quarta-feira, 27 de maio de 2015

Investigação que cita Richa envolve rede de exploração sexual de menores


O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime) tem em mãos três investigações que se cruzam em casos de sexo, corrupção e pessoas ligadas ao governador Beto Richa (PSDB).O ponto em comum entre elas é o auditor fiscal Luiz Antônio de Souza, preso em flagrante no motel com uma menina de 15 anos. Acusado de participar de esquema de cobrança de propina de empresários para reduzir ou até anular dívidas tributárias, ele também levou os investigadores à apuração de uma rede de servidores e empresários para exploração sexual de menores.


O nome do governador Beto Richa (PSDB) aparece em investigações do Ministério Público do Paraná (MP-PR). Richa é citado em um esquema de corrupção na Receita Estadual em Londrina, no norte do estado. Segundo um delator, parte do dinheiro arrecadado por auditores fiscais ia para a campanha de reeleição do governador.
Nome do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), aparece em investigações  (Foto: Divulgação/ ANPr)

Além disso, pessoas ligadas ao governador e ao governo foram denunciadas nos casos de fraude em licitação para o conserto de carros oficiais do Governo do Paraná e de exploração sexual de menores, ambas também investigadas pelo MP-PR em Londrina.
Em depoimento prestado dentro de acordo de delação premiada, o auditor fiscal Luiz Antônio de Souza, acusado de ser um dos chefes de uma organização criminosa que agia na Receita Estadual, disse que parte da propina supostamente arrecadada pelos auditores foi usada para financiar a campanha de reeleição de Richa.

O advogado de Souza, Eduardo Duarte Ferreira, disse que, segundo o cliente, R$ 2 milhões foram arrecadados a partir fevereiro de 2014 para a campanha do tucano.
Deflagrada em março pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Operação Publicano descobriu um esquema de sonegação de impostos e de cobrança de propina dentro da Receita Estadual de Londrina. As investigações começaram em junho de 2014 e revelaram, segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR), que um grupo de auditores fiscais cobrava propina de empresários para não aplicarem multas. Para dar legitimidade ao esquema, os mesmos auditores e outros empresários abriam empresas em nomes de "laranjas" para emitir notas fiscais.
Ainda de acordo com o advogado do delator, Souza afirmou que não teve contato direto com o governador, mas que o pedido da propina para financiar a campanha teria sido feito por Márcio de Albuquerque Lima, considerado o chefe da quadrilha na Receita e parceiro de Richa em corridas de carro.
O dinheiro, segundo Souza, teria sido entregue por Lima ao empresário Luiz Abi Antoun, parente do governador. Antoun é acusado de chefiar uma quadrilha que fraudou uma licitação para o consertos de carros oficiais do Governo do Estado. Lima foi indicado à chefia da Receita em Londrina por Antoun, conforme as investigações.
O delator afirmou também que pagou com dinheiro de propina as divisórias de madeira usadas no comitê eleitoral do governador em Londrina. O serviço custou pouco mais de R$ 20 mil, disse o auditor em depoimento. Cinco notas fiscais que comprovam a aquisição do material já foram apresentadas ao Ministério Público, afirma o advogado de Souza.
Em vídeo divulgado no Facebook, o governador repudiou a denúncia de dinheiro de propina destinado para a campanha. Já o PSDB, partido de Richa, nega as acusações.


Réus doaram dinheiro para campanha

Conforme a prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral, em 2014, nove réus da Operação Publicano doaram, ao todo, R$ 29 mil à campanha de reeleição de Richa.
As maiores doações foram feitas por Márcio de Albuquerque Lima, e pela mulher dele, Ana Paula Pelizari Marques Lima, também investigada: R$ 5 mil cada um.
O governador também recebeu contribuição de Dalton Lázaro Soares, Iris Mendes da silva, José Luiz Favoreto, Marco Antonio Bueno, Miguel Arcanjo Dias, Ranulfo Dagmar Mendes e Rosângela de Souza Semprebom, todos réus no processo.
A maioria depositou a quantia em dinheiro, direto na conta destinada à campanha. Ainda conforme o que foi declarado para a Justiça, outros 26 auditores fizeram doações ao tucano. Ao todo, R$ 83,6 mil foram arrecadados com eles para a disputa do pleito.
O PSDB nega qualquer irregularidade nas doações. Segundo o partido, os auditores o fizeram de forma voluntária, dentro da lei, com tudo aprovado posteriormente pela Justiça Eleitoral.


Parente chegou a ser preso

O empresário Luiz Abi Antoun, que tem um grau de parentesco com Beto Richa, foi preso pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Londrina, no norte do estado, no dia 16 de março junto com outras três pessoas por participação no esquema de fraude em licitações. Ele foi solto no dia 23 de março após a Justiça conceder um habeas corpus.
Conforme a promotoria, Antoun coordenou o esquema de fraude em licitações entre o início de 2013 e março de 2015. Na denúncia, o Gaeco relata que a Oficina Providence Auto Center, de Cambé, no norte do Paraná, contratada emergencialmente, foi constituída em nome de um “laranja” de Luiz Abi Antoun.
O MP-PR aponta que, ao fim do contrato emergencial, uma outra empresa venceu a licitação do Governo do Estado para prestar os serviços de manutenção nos automóveis. Para a promotoria, os suspeitos entraram em um acordo com os donos da firma contratada para que a mesma subcontratasse a Providence.
Em depoimento ao MP-PR, o fotógrafo e ex-assessor do governo do Estado Marcelo Caramori afirmou que Antoun era o “grande caixa financeiro” nas campanhas de Richa. O fotógrafo foi preso por duas vezes, sendo uma por exploração sexual de menores e outra por estupro de vulnerável por se tratar de uma menina menor de 14 anos. Ele foi solto em março, e responde em liberdade após fazer um acordo de delação para auxiliar nas investigações.
Richa negou que Antoun era responsável pela arrecadação de dinheiro em suas campanhas eleitorais. Sobre o parentesco com Abi, o governador garante que é algo distante.


Esposa de Richa também é investigada

O Ministério Público investiga também uma denúncia de que a esposa de Beto Richa, Fernanda Richa, exigiu dinheiro de auditores fiscais para que o governador os promovesse. A denúncia foi feita em março, por meio da Promotoria de Justiça e Patrimônio Público de Curitiba.
De acordo com a ação, Fernanda pediu R$ 2 milhões para que o marido elevasse os cargos dos auditores. O decreto de promoção deles, citado na denúncia, foi publicado no Diário Oficial em 5 de maio de 2014.
Em nota, Fernanda Richa disse que classifica os fatos narrados na denúncia como "inverídicos e caluniosos". Ela ressaltou que "jamais interferiu em atos administrativos de competência do governador Beto Richa".


Governador e empresa foram condenados a devolver R$ 2 milhões

Richa, o Secretário Chefe da Casa Militar, Adilson Casitas, e o sócio da empresa Helisul Eloy Biezus foram condenados a indenizar o Governo do Estado em R$ 2.082.150. Eles foram considerados culpados em primeira instância pela contratação de um avião a jato e de um helicóptero sem licitação, entre março e junho de 2011.
Na ação, o autor alega que o Estado do Paraná conta com “frota própria de excelentes aeronaves” e que um dos sócios da empresa Helisul “é amigo pessoal do Governador do Estado e já teria prestado serviços para o PSDB quando da corrida eleitoral”.

A assessoria do governo do Estado informou que o contrato foi assinado respaldado em parecer jurídico, garantindo a legalidade da contratação. “Foi amparado ainda na avaliação técnica de membros da Casa Militar, que atestaram a necessidade da contratação. Cabe ressaltar também que não houve prejuízo algum aos cofres públicos. E, por último, o governador Beto Richa irá recorrer da decisão”, afirma em nota.

Fonte: Globo

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