O que chamou a atenção de muita
gente nas redes sociais nesta segunda-feira (25) foi a diferença abissal no
tratamento das personagens da notícia.
Notoriedade é um dos
valores-notícia mais presentes no jornalismo nosso de cada dia. Isso significa
que, desde sempre, um acidente fatal ganha outro status se tem um famoso no
meio -- como vítima ou responsável.
O que reverberou as últimas 40
horas foi um quase acidente. Envolvendo famosos. É evidente que os fãs de
Angélica e Luciano Huck têm o direito de saber o que se passa com seus ídolos
após um susto como o pouso forçado do avião deles.
À imprensa, cabe noticiar.
Detalhar causas do incidente, passo a passo do resgate, estado de saúde de
todos.
O que chamou a atenção de muita
gente nas redes sociais nesta segunda-feira (25) foi a diferença abissal no
tratamento das personagens da notícia.
Se as celebridades eram o
chamariz do fato, os filhos do casal de apresentadores também estavam no
primeiro plano. Falava-se o tempo todo sobre Benício, Joaquim e Eva.
Os tripulantes também ficaram sob
os hofolotes: Osmar Frattini e José Flávio de Souza, piloto e copiloto
respectivamente. Na televisão, Osmar tornou-se herói por ter evitado uma
tragédia.
Mas e as duas assistentes da
família? O que aconteceu com elas? Que informações eram dadas sobre o
comportamento delas no voo, enquanto Angélica gritava? Quais foram suas
reações? E como está a saúde das duas?
Este recorte do jornal mostra o
grau de importância dado às duas babás, que também seriam vítimas desse quase
acidente:
As babás não têm nome.
Sem identidade, não têm voz.
Quantas declarações feitas por
ela foram escritas e lidas até aqui?
Na entrevista exclusiva dada por
Angélica e Huck ao Jornal Nacional, ficou claro o papel que cabia a elas nessa
narrativa.
Apesar de lado a lado dos
protagonistas, as duas foram figurantes na cobertura da imprensa mainstream e
até mesmo nas declarações dos ídolos de TV.
"A Eva chorava muito; a
gente achou que ela tinha se machucado por dentro. Ela estava com uma marca na
lateral, mas foi a babá quem apertou muito ela", disse Huck, em uma das
duas únicas referências dele às suas funcionárias. Na outra, apenas explicou
onde elas estavam no avião.
Quase no fim da edição do Jornal
Nacional desta segunda, a âncora do JN Renata Vasconcellos questionou o
repórter José Roberto Burnier sobre a saúde das babás.
E foi então que elas foram
apresentadas em rede nacional. Ao menos, os nomes.
Marciléia Eunice Garcia e
Francisca Clarice Canelo Mesquita. Nesse momento, deixavam de ser elenco de
apoio para figurar como protagonistas da notícia. Como os patrões e seus
filhos. Enfim.
Possivelmente, a ênfase no nome
delas, quase na hora de o telejornal acabar, foi reflexo do incômodo nas redes
com a visibilidade tão baixa dada a elas nesse caso (afinal, o editor-chefe,
William Bonner, não perde tweets e posts).
Muita gente chegou a argumentar
que não se podem revelar os nomes por supostos contratos de confidencialidade
entre Angélica e suas funcionárias.
Se essa era a justificativa para
as babás serem apresentadas como categoria de pessoas tipo B, isso deveria
estar em cada uma das matérias publicadas sem os nomes. Do contrário, não
conheço qualquer manual de redação que proíba a publicação dos nomes de pessoas
envolvidas em acidentes.
Mesmo que Marciléia e Francisca
não sejam notórias como aqueles que pagam seu salário, as vidas delas também
estiveram sob ameaça. E os sentimentos delas, as atitudes, os pensamentos
também deveriam (e ainda podem) ser material jornalístico.
Que bom que essa história teve um
final feliz. E que todos -- Marciléia, Francisca, Huck, Angélica, Osmar, José
Flávio, Benício, Joaquim e Eva -- todos estão bem.
Fonte: Brasil Post
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