Café Hot na rua João Gomes,
próximo ao Largo de Santana, pouco antes da ladeira que vai para a Cardeal da
Silva: novo espaço é alvo de polêmica (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
O anúncio de interdição na porta
do Café Hot, no Rio Vermelho, nos fundos da primeira Igreja de Santana, foi o
ponto alto de uma polêmica que começou logo após a Festa de Iemanjá, no início
mês, e durou até a chegada dos técnicos da Secretaria Municipal do Urbanismo
(Sucom), na noite de anteontem.
O próprio Jorge foi um espectador privilegiado
da confusão: o Café Hot fica a 100m do monumento erguido em homenagem a ele e à
escritora Zélia Gattai. Só faltou Tereza Batista, a cansada de guerra, liderar
uma greve do balaio fechado – o protesto das prostitutas, quando o governo
queria levar os bordéis para locais degradados, no livro de 1972.
O Café Hot, na verdade, era uma
casa de strip tease que veio a ser instalada na nova orla, entregue reformada
no mês passado. Diante disso, parte dos moradores e comerciantes da área se
posicionou de forma contrária à chegada dos novos vizinhos, como adiantou a
coluna Satélite, assinada por Jairo Costa Jr., publicada ontem.
“O Rio Vermelho não comporta uma
praça de prostituição, pelo amor de Deus. Que até tenha, mas lá embaixo, na
orla. Você abre uma agora e, daqui a pouco, com tanta casa ali pra alugar, vira
um antro de prostituição. Enquanto a gente puder, vai acabar com isso”, chiou o
presidente da Associação de Moradores e Amigos do Rio Vermelho (Amarv), Lauro
Matta.
A interdição se deu pelo fato de
a casa desenvolver atividade comercial “em desacordo com o alvará de
funcionamento”, segundo a Sucom. Ou seja: pelo alvará, ele tinha autorização
para funcionar só como bar ou estabelecimento especializado em servir bebidas.
Panfletos
A prefeitura foi acionada pela
Prefeitura-Bairro da Barra/Pituba, após queixas de moradores, e pelo vereador
Cláudio Tinoco (DEM), que fez uma denúncia na segunda-feira.
Segundo a vizinhança, foi a
própria casa que entregou que estava fazendo algo diferente do combinado:
panfletos anunciando “shows de strip tease” diários, com “lindas garotas” em um
“ambiente climatizado” eram distribuídos na rua. “Para cada atividade, tem que
ter uma licença específica. Nesse caso, tinha uma inconsistência. Ele (o
proprietário) poderia ter o alvará de uma casa noturna, uma boate, uma
danceteria”, explicou o titular da Sucom, Sílvio Pinheiro.
O subprefeito Raimundo Pereira
também enfatiza que a ação visou apenas a questão legal. “Se não pode, não
pode”, resumiu. Para ele e para o vereador Tinoco, o bairro não precisa de uma
casa de strip tease. “O Rio Vermelho já tem uma atividade de entretenimento que
atrai muitas tribos e tudo isso acontece bem lá”, diz Tinoco.
Gerente financeira do Bar Rio
Vermelho, Telma Santos contou que o burburinho foi intenso nos últimos dias, e
disse ter ouvido muitas reclamações. “O Rio Vermelho é um bairro familiar,
tradicional e fica sendo mal visto”, discursou.
Qual o problema?
Por outro lado, há quem não veja
sentido na polêmica. “Vai quem quer, né? A gente tem que respeitar os outros,
porque não está sendo feito na rua”, defendeu a professora e moradora Zélia Valu, 79. Um vizinho dela
concordou. “Essa é uma questão de moralismo que não tenho nada com isso, desde
que seja feito entre quatro paredes”, disse o morador e comerciante de 68 anos,
sem se identificar.
Houve até debates em via pública,
como o travado entre a dona de casa Neuza Matos Silva, 68, e a baiana de
acarajé Érica Cruz, 27. “Por que fechar essa (casa) que não dava problema
nenhum?”, perguntou Dona Neuza. “Aqui não é lugar para isso. A proposta aqui é
outra”, delimitou a neta da quituteira Dinha. “E o hotelzinho do lado é o quê?
As pessoas vão fazer a mesma coisa”, apontou a mais experiente.
Fiscal da Sucom coloca placa para
indicar interdição de casa noturna. Espaço tinha alvará para funcionar como
bar, mas abrigava shows de strip tease (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
O presidente do Grupo Gay da
Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira, também reprovou o fechamento. “Existem pessoas
que vivem disso e essas pessoas têm contas para pagar”, destacou Cerqueira, que
prega “orientação e, não, repressão”.
CORREIO esteve no local duas
vezes, ontem, mas não encontrou ninguém. Também tentou contato em seis números
de telefone diferentes – só em uma das vezes alguém atendeu, disse que daria
entrevista em certo horário, mas depois não atendeu às ligações.
Segundo a Sucom, o proprietário
pode recorrer da decisão – mas precisa provar que irá gerenciar um bar. Se
quiser mudar o tipo de serviço, terá de dar entrada em novo alvará. Porém,
segundo o órgão, será preciso avaliar se a atividade proposta é compatível com
o local.
Fonte: http://www.correio24horas.com.br/
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