Apesar de muita gente achar
estranho ou ainda tratar como brincadeira, os robôs sexuais já são uma
realidade e estão entre nós. Ou pelo menos entre os poucos entusiastas dessa
tecnologia que já abraçaram uma tendência que, segundo analistas, é o futuro.
Por http://canaltech.com.br
A gente já comentou sobre esse
assunto antes, mostrando o quanto as empresas especializadas nessa nova geração
de "bonecas infláveis" está se dedicando a fazer produtos cada vez
mais realistas. É claro que muita gente vai torcer o nariz para esse tipo de
coisa, mas não podemos dar as costas para a tecnologia e as possibilidades que
ela oferece — por mais bizarra que às vezes ela seja. Prova disso é que esses
brinquedos de luxo não só estão ganhando cada vez mais espaço no mercado do
prazer como ainda trouxeram à tona uma série de questões relacionadas à
indústria do sexo.
Afinal, como essa nova linha de
produtos vai impactar uma série de outros segmentos, incluindo a prostituição?
De novo: não é piada. O mercado do sexo é algo que movimenta milhões e milhões
de dólares todos os anos, seja com pornografia, estabelecimentos dedicados,
produtos para fins sexuais e até mesmo prostituição. Se a chegada desses robôs
for tão impactante na vida das pessoas como muitos especialistas preveem, pode
ser que tenhamos uma reviravolta imensa na forma como vemos e consumimos tudo
isso — e em alguns conceitos bem antigos.
Uma quebra de paradigma
O consultor britânico em
tecnologia Ian Pearson divulgou um estudo chamado "O Futuro do Sexo: O
Surgimento dos Robossexuais", um artigo no qual destaca exatamente a
tendência das pessoas se apaixonarem por robôs e inteligências artificiais,
chegando até mesmo ao sexo em si. Nessa pesquisa, ele aponta que o sexo com
robôs é algo que deixará de ser tabu ao longo das próximas décadas,
principalmente com a expansão da Internet das Coisas e a chegada de tecnologias
que vão permitir que as pessoas conectem seus sistemas nervosos ao sistema das
máquinas. Desse modo, ele afirma que vai ser comum que as pessoas tenham um
robô em suas casas para satisfazê-las sexualmente, o que faria dele apenas um
acessório.
Assim, a distinção entre amor e
sexo ficaria mais distinta e os casais não veriam o uso desses bonecos como
traição, já que o seu uso seria socialmente aceito. Afinal, você não sente
ciúmes de um vibrador, então não precisaria terminar um relacionamento por
causa de uma máquina que faz exatamente a mesma coisa. Só que esse cenário
quase inocente pode trazer consequências enormes para outros setores da
indústria do sexo. Ao mesmo tempo em que as fabricantes desses robôs vão lucrar
milhões, o mercado de prostituição pode receber um enorme baque. Afinal, por
que as pessoas vão procurar as profissionais do sexo quando podem encontrar
esse prazer em casa? À primeira vista, essa é uma preocupação que não parece
ter sentido, mas não é preciso ir muito longe para entender a preocupação
existente em torno da chamada profissão mais antiga do mundo.
É claro que comprar um robô vai
ser muito mais caro que contratar uma prostituta, mas sempre há aquele que vai
pensar na aquisição como um investimento. Ao invés de sair com dez meninas ao
longo do ano, ele pode guardar seu dinheiro e comprar uma boneca sexual para
satisfazê-lo por muito mais tempo. Além disso, há toda a questão da segurança.
De uso individual, um robô não corre o risco de transmitir uma doença por meio
do sexo, o que já é uma enorme vantagem nessa disputa. Além disso, os pontos de
prostituição são quase sempre marginais, em áreas não muito seguras das grandes
cidades. Assim, é fácil imaginar que muitas pessoas podem preferir o conforto e
a segurança da sua casa do que se arriscar em áreas pouco convidativas. Isso
sem falar que um robô jamais vai questionar suas fantasias, por mais estranhas
que elas sejam. É claro que as prostitutas sempre vão ter o fator humano a seu
favor. Fazer sexo com uma pessoa de verdade é muito diferente de fazer isso com
um pedaço de plástico, borracha e seja lá qual for o material usado na
fabricação dessas peças.
Contudo, as fabricantes desses
robôs já estão investindo pesado em maneiras de simular essa
"humanidade" durante as relações sexuais, seja fazendo expressões
faciais diferentes para cada tipo de ação feita ou mesmo explorando as
possibilidades da inteligência artificial. O que nos impede daqui a 30 anos ter
uma IA evoluída a ponto de realmente simular o comportamento de uma pessoa
durante o sexo? Isso pode fazer com que a relação entre prostitutas e robôs
possa caminhar para algo bem próximo do que temos hoje entre taxistas e o Uber:
uma mudança radical na forma como as pessoas consomem um tipo de serviço,
criando uma alteração tão grande que vai afetar quem trabalha à moda antiga.
A diferença é que, neste caso, há
uma série de fatores que favorecem as máquinas, o que torna essa disputa ainda
mais complicada para as profissionais do sexo.
Uma ameaça mais próxima
Se os
robôs parecem uma ameaça distante e futurista demais, o mercado de prostituição
encara uma ameaça um pouco mais atual: a realidade virtual. Já falamos diversas
vezes como a indústria pornográfica é de vanguarda e de seus esforços para
lançar conteúdos imersivos para que o público aproveite os óculos para aumentar
seus momentos de prazer. É claro que isso não é nenhum tipo de risco a quem
oferece sexo, mas pode ser apenas uma questão de tempo para que as coisas
mudem.
Como dito antes, a previsão de
alguns pesquisadores é que a tecnologia consiga encontrar maneiras de conectar
o sistema nervoso humano à própria internet ou algo muito próximo disso. Assim
como "Emanuelle no Espaço" já previu, essa ligação pode revolucionar
a indústria do sexo. Afinal, se a realidade virtual já vai fazer com que você
se sinta dentro daquele vídeo, esse salto tecnológico adiciona as sensações à equação.
E as sensações são a base do prazer e, portanto, de tudo o que a indústria do
sexo tem a oferecer.
Assim, se essa previsão realmente
se concretizar, ver um filme pornô ganha novas dimensões. Mais uma vez, por que
gastar dinheiro com prostituição quando você pode ter toda a experiência de
fazer sexo com qualquer atriz de filmes adultos que você quiser? O desenvolvimento dessa tecnologia neural
ainda está dando seus primeiros passos e pode ser que demore mais alguns bons
anos para que algo assim aconteça, mas já é possível ver alguns conceitos que
caminham nessa direção. Já há uma série de acessórios sexuais que são
conectados à internet e respondem a estímulos diversos. O Ohmibody, por
exemplo, vibra de acordo com o som emitido pelo computador e a empresa
holandesa Kiiroo está criando equipamentos que simulam o toque de outra pessoa,
mesmo que ela esteja a quilômetros de distância. E se é possível fazer com que o toque seja
transmitido pela rede, levar isso para filmes não é nenhum grande desafio.
Na verdade, pode até ser mais
simples, já que os comandos são pré-definidos e podem ser configurados pelo
criador de conteúdo. Em outras palavras, essa é uma tecnologia que pode se
tornar real muito em breve. São tantas promessas de mudanças que algumas empresas
do ramo do entretenimento e serviços para adultos já estão preocupadas. O
Sheri's Ranch é um tradicional clube de strip próximo a Las Vegas que já está
pensando em como esses novos conceitos podem afetar seus negócios. Em
entrevista ao site CNET, um de seus porta-vozes diz que se os simuladores de
sensações chegarem mesmo à realidade virtual, isso vai afetar de verdade os
negócios. E não é nenhum exagero, visto que a tecnologia já mexeu no rendimento
desse tipo de estabelecimento outras vezes ao longo das últimas décadas. O CNET
aponta uma pesquisa feita pelo The Kinsey Institute que revelou que 69% dos
homens dos Estados Unidos tiveram a sua primeira experiência sexual com
prostitutas em 1948. Já na década de 90, esse número caiu para menos de 15%. E a
culpada foi a pornografia fácil na internet.
O acesso simplificado ao mundo
pornô fez com que a demanda por prostitutas caísse drasticamente no país.
Afinal, por que um jovem ia se arriscar para contratar uma cortesã se poderia
ver uma mulher nua por muito menos dinheiro e sem correr o risco de ser
descoberto por seus pais? Não por acaso, o estado americano de Nevada, onde a
prostituição é legalizada, viu quase metade de todos os seus bordéis fecharem
as portas ao longo dos últimos 20 anos. Assim, de uma das capitais do sexo nos
EUA, o estado passou a ter apenas 17 estabelecimentos do gênero. Ainda assim,
há quem não veja problema nesse fantasma brochante da tecnologia. Uma das
responsáveis pelo Sheri's Ranch, identificada apenas como Dena, diz que os negócios
vão muito bem no clube e que, em 2015, o faturamento foi o melhor da última
década. E, mais do que isso, ela diz não acreditar que as pessoas vão preferir
um par de óculos a um belo par de pernas e todas as sensações únicas que o sexo
de verdade oferece. "Pelo menos por agora", ressalta. E nem mesmo as
próprias prostitutas parecem se preocupar com isso. Segundo Alissa, uma das
garotas do Sheri's Ranch, ela não se sente ameaçada pela realidade virtual e
nem por esses simuladores de sensações. Para ela, a tecnologia ainda pode ser
alvo de muitos problemas e depende de energia para funcionar. Afinal, o que
fazer quando você estiver na vontade e não tiver uma conexão ou uma tomada por
perto? Bem, talvez ela ou uma colega de profissão estejam ali por perto para
lembrá-lo de que o mundo offline ainda existe e que dificilmente vai ser
substituído.
Robôs e pedofilia
Voltando aos robôs, a questão trouxe à tona
outro debate, desta vez bem mais delicado. Uma empresa japonesa passou a
fabricar bonecas para fins sexuais com a imagem de crianças. E era óbvio que
isso não foi bem visto por ninguém. Segundo a Trottla, responsável pelo
produto, a ideia é oferecer uma réplica ultrarrealista de meninas para que
potenciais pedófilos possam direcionar suas ações ao robô e não à criança de
verdade. Para o criador da proposta, Shin Takagi, essa é uma maneira de fazer
com que pessoas que tenham esse tipo de fetiche expressem isso dentro dos
limites da lei. Por mais que o argumento dele esteja de acordo com o que a
Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) —
que descreve como um transtorno de personalidade e não um crime, algo que é
feito pelo abusador —, não há como negar que se trata de algo de muito mau
gosto. Por mais que Takagi diga que seu produto é para ajudar pessoas doentes a
não cometerem esse tipo de violência, ele logo foi bombardeado por críticas de
pessoas que não veem essa proposta com os mesmos olhos. Isso não quer dizer que
a tecnologia vai legalizar ou tornar a pedofilia aceitável — não ao menos
enquanto violência —, mas esse caso mostra bem o quanto as coisas tendem a
ficar mais delicadas daqui para frente. Não se trata apenas de oferecer uma
nova forma de prazer ou quebrar o mercado de prostituição, mas de fazer a
sociedade repensar o sexo. A pornografia já quebrou muitos tabus, mas é bem
possível que a realidade virtual, simuladores de sensações e os robôs mudem
isso de maneira muito mais radical. E é quase impossível ficar alheio a isso,
queira você ou não. Via: CNET, The Atlantic, Folha de São Paulo
Matéria completa:
http://canaltech.com.br/materia/robo/como-os-robos-e-a-realidade-virtual-vao-afetar-a-prostituicao-e-o-mundo-do-sexo-57609/
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