíta Rutilio Grande, apenas 20 dias depois de sua indicação como arcebispo em fevereiro de 1977, foi o ponto de virada na vida de Romero?
Jon Sobrino, jesuíta e amigo próximo de Romero, é citado no livro ao dizer: "Eu acho que, enquanto o arcebispo Romero olhava fixamente para os restos mortais de Rutilio Grande, as escamas caíram de seus olhos". O próprio Romero disse que ele gradualmente se viu "retornando às suas raízes, ao mundo dos pobres".

A jornada de Oscar Romero de seu humilde lar ao momento do martírio foi difícil e, às vezes, solitária. Wright explora, com citações frequentes de muitas fontes, a vida de Romero desde a sua infância até o sacerdócio, seu papel como secretário da conferência dos bispos, seu período como bispo auxiliar e reitor do seminário, até sua indicação como bispo de Santiago de Maria.

Ele traça os embates de Dom Romero com seus amigos que impeliam-no a tomar um posicionamento mais claro contra os ricos e os poderosos do país. Ele vivera durante o Vaticano II e estava muito consciente do memorável encontro dos bispos latino-americanos em Medellín em 1968. Mas era extremamente cauteloso com relação à mudança e a qualquer coisa que pudesse ser interpretada como "envolvimento político".

Um de seus críticos disse: "Dom Romero? Ele andava com ovelhas e lobos, e seu pensamento era de que ovelhas e lobos deveriam comer do mesmo prato, porque isso era agradável a Deus". Como resultado de sua profunda associação com as vidas dos pobres, Oscar Romero gradualmente achou-se novamente entre as suas raízes e permaneceu lá pelo resto de sua vida.
Por meio de valiosas citações dos sermões e das cartas do arcebispo, fica claro que, como diz Wright, "estes três temas – a dignidade da pessoa humana, a salvação das pessoas na história e a dimensão transcendente da libertação – formam o coração da espiritualidade de Romero e podem ser encontrados em quase todas as homilias que ele pregou como arcebispo de San Salvador".

Oscar Romero estava imerso no ensino social da Igreja, assim como nas Escrituras e nas vidas dos pobres. Ele preparava suas homilias meticulosamente. Como arcebispo, ele se encontrava semanalmente com conselheiros para explorar o que dizer. Comumente, ele também passava das 22h do sábado até as 4h da manhã do domingo preparando aquilo que iria dizer. Depois, dormia algumas horas e então chegava na catedral às 8h para se preparar para celebrar a Missa. "A glória de Deus", ele dizia, "é o pobre que vive".

Ele percebia claramente que a sua vida estava perto de um desfecho: o fim veio assim que ele levantou o cálice no ofertório durante uma Missa vespertina na capela do hospital em que vivia. Poucos dias antes de ser assassinado, ele ofereceu estas palavras de fé e afirmação: "Minha vida esteve ameaçada muitas vezes. Eu devo confessar que, como cristão, eu não acredito na morte sem ressurreição. Se eles me matarem, eu irei ressuscitar de novo no povo salvadorenho".

Romero morreu amando seus inimigos: "Vocês podem dizer para o povo que, se conseguirem me matar, eu perdoo e abençoo aqueles que fizeram isso. Esperemos que eles se deem conta de que estão perdendo seu tempo. Um bispo irá morrer, mas a Igreja de Deus, que é o seu povo, irá continuar".

Apesar de ser um livro pequeno, todas as fontes e comentários estão meticulosamente catalogados, além de conter muitas fotos, algumas muito fortes, que irão ajudar a dar forma e sentido à própria biografia. A história nos insere na política do país, mas também na política da Igreja do El Salvador, assim como dos Estados Unidos e do Vaticano. Mas, acima de tudo, o livro de Wright é uma meditação apaixonada, acessível e bem pesquisada sobre a vida de Oscar Romero. Essa reflexão sobre a conversão, sobre fé e coragem profundas também é um convite a cada leitor a se colocar as mesmas perguntas que estavam diante de Dom Romero.

Não há dúvida de que nas mentes e no coração de tantas pessoas no El Salvador e em outros lugares, o "Monseñor" faz parte, de fato, da "Comunhão dos Santos" – aquela parte que costumamos chamar de "triunfante". Esperemos que haja um curto período de tempo antes de isso ser oficialmente reconhecido e celebrado.

A reportagem é de Jim O’Keefe, publicada na revista inglesa The tablet. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: http://www.domtotal.com/

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