quarta-feira, 7 de maio de 2008

Entrevista com Regina Medeiros

Um enfoque antropológico. A questão do estigma.

APMM: Durante a apresentação do tema você abordou a questão do estereótipo. Como transformar essa questão do estereótipo? Quais as alternativas, ou se existem alternativas, para a transformação do olhar social, para trabalhar ou amenizar a percepção negativa da sociedade diante dos sujeitos estigmatizados, como você mesma colocou?

Regina: Não existe uma fórmula mágica. A questão de trabalhar essa negatividade desse olhar em relação à prostituta deve e já está sendo trabalhado por vocês da Pastoral da Mulher e por outros grupos que trabalham especificamente esse tema. Vocês já encontraram o caminho. Conforme analisamos percebe-se que, no caso das prostitutas de baixo meretrício, elas têm uma condição sócio-econômica muito prejudicada. Muitas delas são analfabetas, não tendo o mínimo de condição de leitura, ou não tiveram a chance de passarem pela escola. Configura-se aí o caminho, isto é, para o cidadão ou cidadã ter um lugar na sociedade é preciso que ele (a) tenha recursos para competir nesse lugar, pois como é que uma pessoa vai competir sendo que não tem informação e formação, não sabe ler ou assinar um cheque etc. Então delineia-se aí a primeira questão para transformar esse olhar negativo.

A segunda questão, e talvez seja até conseqüência, é a necessidade dessa prostituta se organizar e reconhecer os direitos que ela tem, saindo do lugar de vítima e passando para o lugar de protagonista, dona da sua própria história, sujeito dos seus atos.

APMM: Com relação aos grupos estigmatizados, você pode citar outros exemplos?

Regina: Eu posso citar, por exemplo, o grupo de presidiários ou as pessoas que passaram alguma vez pela prisão, os usuários de drogas, os dependentes de drogas, que muitas vezes são dependentes porque são doentes, sendo então vistos sempre como malandros, vagabundos que não querem saber de nada e etc. Mas nós sabemos que têm pessoas que lançam mão da droga ou se tornam dependentes de drogas por outras questões que não essa, então não tem absolutamente nada a ver uma coisa com a outra.

APMM: Então diante desses grupos que você apresentou, as prostitutas, enquanto grupo estigmatizado, sofre as mesmas discriminações ou tem a mesma relação de desprezo em relação a esses outros grupos?

Regina: Eu acho que tem, e especialmente por ser mulher, um grupo de prostitutas feminino. Elas já têm a marca de sujeira, de transgressão, de ocupar lugar de homem, de ser mulher, de ser pobre, de viver nessas zonas bem delineadas e colocadas à margem da sociedade. Nesse sentido eu acho que elas estão muito mais vulneráveis do que os outros grupos. Um grupo com o qual faço estudo é o grupo dos travestis. Embora esteticamente qualquer pessoas possa reconhecer um travesti no lugar onde ele estiver, este mesmo ainda sofre menos do que uma mulher prostituta, pois eles dizem: nós podemos estar em lugar público por sermos homem e podemos usar maquiagem por sermos mulher; nós podemos sofrer violência do cliente, mas também podemos bater devido à força física do homem; nós podemos cuspir no chão e falar palavrão por sermos homens, mas podemos dar beijinho e ir para uma missa rezar pois somos mulheres. É diferente.

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