A estudante Monique Evelle sofreu
preconceito por ser mulher e negra. Agora, ajuda a recuperar meninas infratoras.
Uma princesa negra, de cabelos
crespos livres e que sempre vencia no final – o que não necessariamente
significava casar-se com o príncipe. Essa era a personagem principal das
histórias que Monique Evelle ouvia da mãe quando criança. A mãe transformava as
histórias tradicionais das princesas para confortar a filha, que chegava
aborrecida em casa. “Eu sempre tive muito apelido na rua e na escola pelo meu
cabelo crespo. Minha mãe usava as princesas para me dar poder, para reagir ao
preconceito que sofria na rua por causa do meu cabelo” diz a jovem de 21 anos
fundadora da rede Desabafo Social, que trabalha com educação e formação social,
em especial de jovens negros, em 22 estados.
Monique mora no bairro Nordeste
de Amaralina, periferia de Salvador. Filha de mãe doméstica já aposentada e pai
segurança de prédio, as boas notas na escola lhe deram oportunidade de estudar
nas melhores escolas da cidade, sempre como bolsista. “Estudei em vários
lugares de brancos, e toda vez que tentava colocar meus problemas como mulher
negra da periferia era impossível fazê-los entender”, afirma. Nos corredores da
escola de música, aos 14 anos, ela ouvia que, por ser negra, deveria ser “boa
de cama”.
Aos 12 anos de idade, quando
passeava pela orla da praia de Amaralina com a mãe, um homem gritou “gostosa” para
a menina. “Eu congelei e minha mãe veio correndo para me defender dizendo que
eu era criança e que aquilo era um absurdo. Depois daquilo minha mãe disse que
eu ainda ia receber muito elogios na minha vida – alguns agradáveis e muitos
dessa forma – e que eu precisaria reagir, que não poderia ficar calada, pois
aquilo era errado”, afirma. Monique se lembra de ver a mãe ser vitima desse
mesmo tipo de assedio pelas ruas de Salvador.
“Quando os assediadores viam que meu pai estava junto, pediam desculpas
para ele. Ela ficava indignada e ia cobrar do agressor que as desculpas fossem
dirigidas a ela”, afirma.
Os assédios continuaram pela vida
adulta. No Carnaval de 2013, em Salvador, Monique seguia por uma rua quando foi
puxada por um homem. “Ele me encurralou em um carro tentando me beijar a força.
Dizia que se eu não estivesse disponível não estaria ali”, afirma Monique.
Foram longos minutos tentando se desvencilhar do abusador até que um amigo,
como num milagre, apareceu. “O cara ainda pediu desculpas pro meu amigo, por
acreditar que se tratava do meu namorado”, diz.
Um ano depois, em 2014, quando
cursava o primeiro semestre de política e gestão da cultura na Universidade
Federal da Bahia, sofreu outra agressão. “Peguei um ônibus e sentei ao lado de
um homem branco, alto. Ele colocou a mão na minha coxa e começou a me
acariciar. Levantei e dei um tapa na cara dele gritando”, afirma Monique. Aos
berros de “Você é louco?” e de “Você deveria ser preso!” o homem levantou-se
para ir embora, mas Monique, do alto dos seus 1,64, bloqueou a passagem do
grandalhão acovardado. Todos no ônibus foram para cima dele gritando
“abusador!” e “estuprador!”. “Quando começaram a avançar para linchar o homem,
eu saí da frente para ele fugir”, diz Monique. O agressor fugiu sem punição, e
Monique ficou ali com mais aquela agressão para lidar sozinha.
Fonte: Revista Época
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