Cenas mostradas na novela não são
a realidade das modelos de Salvador
Muitos que começaram a assistir à
novela 'Verdades Secretas' se depararam com uma realidade que não conheciam,
até então. Modelos são vistas em um trabalho sério e, em seguida, acompanhando
homens que fazem parte da alta sociedade. O que a trama de Walcyr Carrasco
mostra foge um pouco da verdade em Salvador. Na capital baiana, o famoso 'book
rosa' não é tão exposto e divulgado como no folhetim e nem composto por TOPs.
O mundo das modelos que são
garotas de programa de luxo é muito mais reservado e as agências fazem sigilo
total quando o assunto é abordado. Em entrevista ao iBahia, Pepê Santos,
coordenador de produção e booker fashion da One Models, em Salvador, explicou
que, na cidade, é muito difícil encontrar uma agência de modelos séria, que
trabalhe com meninas que também são prostitutas. "Agências são profissionais, não fazem
este tipo de trabalho. Quem faz book rosa são pessoas que se dizem produtoras e
seduzem as meninas dessas agências. A situação é bem mascarada por aqui",
disse ele, que ressaltou a existência de vários tipos de modelos: "tem a
modelo comercial, a modelo fashion - a que desfila - e promotoras, que
geralmente são as mais procuradas para fazer programa. Em um trabalho, por
exemplo, ela ganharia cerca de R$ 200. Com o book rosa, ela poderia ganhar R$ 1
mil".
Modelos relataram que foram procuradas pelas redes sociais
Mas nem sempre a procura vem de
produtores. A modelo, que responde por Karina Santos* para não ser
identificada, contou que, em uma renomada agência baiana, uma pessoa chegou a
questioná-la se teria interesse em fazer book rosa. "O dono me perguntou
se algum produtor ou alguma outra pessoa ficasse interessado em mim, se eu
aceitaria sair com ele. Ele explicou que muitas outras modelos dele se
relacionaram com alguém para conseguir trabalhos e mais dinheiro",
revelou. Karina disse ainda que foi
procurada também pelas redes sociais, através do perfil dela no Facebook:
"Curtiram minhas fotos e depois entraram em contato oferecendo
oportunidade de ser acompanhante de empresários. Foi assim, na lata. Eles ainda
disseram que era para atender pessoas com dinheiro".
A estudante explicou também que o
contato com o acompanhante seria só no início: "depois ficaria por nossa
conta de fazer ou não os programas. Eles falavam que poderia ir para almoço,
jantar, reunião de negócios... Uma saída variava de R$ 250 a R$ 500". Se o contato com Karina veio de uma pessoa
em Salvador, o 'produtor' que buscou a modelo Andressa Souza*, também nas redes
sociais, conversou com ela diretamente de outro estado. A jovem - que já foi
candidata a Miss Bahia - falou que a procuraram e fizeram a proposta do book
rosa, mas sem trabalhos como modelo e/ou promotora associado. "Era
vinculada à uma agência, mas só para fazer programas. Disseram ao que eu seria
submetida, prometeram total sigilo sobre tudo e falaram do retorno financeiro,
enaltecendo bastante a 'profissão'. Os valores variavam de 2 a 5 mil por
'evento'. Ele ainda chegou a falar que tinham meninas que faziam 10 mil por
semana e que esses 'eventos' durariam em média de 1 a 2 horas", relembrou
ela, que foi procurada recentemente.
Andressa disse que, apesar de nunca ter sido sondada por uma empresa
baiana para participar do book, já soube da existência do mesmo em Salvador.
"Acho que também existe um sigilo que a profissão das modelos exige. Já
ouvi falar, sim, da existência, mas o único contato que fizeram comigo foi de
uma agência específica, que inclusive cadastravam meninas do Brasil
inteiro".
Pepê Santos, da One Models,
explicou que orienta as modelos
a terem cuidado com as redes
sociais
Sobre os cuidados que as modelos
devem ter com a internet, Pepê Santos ressaltou que sempre conversa com elas,
para não se deixar levar por este tipo de 'convite'. "Todo contato é feito
entre o cliente e a agência diretamente, exatamente para não ter este tipo de
situação. A gente sinaliza pra que elas não postem fotos com cerveja, de
biquíni, fotos mais sensuais, para não atrair esses 'produtores'. A gente
orienta de toda forma justamente para melhorar a carreira das modelos",
explicou. Conhecida no mercado da moda
baiano, Dany Brugni tem 20 anos de carreira e, de todo esse tempo, garantiu que
nunca recebeu convite para ser acompanhante, além de modelo. "Nunca recebi
e nunca convivi com nenhuma modelo que tenha recebido este tipo de proposta.
Cada um tem um jeito de enxergar a vida. Pra mim, nunca seria válido. Acho que
quem faz isso é porque gosta e não tem limites para conseguir o que quer. Pra
mim, ou você tem talento ou não tem", afirmou ela.
A loira deixou claro também que
desconhece alguma empresa em Salvador que trabalhe com o book: "A
realidade não é essa no mundo fashion, no mundo da moda. Em salvador não
acredito que aconteça efetivamente dentro de uma agência. Sei de uma em São
Paulo, mas não vou citar nomes. Mas uma agência de respeito tem bons
profissionais e ninguém vai querer queimar seu filme".
Dany Brugni afirmou que, de 20
anos de carreira, nunca foi convidada para fazer parte do book (Foto: Dodô
Villar/Reprodução/Facebook)
Dany contou ainda que, na
verdade, existem vários tipos de profissionais que fazem parte do book, não
apenas modelos. "Modelo fashion, de passarela, não faz book. Sei de
atores, bailarinas, sei de pessoas que fazem receptivo. Existe um perfil para
este tipo de proposta, mas a novela coloca uma modelo fashion, com uma carreira
promissora, uma menina super nova e uma agência fazendo isso de cara, no
primeiro trabalho dela?! Isso é uma inverdade".
Ela, no entanto, também vê o lado
positivo do folhetim de Walcyr Carrasco: "é importante por conta do lado
mais educacional, já que tem vários pais que mandam seus filhos para São Paulo
sem nem ao menos saber o que eles estão fazendo, qual o trabalho eles estão
sendo submetidos. Então espero que a novela sirva para chamar a atenção desses
pais".
* Os nomes das modelos foram
alterados para preservar a identidade delas.
Fonte: http://www.ibahia.com/
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