domingo, 22 de novembro de 2015

Introduzir a verdade


Jesus não converte a verdade de Deus em propaganda. Não a utiliza em proveito próprio mas em defesa dos pobres. Não tolera a mentira ou o encobrimento das injustiças. Não suporta as manipulações. Jesus converte-se assim em “voz dos sem voz, e voz contra os que têm demasiada voz” (Jon Sobrino).

 A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 18, 33-37, que corresponde à Festa de Cristo Rei, final do ciclo B do ano litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto.

O julgamento contra Jesus aconteceu provavelmente no palácio em que residia Pilatos quando ia a Jerusalém. Ali se encontram numa manhã de abril de 30 d.C um réu indefeso chamado Jesus e o representante do poderoso sistema imperial de Roma.

O evangelho de João relata o diálogo entre os dois. Na realidade, mais do que um interrogatório, parece um discurso de Jesus para esclarecer alguns temas que interessam muito ao evangelista. Num determinado momento Jesus faz esta solene proclamação: “Eu nasci e vim para o mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a verdade, escuta a minha voz”.





Esta afirmação recolhe um rasgo básico que define a trajetória profética de Jesus: a Sua vontade de viver na verdade de Deus. Jesus não só diz a verdade como também procura a verdade e só a verdade de um Deus que quer um mundo mais humano para todos os Seus filhos e filhas.

Por isso ele fala com autoridade, mas sem falsos autoritarismos. Fala com sinceridade, mas sem dogmatismos. Não fala como os fanáticos que procuram impor a sua verdade. Tampouco como os funcionários que a defendem por obrigação mesmo não acreditando nela. Não se sente nunca guardião da verdade, mas testemunha.

Jesus não converte a verdade de Deus em propaganda. Não a utiliza em proveito próprio mas em defesa dos pobres. Não tolera a mentira ou o encobrimento das injustiças. Não suporta as manipulações. Jesus converte-se assim em “voz dos sem voz, e voz contra os que têm demasiada voz” (Jon Sobrino).

Esta voz é mais necessária que nunca nesta sociedade presa numa grave crise econômica. A ocultação da verdade é um dos mais firmes pressupostos da ação dos grandes poderes financeiros e da gestão política submetida às suas exigências. Quer-nos fazer viver a crise na mentira.

Faz-se todo o possível para ocultar a responsabilidade dos principais causadores da crise e ignora-se de forma perversa o sofrimento das vítimas mais débeis e indefesas. É urgente humanizar a crise pondo no centro das atenções a verdade dos que sofrem e a atenção prioritária à sua situação cada vez mais grave.


É a primeira verdade exigível a todos se não queremos ser desumanos. O primeiro dado prévio a tudo. Não nos podemos habituar à exclusão social e ao desespero em que estão caindo os mais débeis. Quem segue Jesus tem de escutar a sua voz e sair instintivamente em sua defesa e ajuda. Quem é pela verdade escuta a Sua voz.
Fonte: Ihu

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