Merendeiras Maria Aparecida e
Claudia de Jesus Silva durante atividade em Dacar
Ainda é São Paulo capital, mas
Parelheiros — a cerca de 40 quilômetros da praça da Sé — assemelha-se a uma
cidade do interior. Em vez de prédios, congestionamento e poluição, o bairro
tem vegetação nativa, nascentes e uma importante produção familiar de
alimentos. Distante do centro e com poucas opções de transporte público, é
também uma das regiões mais pobres da cidade, onde o rendimento médio mensal é
de R$ 888,32 por pessoa, segundo dados do IBGE.
No coração de Parelheiros, no
final da rua Cinco, sem saída, está a escola de onde saíram as vencedoras do
concurso “Educação Além do Prato”, realizado pela Prefeitura de São Paulo, que
premiou as melhores receitas apresentadas pelas escolas da rede municipal.
Juntas, a merendeira Maria Aparecida Gomes Martins e a professora Sonia Maruso
Ribeiro cruzaram o Atlântico para apresentar, a convite da ONU, a receita
vencedora de arroz colorido (veja a receita no fina da reportagem) em Dacar,
capital do Senegal, durante o Encontro Regional da África Ocidental sobre
Segurança Alimentar.
A ideia do concurso surgiu no DAE
(Departamento de Alimentação Escolar) como uma tentativa de aproximar a
comunidade escolar do debate em torno da necessidade de uma alimentação
saudável. No total, 292 escolas — desde creches até EJAs (Educação de Jovens e
Adultos) e escolas indígenas — participaram da disputa e foram oferecidos três
níveis de premiação: viagem ao Senegal (1º lugar), viagem a Brasília (2º lugar)
e jantar em um renomado restaurante de comida brasileira (3º lugar).
Prêmio outorgado às escolas
vencedoras| Foto: Vanessa Martina Silva
Além de Maria Aparecida e Sonia
da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Recanto Campo Belo - Professora
Dirce Zillesg Borges, as vencedoras do CEI (Centro de Educação Infantil) Penha
Bom Jesus — a merendeira Claudia de Jesus Silva e a pedagoga pós-graduada em
educação infantil e cultura Vivian Brandão Polli — também participaram da
viagem a Dacar.
No que se refere à alimentação
escolar, o Brasil é uma referência mundial, sobretudo no continente africano,
que está buscando implementar modelos para melhorar a oferta de alimentos. Por
essa razão, a ONU convidou as vencedoras do programa para expor suas
experiências para ministros de Educação de 27 países da África Ocidental
reunidos em Dacar entre 8 e 12 de junho.
Sobre a apresentação, Maria
Aparecida lembra que foi uma experiência "muito boa". "Ouvimos
muita coisa e a nossa apresentação… alguns choraram quando falamos que aqui as
crianças fazem três refeições por dia. Lá eles comem uma ou duas vezes
só."
Já Sonia ressalta que “alguns
países já têm políticas públicas formuladas e estão implantando a alimentação
escolar. Outros ainda dão um voucher para que as famílias comprem alimentos.
Com nossa experiência, procuramos dar esperança e eles já começaram a se
organizar em rede. Isso é importante”.
Crianças participaram de oficinas
culinárias, confecção de jogos e conscientização para evitar desperdício de
alimentos
Após o evento, em 12 de junho, 21
países aprovaram a criação de uma Rede Africana de Alimentação Escolar, cujo
objetivo é estimular e aprimorar as políticas de alimentação escolar e o
aumento do orçamento dos países destinados a esse fim.
Senegal
Participar do projeto foi fácil.
Difícil foi convencer Maria Aparecida, que trabalha há 12 anos na Emei Recanto
Campo Belo, a receber o prêmio. "Eu não queria ir. Era longe e eu estava
morrendo de medo, nunca tinha andado de avião”, conta. Mas, o incentivo das
outras merendeiras, das professoras e direção da escola a fez mudar de ideia.
Em Senegal, mães se revezam
durante a semana para preparar a alimentação das crianças
Para a pedagoga, especialista em
educação infantil e pós-graduada em docência superior Sonia, a questão não era
o avião, nem o medo da viagem, mas o ceticismo. “Só caiu a ficha que eu iria no
dia que eu estava no aeroporto. Até então era algo que eu não conseguia
sentir”, disse.
Fonte: Opera Mundi
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