O diagnóstico de microcefalia foi
a sentença de morte para o casamento de Yanca Mikaelle de Lima, 18 anos. Ela
lembra que o marido e toda a família dele começaram a se afastar quando um
ultrassom no sétimo mês de gravidez detectou o problema. Na semana seguinte, a
gestante e o outro filho do casal estavam de volta à casa da mãe dela.
Como previsto pelos médicos,
Sofya Emanuelle de Lima nasceu com microcefalia na maternidade de Campina
Grande, Paraíba, em 31 de janeiro. Yanca recorda que teve zika no terceiro mês
de gravidez e os sintomas foram leves, manchas vermelhas durante um dia. Isto
foi em outubro, e o surto de microcefalia ainda não era conhecido.
Aos sete meses de gravidez, Yanca
precisou ser internada porque Sofya parecia querer nascer antes da hora. Os
médicos aproveitaram para fazer o ultrassom e o comportamento do marido mudou.
Àquela altura, no começo de dezembro, havia pouca informação sobre a vírus da
zika entre a população. A própria Yanca conta que não tinha ideia do que
significava o perímetro cefálico ter menos de 32 centímetros.
Ela acredita que o ex-marido e a
família imaginaram ser algo bastante grave e que provocasse sequelas severas,
por isso mudaram o comportamento. Naquele começo de dezembro, a grávida
percebeu que seria melhor cuidada voltando para a casa da mãe. Não houve
resistência, conta. Procurado, o ex-marido não quis conversar com a reportagem
do UOL.
Princesa, apelido que Sofya
ganhou desde a descoberta da gravidez, perdeu o trono na família do pai. Yanca
diz que o ex-marido vai visitá-la apenas para buscar o filho de um ano e noves
meses que tiveram juntos. Quanto à menina, dá uma rápida olhada e logo vai
embora. Mas ela ainda aceitaria voltar com o marido.
“É difícil. A gente tem dois
filhos, ainda gosto muito dele, mas num tá tendo atitude de pai de verdade”.
O apoio de pai seria fundamental
para o momento que Yanca atravessa. Na última sexta-feira (12), enrolada em um cobertor com a palavra
“princesa” escrita, Sofya passou por avaliação no ambulatório destinado aos
bebês com microcefalia do Hospital Municipal Pedro I. Ela terá de fazer
fisioterapia três vezes por semana.
Madrugar, pegar ônibus com um
recém-nascido e voltar no calor do sertão paraibano não é fácil. A avó de Sofya
vai junto, ajudando a carregar os apetrechos de criança. Bom para Yanca e
péssimo para as finanças da família. Somente o pai-avô trabalha, e fica pesado
para um pedreiro sustentar cinco filhos, incluindo a recém-chegada Yanca, mais
dois netos. Os R$ 132 gastos em passagem fazem falta.
O acesso ao tratamento é
complicado, mas Yanca nem pensa em desistir porque sabe a diferença que faz no
desenvolvimento da filha. A fisioterapeuta Jeime Leal está 100% de acordo. Ela
explica que as sessões são a diferença entre ter a máxima qualidade de vida
possível ou uma vida com sequelas.
Jeime explica que, sem o
tratamento, todas as fases de desenvolvimento, como rolar, sentar, engatinhar e
andar, acontecem mais tarde. Existe a possibilidade de algumas sequer serem
alcançadas. Yanca sabe disso, mas desistir não é uma opção. Até porque ela
acredita que Sofya terá uma vida, senão normal, muito perto disso.
“Imagino ela estudando e
brincando com as outras crianças”.
Deixar de ir à fisioterapia é
tirar isto da própria filha, algo inconcebível para Yanca. A mãe faz tudo que
está ao alcance por temer o que não depende de suas forças: Sofya sofrer preconceito
no futuro.
Fonte: UOL
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