Para Roz Hardie, representação de
mulheres como objeto nos meios de comunicação permite que sociedade naturalize
violência
A exploração da imagem de
mulheres na mídia é uma das preocupações da pesquisadora Roz Hardie, diretora
da ONG britânica Object. Para a feminista, que participou do I Seminário
Internacional Cultura da Violência contra Mulheres, a circulação de conteúdo
que representa o feminino como objeto nos meios de comunicação favorece a
proliferação de ideias que mulheres "desejam ou merecem violência".
"Não diríamos que
objetificação sexual seja a causa da violência contra mulheres. Mas o que nós
acreditamos de fato é que quando você começa a ver as mulheres como objetos,
que servem simplesmente para o sexo, fica mais fácil justificar abusos e
violências contra elas e pensar que isso de alguma maneira está correto",
critica.
Nos meses que antecederam a Copa
do Mundo de 2014, Roz Hardie pesquisou como as mulheres brasileiras eram
representadas nos veículos de comunicação do Reino Unido. Em meio à preocupação
com turismo sexual e abuso de crianças, relembra Hardie, aconteceram várias
publicações que usaram representações estereotipadas das mulheres brasileiras,
reforçando a ideia de que elas estariam "disponíveis aos turistas".
"Nesse contexto de
preocupação sobre o turismo sexual, vimos algumas publicações fazerem piadas
sobre turistas indo para praia apenas pelo desejo de olhar o 'bumbum' das
mulheres brasileiras. Acreditamos que esse tipo de caso ajuda a configurar o
esteriótipo que as mulheres brasileiras estão disponíveis, o que não é nada
aceitável como algo que possa ser considerado sexy”, analisa.
Hardie destaca que o trabalho
desenvolvido pela ONG Object não tem como objetivo fazer campanha contra a
liberdade sexual ou o sexo em si.
"Nossa campanha é para que
possamos olhar a mídia e entender as relações de poder e as representações da
mulher. Como sempre digo, a representação da mulher na mídia é uma parte do
corpo da mulher que tem sido usado fora de controle. Em alguns casos mais
extremos, podemos ver imagens que podem sugerir o uso da força ou degradação
contra mulheres. É preocupante que esse tipo de conteúdo apareça em nossa
mídia. Então é importante que a mídia pense em se comportar de outras maneiras
possíveis", conclui.
(*) Entrevista de Carolina de
Assis.
Texto e Edição: Dodô Calixto.
Fonte: Opera Mundi
Nenhum comentário:
Postar um comentário