Principal aliada na prevenção
contra o avanço do vírus HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs), a camisinha vem sendo deixada de lado por uma parcela da população da
capital. Esquecimento e uso de álcool estão entre as desculpas dadas por
pacientes. No entanto, alguns pacientes tem abusado da medicação.
A conclusão é de médicos e
especialistas que acompanham o dia a dia de pessoas que buscam a chamada PEP
(profilaxia pós-exposição), a medicação gratuita usada no combate ao HIV.
Desde 2013 o SUS disponibiliza a
medicação a qualquer pessoa que tenha se exposto ao risco de ser contaminada. O
tratamento chega a diminuir a chance de infecção em até 90%, e por isso
felizmente a procura pelos remédios aumenta a cada ano, segundo informações da
Secretaria Municipal de Saúde.
No entanto, alguns pacientes tem
abusado da medicação. As equipes médicas relatam casos de pessoas que vão
repetidas vezes em busca da medicação, que deveria ser utilizada em casos de
exceção. Na confiança de que a medicação vai inibir o contágio, há casos de
pessoas que saem diretamente da balada e procuram unidades de emergência para
tomar a medicação após uma noite de sexo sem proteção. “Percebemos todo tipo de
comportamento, inclusive pessoas que nos procuram repetidas vezes. São pessoas
que acabam não adquirindo hábitos de prevenção”, diz Lucinéia Carvalhais,
coordenadora municipal de Saúde Sexual e Atenção às DST’s.
Segundo ela, a demanda aumenta
sutilmente às segundas-feiras, quando um maior número de pacientes chega às
unidades especializadas da rede pública querendo o medicamento que pode salvar
a vida delas, caso tenham contraído o vírus.
A velha desculpa de que o
preservativo estourou ainda é das mais relatadas aos membros das equipes
médicas, mas o rol de justificativas é elástico. “Tem gente que diz que estava
na balada e esqueceu de usar a camisinha, outros relatam uso de álcool e outras
drogas (como justificativa) e tem até quem diz que achava que não tinha risco
(fazer sexo sem prevenção) e acordou preocupado no dia seguinte”, revela a
médica.
Na iminência de algum desses
usuários serem acusados de relapsos, os especialistas apontam que esse tipo de
julgamento é retrógrado. “O conceito de promiscuidade é uma estupidez”,
ressalta o infectologista e professor da UFMG Dirceu Bartolomeu Greco.
Para Lucinéia, condutas de
exceção não podem condenar nem ofuscar os benefícios da medicação ser
disponibilizada desta forma. “Tem gente que não aceita o uso da camisinha, mas
classificar a oferta do medicamento como fator de relaxamento não é uma posição
adequada”, avalia Lucinéia.
O que esses profissionais de
saúde tem percebido é que a epidemia da Aids já não causa mais o mesmo impacto
nas gerações atuais em comparação a décadas passadas. Os motivos, segundo eles,
são vários. “O sexo está mais fácil, sem sentido pejorativo, e além disso quem
bebe é atraído para a vida social. O álcool dilui nossa capacidade de
discernimento”, avalia Greco. “Num país extremamente machista, negociar o
preservativo (nas relações) é uma dificuldade”, completa o especialista.
Fonte: O Tempo
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