Persistem no Brasil os casos de
trabalho análogo à escravidão, uma das modalidades mais evidentes ligadas ao
tráfico de seres humanos. No ano passado, foram 1.674 pessoas resgatadas, mantendo
Minas Gerais como o estado com o maior número de resgates.
Por Roseli Lara (Pontifícias
Obras Missionárias – POM)
Persistem no Brasil os casos de
trabalho análogo à escravidão, uma das modalidades mais evidentes ligadas ao
tráfico de seres humanos. Embora tenha ocorrido uma tímida redução em 2014, até
meados de maio de 2015, já foram 419 pessoas resgatadas de trabalho escravo,
segundo números divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
No ano passado, foram 1.674
pessoas resgatadas e as atividades onde mais ocorreram resgates são: a
construção civil (452 casos), agricultura (358 casos) e pecuária (238),
mantendo Minas Gerais como o estado com o maior número de resgates.
O grupo móvel de combate ao
trabalho escravo, criado há 20 anos, resgatou perto de 50 mil pessoas no
período. As organizações que atuam no enfrentamento ao problema acreditam,
entretanto, que, por falta de fiscais, muitos casos não viraram denúncia, nem
foram investigados.
Presença profética da Igreja
Atuar em rede, agir em sinergia
tem sido a alternativa encontrada por organizações religiosas na defesa da
dignidade da pessoa, contra o trabalho escravo e o tráfico de seres humanos.
Com este objetivo, mais de 500 pessoas já fazem parte da rede
intercongregacional "Um Grito pela Vida” que, desde 2006, é parte
constitutiva da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e integra a Talitha
Kum, Rede internacional da Vida Religiosa Consagrada.
Cresce o número de religiosas (os)
engajadas e os leigos também passam a fazer parte, como relata a coordenadora
nacional da rede, irmã Eurídes Alves de Oliveira, observando que a rede tem 23
núcleos no Brasil, em 20 estados e no Distrito Federal, com 10 a 15 religiosas
e leigos em cada núcleo.
"No conjunto, hoje, a rede
soma mais de 500 pessoas, com 300 religiosas, porque a maioria é formada de
religiosas e em torno de 20 religiosos, mas muitos leigos ligados a
congregações, estudantes, enfim voluntários, na rede”.
Recentemente, a rede "Um
Grito pela Vida” ajudou a organizar, em Brasília, o III Seminário Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos, como atividade do Grupo de Trabalho
(GT) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) contra o Tráfico
Humano e Trabalho Escravo. O propósito do evento, segundo a diretora do
Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), irmã Rosita Milesi, foi de
enfatizar que, por trás das estatísticas, existem seres humanos, feridos em sua
dignidade.
A ação do grupo é justificada já
que o Brasil é mencionado pelas Nações Unidas como país de trânsito, origem e
destino de pessoas traficadas, a grande maioria mulheres vítimas da exploração
sexual, mas também, embora não seja devidamente tipificado em lei, os casos de
escravidão laboral, que configuram tráfico humano.
Segundo a coordenadora da rede
"Um Grito pela Vida”, o Brasil é responsável por 15 por cento das pessoas
traficadas para o exterior para exploração sexual. "A América Latina
juntamente com o continente asiático lideram a estatística mundial. O Brasil
tem também um grande fluxo de tráfico interno para exploração sexual, trabalho
escravo e servidão doméstica, que ainda está na invisibilidade e com assédio e
exploração sexual concomitante”, lamenta.
Passos lentos
Na opinião de irmã Eurídes, de
2005 em diante, com o estabelecimento da Política Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico Humano, houve alguns avanços, mas o Brasil age apenas na ponta do
iceberg.
"Andamos a passos de
tartaruga, porque, de fato, a concretização é devagar. Há falhas no
monitoramento e lá na ponta, no interesse dos estados e municípios, Por
exemplo, o mapa do Ministério da Justiça fala que, no Amazonas, existem 11
núcleos, mas, na verdade, são dois, que funcionam precariamente”, denuncia.
A coordenadora da rede é
imperativa: "falta vontade política e recursos e há muitos casos de
tráfico de pessoas com envolvimento de políticos”.
Fonte: Adital
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