Para alguns homens, estar com uma
prostituta dá sensação de alívio por não ser avaliado
Em tempos nos quais o sexo casual
é cada vez mais comum, por que há homens que preferem pagar por sexo? Para o
consultor financeiro Ricardo*, 29, de Santo André (SP), a objetividade desse
tipo de relacionamento é ótima para quem, como ele, não quer se envolver
seriamente com ninguém.
Por Heloísa Noronha
"Namorar dá trabalho. Exige
energia, fins de semana previamente comprometidos e uma série de rituais como
ligar, mandar mensagens ou se lembrar de datas especiais... Fora o fato de ter
de lidar com os pais da menina, crises de ciúme e outras chatices. A relação
com uma garota de programa é bem mais simples. Saio com uma fixa a cada 15 ou
20 dias e para mim está ótimo", fala.
Para Letícia Cardoso Barreto,
mestre em psicologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e doutora
em ciências humanas pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), por
mais que o sexo casual tenha se tornado corriqueiro, o profissionalismo das
prostitutas se mantém atrativo.
"Elas têm técnicas e
conhecimentos que as separam das mulheres em geral. Muitas vezes, são buscadas
pela capacidade de desempenhar uma prática ou fazê-la de forma mais prazerosa
ou diferente", diz Letícia.
A educação repressora em relação
ao sexo também está por trás da preferência de alguns homens, como atesta o
redator publicitário Mário*, 31. "Curto alguns estímulos que não tenho
coragem de pedir para qualquer garota, pois temo ser julgado. Uma garota de
programa faz o que quero sem drama", fala.
A motivação apontada por Mário é
mais comum do que se imagina. Segundo Thaddeus Gregory Blanchette, docente de
antropologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador do
Observatório da Prostituição, projeto de extensão do Laboratório de Etnografia
Metropolitana do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da instituição,
muitos homens não se sentem à vontade para compartilharem fantasias sexuais com
namoradas ou mulheres ou não conseguem encontrar quem tope realizá-las.
"Eles não querem arriscar
serem rejeitados, o que dificilmente acontecerá combinando previamente com uma
prostituta", declara Blanchette.
Sem vínculo, pudores ou julgamentos
Para a psicoterapeuta Suzana
Modesto Duclos, professora fundadora do curso de psicologia da UFSC e diretora
e supervisora de psicodrama pela Febrap (Federação Brasileira de Psicodrama), a
facilidade de acesso ao sexo sem qualquer tipo de vínculo afetivo oferecido
pelas prostitutas é um chamariz importante.
"Há uma pseudoproteção nessa
prática. O homem contrata serviços para um objetivo específico, com começo,
meio e fim. Por outro lado, a garota de programa entra em cena para cumprir
determinada tarefa com um roteiro de desempenho", afirma Suzana. Portanto,
ficam ambos livres de terem de estabelecer vínculos afetivos.
A crescente liberação sexual
feminina também influencia nesse cenário. Com as mulheres falando o que querem
ou não na cama, os homens passaram a se preocupar não só com o próprio prazer,
mas também com o da parceira. Nesse cenário, alguns temem ser julgados e
comparados a outros parceiros sexuais.
"Estar com uma prostituta
proporciona a sensação de alívio de não ser avaliado antes, durante e depois na
relação sexual. Trata-se de uma mulher que o exime de qualquer responsabilidade
de satisfação, deixando-o livre para fazer o que deseja. Não há cobrança de
desempenho", declara Carla Ribeiro, psicóloga clínica e hospitalar
especialista em saúde masculina, do Rio de Janeiro.
Poder e dinheiro
Segundo um estudo realizado pela
Universidade de Vigo, na Espanha, em 2011, o que motiva o homem a sair com
prostitutas é o desejo de fortalecer seu papel dominante. Ele acaba
identificando o hábito como uma necessidade social.
"Sair com prostitutas
reafirma uma determinada masculinidade e se constitui na troca explícita de uma
relação sexual por um bem material", declara a cientista social Leina
Peres Rodrigues, formada em ciências sociais pela UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul), onde apresentou a monografia de conclusão de curso "Coisa
de Homem, um Estudo sobre Construção de Masculinidades com Homens Clientes de
Prostitutas), e mestre em ciência sociais pela PUC (Pontifícia Universidade
Católica) do Rio Grande do Sul.
E esse "bem material"
não está somente ao alcance dos endinheirados da elite. Segundo alguns homens
mais jovens, pagar cerca de R$ 300, em média, por um programa, pode sair bem
mais em conta do que apostar no sexo casual.
"Ir para a balada para
conhecer mulheres, oferecer e pagar drinques e depois propor um motel sai muito
mais caro do que isso", conta o vendedor Rômulo*, 30, de Niterói (RJ).
"E sem contar que nem sempre
dá certo. Com a prostituta, o dinheiro é sempre bem gasto e a satisfação
garantida", fala Murilo*, 29, concordando com o amigo.
* Nomes trocados a pedido dos
entrevistados.
Fonte: http://mulher.uol.com.br/
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