sábado, 13 de fevereiro de 2016

Merendeiras da periferia de SP vão ao Senegal dividir experiências sobre alimentação escolar

Merendeiras Maria Aparecida e Claudia de Jesus Silva durante atividade em Dacar

Ainda é São Paulo capital, mas Parelheiros — a cerca de 40 quilômetros da praça da Sé — assemelha-se a uma cidade do interior. Em vez de prédios, congestionamento e poluição, o bairro tem vegetação nativa, nascentes e uma importante produção familiar de alimentos. Distante do centro e com poucas opções de transporte público, é também uma das regiões mais pobres da cidade, onde o rendimento médio mensal é de R$ 888,32 por pessoa, segundo dados do IBGE.


No coração de Parelheiros, no final da rua Cinco, sem saída, está a escola de onde saíram as vencedoras do concurso “Educação Além do Prato”, realizado pela Prefeitura de São Paulo, que premiou as melhores receitas apresentadas pelas escolas da rede municipal. Juntas, a merendeira Maria Aparecida Gomes Martins e a professora Sonia Maruso Ribeiro cruzaram o Atlântico para apresentar, a convite da ONU, a receita vencedora de arroz colorido (veja a receita no fina da reportagem) em Dacar, capital do Senegal, durante o Encontro Regional da África Ocidental sobre Segurança Alimentar.
A ideia do concurso surgiu no DAE (Departamento de Alimentação Escolar) como uma tentativa de aproximar a comunidade escolar do debate em torno da necessidade de uma alimentação saudável. No total, 292 escolas — desde creches até EJAs (Educação de Jovens e Adultos) e escolas indígenas — participaram da disputa e foram oferecidos três níveis de premiação: viagem ao Senegal (1º lugar), viagem a Brasília (2º lugar) e jantar em um renomado restaurante de comida brasileira (3º lugar).
Prêmio outorgado às escolas vencedoras| Foto: Vanessa Martina Silva

Além de Maria Aparecida e Sonia da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Recanto Campo Belo - Professora Dirce Zillesg Borges, as vencedoras do CEI (Centro de Educação Infantil) Penha Bom Jesus — a merendeira Claudia de Jesus Silva e a pedagoga pós-graduada em educação infantil e cultura Vivian Brandão Polli — também participaram da viagem a Dacar.
No que se refere à alimentação escolar, o Brasil é uma referência mundial, sobretudo no continente africano, que está buscando implementar modelos para melhorar a oferta de alimentos. Por essa razão, a ONU convidou as vencedoras do programa para expor suas experiências para ministros de Educação de 27 países da África Ocidental reunidos em Dacar entre 8 e 12 de junho.
Sobre a apresentação, Maria Aparecida lembra que foi uma experiência "muito boa". "Ouvimos muita coisa e a nossa apresentação… alguns choraram quando falamos que aqui as crianças fazem três refeições por dia. Lá eles comem uma ou duas vezes só."
Já Sonia ressalta que “alguns países já têm políticas públicas formuladas e estão implantando a alimentação escolar. Outros ainda dão um voucher para que as famílias comprem alimentos. Com nossa experiência, procuramos dar esperança e eles já começaram a se organizar em rede. Isso é importante”.



Crianças participaram de oficinas culinárias, confecção de jogos e conscientização para evitar desperdício de alimentos
Após o evento, em 12 de junho, 21 países aprovaram a criação de uma Rede Africana de Alimentação Escolar, cujo objetivo é estimular e aprimorar as políticas de alimentação escolar e o aumento do orçamento dos países destinados a esse fim.
Senegal
Participar do projeto foi fácil. Difícil foi convencer Maria Aparecida, que trabalha há 12 anos na Emei Recanto Campo Belo, a receber o prêmio. "Eu não queria ir. Era longe e eu estava morrendo de medo, nunca tinha andado de avião”, conta. Mas, o incentivo das outras merendeiras, das professoras e direção da escola a fez mudar de ideia.




Em Senegal, mães se revezam durante a semana para preparar a alimentação das crianças

Para a pedagoga, especialista em educação infantil e pós-graduada em docência superior Sonia, a questão não era o avião, nem o medo da viagem, mas o ceticismo. “Só caiu a ficha que eu iria no dia que eu estava no aeroporto. Até então era algo que eu não conseguia sentir”, disse.


Fonte: Opera Mundi

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