Mês de novembro chegou e com ele
vem o dia da Consciência Negra. Muitas pessoas questionam o motivo de tal data,
reforçando que o que deveríamos ter, realmente, era um dia da Consciência
Humana.
Por Flipe Cardoso Do Chuva Acida
Muito admira os questionamentos e
as intromissões quando se trata das pautas da população negra. Em outubro
tivemos três festividades germânicas no estado, mas os mesmos questionamentos
não foram feitos. Não foi cobrado, por exemplo, para que fosse realizado uma
festa das tradições joinvilenses, com todas as culturas representadas, ao invés
de celebrarmos apenas a cultura germânica.
Esses questionamentos mostram uma
tentativa de silenciar quem sempre lutou e luta para ser escutado e
representado. Esses questionamentos são frutos de uma cultura racista que nunca
permitiu ou viu com bons olhos o que era produzido pela população negra que,
aqui na região, insistem em afirmar que não existia, mesmo que a história
afirme o contrário e mostre que, em Joinville, os negros e negras –
escravizados e libertos – já frequentavam a região, junto com as famílias
luso-brasileiras, e ajudaram os primeiros colonizadores, alemães e noruegueses,
que aqui chegaram, em 1851. Para quem ainda duvida, visitem o Cemitério dos
Imigrantes de Joinville e vejam lá enterrados alguns dos escravos que aqui
viveram.
Além do resgate e da luta para
que essa história seja propagada e apresentada tanto para moradores, quanto
para turistas, a Consciência Negra se faz necessária em uma cidade que continua
a insistir ser pertencente a um só povo e que, com isso, contribui para o
surgimento de grupos neonazistas e separatistas.
Ao acreditar que o problema
racial seria resolvido se fosse silenciado, seguindo a lógica Morgan Freemiana,
permitiu-se que o problema crescesse, fazendo surgir diversos casos e denúncias
de racismo.
Recentemente, o caso envolvendo a
modelo Haeixa Pinheiro, na disputa do concurso para eleger a rainha da 77ª
Festa das Flores, viralizou na internet e deixou mais do que evidente a importância
de uma data que relembre o sofrimento da população negra no período
escravocrata e as consequências dessa época que persistem até hoje. A
invisibilidade negra nos concursos de beleza, por exemplo, é parte das grandes
consequências geradas pela escravidão em terras brasilis.
Não me agrada esses tipos de
concursos, a objetificação da mulher e sua exposição, tendo que corresponder a
um padrão pré-estabelecido, reduzindo todas as suas qualidades a simples
aparência, tentando criar padrões que demonstrem o que é belo e o que é feio, o
que é bom e o que é ruim, o que deve e o que não deve ser aceito, mas diante
dos fatos é preciso fazer uma outra análise sobre outra problemática existente:
o racismo.
Se é permitido a presença de
mulheres brancas disputando a coroa de rainha das Escolas de Samba, no
Carnaval, por que não é permitido a presença de mulheres negras na disputa pela
coroa em eventos da cultura germânica?
Ainda insistem em nos intitular
como extremistas e intolerantes, quando a realidade nos mostra o contrário.
Haeixa pode até não saber, mas
representa a negritude joinvilense, todos aqueles e aquelas que se escondem,
não querem tocar no assunto, sentem medo. Haeixa está encorajando negros e
negras a buscarem a Consciência, a representatividade e o direito de dizer que
estamos aqui, que ajudamos a construir essa cidade e que queremos respeito.
Respeito à nossa cultura, as
nossas tradições. Respeito à diversidade.
Somos diferentes, sim. Minha pele
negra é diferente da pele branca, mas não é isso que gera o racismo. O que gera
o racismo é querer usar dessa diferença para sobressair, tirar vantagem das
outras pessoas, hierarquizar. Foi isso que foi feito na escravidão e persiste
até os dias de hoje. Sobre os que têm e os que não têm, os que mandam e os que
obedecem, os que vivem e os que morrem, os que são livres e os que são
encarcerados…
Acredito também que devemos ver o
que nos une, mas sem um olhar clínico, crítico e analítico do que nos separa,
jamais atingiremos a unidade que tanto queremos. É esse olhar clínico que a
Consciência Negra tenta trazer todos os anos, todos os meses, todos os dias,
mas nunca consegue ser escutada. Os problemas raciais são estruturais no nosso
país, não é esvaziando os debates, não é tentando silenciar que iremos chegar a
uma solução eficaz. É justamente por meio da escuta, da educação, da pesquisa,
da leitura, do conhecimento e, principalmente, da empatia.
Se você quer mesmo ter uma
Consciência Humana, comece entendendo que a Consciência Negra é importante,
pois com todas as desumanidades que nós enfrentamos nos mantemos de pé,
tentando dialogar e ensinar um pouco mais sobre a nossa cultura, a pedir mais
respeito, a lutar pelo fim do genocídio e da marginalização da nossa população,
da nossa religião, das nossas tradições.
Salve Zumbi! Salve Dandara! Salve
Tereza! Salve todos os heróis e heroínas, negros e negras, que morreram lutando
por justiça e liberdade! Estão vivos e serão sempre lembrados.
Fonte: Geledes
Nenhum comentário:
Postar um comentário