Jesus deseja despertar uma fome
diferente. Fala-lhes de um pão que não sacia a fome de um dia somente, mas da
fome e da sede de vida que há na pessoa humana. Não podemos esquecê-lo. Em nós
há uma fome de justiça para todo o mundo, uma fome de liberdade, de paz, de
verdade. Jesus se apresenta como esse Pão que procede do Pai, não para
fartarmos de comida mas para “dar vida ao mundo”.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 6, 24-35 que
corresponde ao XVIII Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O
teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto.
Por que seguir interessando-nos
por Jesus depois de vinte séculos? Que podemos esperar dele? O que se pode trazer
a nós, homens e mulheres de nosso tempo? Resolver-nos-á? O evangelho de João
fala de um diálogo de grande interesse, que Jesus mantém com uma multidão na
beira do lago de Galileia.
No dia anterior eles partilharam
com Jesus uma refeição surpreendente e gratuita. Comeram pão até saciar-se.
Como vai permitir-lhes ir embora? O que eles procuram é que Jesus repita seu
gesto e os alimente de novo gratuitamente. Eles não pensam nada mais.
Jesus os deixa desconcertados com
uma exposição inesperada. “Não trabalhem pelo alimento que se estraga;
trabalhem pelo alimento que dura para a vida eterna.” Mas como não nos
preocuparmos com o pão de cada dia? O pão é indispensável para viver.
Necessitamos e devemos trabalhar para que ele nunca falte a ninguém.
Jesus sabe disso. O pão está em
primeiro lugar. Sem comer nunca poderemos subsistir. Por isso ele se preocupa
tanto com os famintos e mendigos que não recebem dos ricos nem a migalhas que
caem de sua mesa. Por isso amaldiçoa os latifundiários insensatos que armazenam
o grão sem pensar nos pobres. Por isso ensina seus seguidores a pedir cada dia
ao Pai o pão para todos seus filhos.
Mas Jesus deseja despertar nesses
homens uma fome diferente. Fala-lhes de um pão que não sacia a fome de um dia
somente, mas da fome e da sede de vida que há na pessoa humana. Não podemos
esquecê-lo. Em nós há uma fome de justiça para todo o mundo, uma fome de
liberdade, de paz, de verdade. Jesus se apresenta como esse Pão que procede do
Pai, não para fartarmos de comida mas para “dar vida ao mundo”.
Este Pão vindo de Deus “permanece
até a vida eterna”. Os alimentos que comemos cada dia nos mantêm vivos durante
anos, mas chega um momento que não conseguem nos defender da morte. É inútil
que continuemos comendo. Eles não conseguem nos dar vida além da morte.
Jesus se apresenta como esse Pão
de vida eterna. Cada um de nós deve decidir como quer viver e como quer morrer.
Mas acreditar em Cristo é alimentar em nós a força indestrutível, começar a
viver uma realidade que não acabara com nossa morte. Seguir a Jesus é entrar no
mistério da morte sustentado por uma força ressuscitadora.
Ao escutar suas palavras, aquelas
pessoas de Cafarnaum gritam desde o profundo de seu coração: “Senhor dai-nos
sempre desse pão. Desde nossa fé vacilante, não nos atrevemos a pedir coisa
alguma. Talvez nos preocupe somente a comida de cada dia. E às vezes somente a
nossa.
Fonte: Ihu
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