domingo, 30 de agosto de 2015

Não nos agarramos a tradições humanas

Seria hoje um grave erro que a Igreja ficasse prisioneira de tradições humanas dos nossos antepassados, quando tudo nos está a chamar a uma conversão profunda a Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor. O que nos deve preocupar não é conservar intacto o passado, mas fazer o possível para o nascimento de uma Igreja e de comunidades cristãs capazes de reproduzir com fidelidade o Evangelho e de actualizar o projecto do reino de Deus na sociedade contemporânea.


Não sabemos quando nem onde ocorrerá o confronto. Ao evangelista só lhe interessa evocar a atmosfera em que se move Jesus, rodeado de mestres da lei, observantes escrupulosos das tradições, que resistem cegamente à novidade que o Profeta do amor quer introduzir nas suas vidas.

Os fariseus observam indignados que os seus discípulos comem com as mãos impuras. Não o podem tolerar: «Porque é que os Teus discípulos não seguem as tradições dos mais velhos?». Apesar de falarem dos discípulos, o ataque é dirigido a Jesus. Têm razão. É Jesus quem está a romper essa obediência cega às tradições ao criar à sua volta um «espaço de liberdade» onde o decisivo é o amor.

Aquele grupo de mestres religiosos não entendeu nada do reino de Deus que Jesus lhes está a anunciar. Nos seus corações não reina Deus. Continua a reinar a lei, as normas, os usos e os costumes marcados pelas tradições. Para eles o importante é observar o estabelecido pelos «mais velhos». Não pensam no bem das pessoas. Não os preocupa «procurar o reino de Deus e da Sua justiça».

O erro é grave. Por isso, Jesus responde-lhes com palavras duras: «Vós deixais de lado o mandamento de Deus para agarrarem-se à tradição dos homens».

Os doutores falam com veneração da «tradição dos mais velhos» e atribuem-lhes autoridade divina. Mas Jesus qualifica-a de «tradição humana». Não há que confundir jamais a vontade de Deus com o que é fruto dos homens.

Seria também hoje um grave erro que a Igreja ficasse prisioneira de tradições humanas dos nossos antepassados, quando tudo nos está a chamar a uma conversão profunda a Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor. O que nos deve preocupar não é conservar intacto o passado, mas fazer o possível para o nascimento de uma Igreja e de comunidades cristãs capazes de reproduzir com fidelidade o Evangelho e de actualizar o projecto do reino de Deus na sociedade contemporânea.

A nossa responsabilidade primeira não é repetir o passado, mas fazer o possível nos nossos dias para acolher Jesus Cristo, sem ocultá-lo nem obscurece-lo com tradições humanas, por muito veneráveis que nos possam parecer.

José Antonio Pagola

Fonte: Grupos de Jesus

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