quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

"Perdoem muito, os que condenam sempre fazem como o diabo"

“O confessionário é para perdoar e se tu não podes dar a absolvição, faço esta hipótese e, por favor, não chicoteá-los. Aquele que vem, vem buscar fortaleza, perdão, paz. Que ele encontre um padre que o abrace e lhe diga ‘Deus te quer’ e que lhe faça sentir isso”. 

O Papa Francisco começou quase com voz baixa a homilia para a missa que celebrou frente aos frades menores capuchinhos. A poucos metros de distância encontravam-se as relíquias do Padre Pio e de Leopoldo Mandic, dos santos capuchinhos, dois grandes confessores.

Depois de ter citado a atitude de mesquinhez descrita no Evangelho de hoje, uma das comparações entre Jesus e os doutores da lei para quem “tudo era preciso, deixavam a um lado a lei para fazer suas pequenas tradições”, o Papa recordou que “sua tradição de capuchinhos é uma tradição de perdão”.

“Hoje – continuou o Papa, - citando o personagem da novela de Manzoni, - há muitos ‘bons confessores, e é porque se sentem pecadores como nosso frade Cristóforo, sabem que são grandes pecadores. Frente à grandeza de Deus pedem: escuta e perdoa. Como sabem rezar, assim sabem perdoar’. Em troca, quando alguém se esquece da necessidade do perdão, lentamente se olvida de Deus e se olvida de pedir perdão e não sabe perdoar. O humilde que se sente pecador é um ‘perdoador’ no confessionário. O outro, como estes doutores da lei, somente sabe condenar”.


“Eu lhes falo como irmão – continuou o Papa Bergoglio – e em vocês quisera falar a todos os confessores. O confessionário é para perdoar e, se tu não podes dar a absolvição, faço esta hipótese, por favor, não dar-lhes bastonadas. Aquele que vem, vem buscar fortaleza, perdão, paz. Que ele encontre um padre que abrace e lhe diga ‘Deus te quer’ e que lhe faça sentir isso. Sinto dizê-lo: quanta gente diz ‘eu não vou mais confessar-me porque uma vez me fizeram todas estas perguntas’.’ E, insistindo em que os capuchinhos têm “esta missão especial de perdoar”, Francisco os convidou a não se cansar nunca de perdoar.

E contou uma anedota já conhecida de um frade capuchinho que conheceu em Buenos Aires: “um homem capuchinho de governo, superior, depois dos 70 anos foi enviado a um santuário a perdoar e este homem tinha uma grande fila de gente para confessar. Era um grande perdoador. Sempre encontrava o modo de perdoar ou de pelo menos deixar em paz o coração. Uma vez ele me disse: “Vós sois bispo e eu penso que perdoo demasiado”.

E lhe perguntei: “O que fazes quando te sentes assim?” E ele me disse: “Vou diante do tabernáculo e lhe digo: “Senhor, hoje perdoei demasiado, mas foste Tu que me deste o mau exemplo”. “Sejam homens de perdão, de reconciliação, de paz – continuou o Pontífice- Existem muitas linguagens na vida, existe a da palavra, mas também a dos gestos. Se uma pessoa se aproxima de mim no confessionário é porque sente algo que lhe pesa, que quer tirar de cima dela, talvez não saiba como dizê-lo, mas o gesto é este. Quisera mudar, ser outra pessoa e o diz com o gesto de aproximar-se. Não é necessário fazer perguntas: ‘Mas tu? Mas tu?’ Se uma pessoa vem é porque em sua alma não quer mais fazê-lo. Porém tantas vezes as pessoas não podem porque está condicionada por sua vida, sua psicologia, sua situação. ‘Ad impossibilia nemo tenetur’ (ninguém está obrigado a fazer coisas impossíveis, ndr.).

E o Papa aconselhou que “É preciso ter um coração amplo e dar o perdão. É uma semente, uma carícia de Deus”. “Vocês têm este carisma do perdão, retomem-no. É preciso renová-lo sempre. Sejam grandes perdoadores. Porque, quem não sabe perdoar, é um grande condenador. É quem é o grande acusador na Bíblia é o diabo. Em troca, Jesus teve tantas horas de oração e de escutar o povo como são Pio e São Leopoldo Mandic, aqui. Isto, que digo a vocês – concluiu -, eu o digo a todos os confessores. Se não sabem fazê-lo bem, que façam outra coisa. Peçam esta graça, eu a peço para vocês, para todos os confessores, também por mim”.

Fonte: Ihu

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