Segundo os evangelhos, as
tentações experimentadas por Jesus não são propriamente de ordem moral. São
situações em que lhe são propostas formas falsas de entender e viver a sua
missão.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 4,1-13 que corresponde ao 1°
Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Segundo os evangelhos, as
tentações experimentadas por Jesus não são propriamente de ordem moral. São
situações em que lhe são propostas formas falsas de entender e viver a sua
missão. Por isso, a sua reação serve-nos de modelo para o nosso comportamento
moral, mas, sobretudo, alerta-nos para não nos desviarmos da missão que Jesus
confiou a seus seguidores.
Antes de qualquer coisa, as suas
tentações ajudam-nos a identificar com mais lucidez e responsabilidade as que
podem experimentar hoje a sua Igreja e os que a formam. Como seremos uma Igreja
fiel a Jesus se não somos conscientes das tentações mais perigosas que nos
podem desviar hoje do seu projeto e estilo de vida?
Na primeira tentação, Jesus
renuncia a utilizar Deus para «converter» as pedras em pães e saciar assim sua
fome. Não seguirá esse caminho. Não viverá procurando seu próprio interesse.
Não utilizará o Pai de forma egoísta. Se alimentará da Palavra viva de Deus, só
«multiplicará» os pães para alimentar a fome das pessoas.
Esta é provavelmente a tentação
mais grave dos cristãos dos países ricos: utilizar a religião para completar
nosso bem-estar material, tranquilizar nossas consciências e esvaziar nosso
cristianismo de compaixão, vivendo surdos à voz de Deus que nos continua a
gritar, onde estão vossos irmãos?
Na segunda tentação, Jesus
renuncia a obter «poder e glória» oferecidos com a condição de submeter-se como
todos os poderosos aos abusos, mentiras e injustiças em que se apoia o poder
inspirado pelo «diabo». O reino de Deus não se impõe, oferece-se com amor. Só
adorará ao Deus dos pobres, débeis e indefesos.
Nestes tempos de perda de poder
social é tentador para a Igreja tentar recuperar «o poder e a glória» de outros
tempos pretendendo inclusive um poder absoluto sobre a sociedade. Assim podemos
perder uma oportunidade histórica para entrar num caminho novo de serviço
humilde e de acompanhamento fraterno ao homem e à mulher de hoje, tão
necessitados de amor e de esperança.
Na terceira tentação, Jesus
renuncia a cumprir a sua missão recorrendo ao êxito fácil e à ostentação. Não
será um Messias triunfalista. Nunca colocará Deus ao serviço da Sua vanglória.
Estará entre os seus como quem que serve. Sempre será tentador para alguns
utilizar o espaço religioso para procurar reputação, renome e prestígio. Poucas
coisas são mais ridículas no seguimento de Jesus que a ostentação e a busca de
honras. Fazem mal à Igreja e esvaziam-na de verdade.
Fonte: Ihu
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